Por Gabriel Castro, na VEJA Online:
O senador Humberto Costa (PT-PE), relator da representação contra o Demóstenes Torres (sem partido-GO) no Conselho de Ética, apresentou parecer favorável à abertura de processo disciplinar contra o colega por quebra de decoro parlamentar. O petista baseia sua posição em seis pontos que demonstrariam a culpa do ex-integrante do DEM.
Três
deles dizem respeito à conduta do senador: Demóstenes sabia das
atividades criminosas do contraventor Carlinhos Cachoeira, atuou em
defesa dos interesses da quadrilha no Congresso e quebrou novamente o
decoro ao mentir em plenário, quando disse que não sabia da ligação de
Cachoeira com o crime.
Outros
três itens dizem respeito ao recebimento de vantagens indevidas:
Demóstenes ganhou do contraventor um presente de casamento no valor de
30 000 reais, recebeu de Cachoeira um aparelho Nextel
habilitado no exterior e ainda utilizou uma aeronave providenciada pelo
contraventor. Humberto Costa lembrou que, para a admissibilidade do
processo, são necessários apenas indícios. “O próprio representado
constrói o norte da admissibilidade desta representação, ao solicitar,
no mérito, a produção de diversas provas que, a toda evidência, só podem
ser realizadas no curso do processo disciplinar”, diz ele.
Humberto
Costa fez um histórico da atuação do parlamentar e resgatou discursos
de Demóstenes para mostrar como ele usou o mandato para defender a
legalização do jogo no Brasil: “O senador Demóstenes Torres,
diferentemente do que ora afirma, possui posição favorável à legalização
dos jogos de azar. Não se trata de conjecturas ou interpretações, é o
que está literalmente escrito”.
Preliminares
Além de dar sinal verde, no mérito, para as acusações contra o senador goiano, Humberto Costa também rejeitou pedidos preliminares apresentados pela defesa de Demóstenes, que pedia o arquivamento do processo e alegava que as provas da operação Monte Carlo contra ele são ilegais. “Os pedidos preliminares de suspensão do processo formulados pelo requerido (…) são manifestamente incabíveis”, diz o parecer do petista. “Intencionalmente não usei as matérias jornalísticas e o conteúdo de gravação de processos que cursam sob segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal, para que ninguém viesse questionar o relatório”, afirmou Costa.
O
petista, entretanto, usa um artifício curioso para aproveitar em seu
relatório, objetos das escutas obtidas pela Polícia Federal e divulgadas
pelos meios de comunicação.
“Embora, como já anteriormente declarado,
este relatório não adote as matérias divulgadas na mídia como elementos
de comprovação de conduta - mesmo porque, também como já salientado,
não se está tratando de matéria de prova - não há como afastar o fato de
que a voz do senador é perfeitamente reconhecível nas conversações
trazidas a público”.
A
representação contra Demóstenes foi apresentada pelo PSOL, que pede a
cassação do parlamentar. O senador foi flagrado em ao menos 298
conversas telefônicas com Cachoeira. Nos diálogos, interceptados pela
Polícia Federal, ele atua como uma espécie de sócio da quadrilha
comandada pelo contraventor.
O
senador goiano não compareceu à reunião do Conselho de Ética nesta
quinta-feira. O advogado dele, Antonio Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, esteve presente e voltou a questionar a validade das gravações
que incriminam o senador: ele alega que elas exigiriam uma autorização
do Supremo Tribunal Federal, já que o parlamentar tem foro privilegiado.
“Entendo que se uma prova é ilegal, não pode ser usada em nenhuma
instância”, disse Kakay à imprensa.
Após a
leitura do relatório, o representante de Demóstenes também afirmou que o
voto de Humberto Costa extrapola os questionamentos apresentados pelo
PSOL e pediu um prazo extra para defesa antes da abertura do processo:
“Eu solicito que seja dado cinco dias de prazo para que eu possa me
manifestar sobre esse voto, que não trata do cerne da representação. Eu
jamais conversei com o senador sobre 80% desse voto que está aqui”,
disse Kakay.
O pedido foi negado pelo presidente do colegiado, Antonio
Carlos Valadares (PSB-SE). ´”É preciso distinguir com competência a
missão do poder Judiciário da missão do Conselho de Ética, e por isso
alguns preciosismos jurídicos podem ser dispensados”, concordou o
senador Alvaro Dias (PSDB-PR).
Rito
O parecer apresentado por Humberto Costa nesta quarta-feira é preliminar. Na próxima terça, o Conselho de Ética decidirá se acata a sugestão do relator. Só aí o processo de cassação estaria oficialmente aberto. Demóstenes teria um prazo de três dias úteis para apresentar sua defesa final (a defesa prévia foi entregue na semana passada), e depois o conselho daria a última palavra sobre o caso.
Se a
decisão for favorável à cassação, como tudo indica, o processo seguirá
para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Tanto no Conselho de
Ética quanto na comissão, a votação é aberta. Se aprovada na CCJ, a
matéria seguirá para o plenário, que decidirá o futuro de Demóstenes em votação secreta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário