Taques: a CPI padece de ‘complexo de vira-lata’
Membro
da CPI do Cachoeira, o senador Pedro Taques (PDT-MT) classificou de
“ridículos” os procedimentos impostos aos congressistas que desejam
analisar os documentos recebidos do STF. Numa referência aos colegas que
dividem o comando da CPI –o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) e o
relator Odair Cunha (PT-MG)—, Taques declarou:
“Alguns parlamentares parecem dotados do complexo de vira-lata”.
Inconformado com as regras baixadas sob o pretexto de resguardar o
sigilo dos dados, Taques insinuou que o objetivo seria limitar o avanço
das apurações: “Será que é temor de alguma coisa? Será que é o receio de
que apareçam os nomes de outras altas autoridades da República?”,
indagou, do alto da tribuna do Senado.
Assentada no subsolo do Senado, a sala em que se encontram os
documentos dos inquéritos do Cachoeiragate foi sitiada pelos mecanismos
de segurança. Câmeras vigiam o vaivém dos congressistas. A Polícia do
Senado monta guarda na porta. Só entra quem se dispõe a entregar os
celulares e a assinar um compromisso de preservar o “sigilo”. Cada
parlamentar não pode permanecer no recinto por mais de três horas.
“Não descerei naquela sala”, disse Taques em seu discurso. “Não vou
participar de história da carochinha, de brincadeira de criança. Não sou
como aqueles heróis de gibi, dotados de visão de raio-x. Isso é
ridículo. Três horas para que possa analisar os documentos. Só se os
parlamentares tivessem a visão fotográfica daquele personagem do filme
Rain Man, interpretado pelo Dustin Hoffman.”
Taques acrescentou: “Para exercer minha atribuição constitucional preciso ver os documentos, copiá-los. CPI não é favor.
Entendo que minha atribuição constitucional está sendo subtraída. CPI
não é favor. Aqui estamos a tratar de um dever fundamental de cada
parlamentar. O dever de investigar o envolvimento desse cidadão
apelidado de Cachoeira com autoridades da República. Não sou superdotado
para ler documentos e, munido de papel e caneta, chegar às conclusões
sobre as perguntas que tenho que fazer na CPI.”
Para Taques, as limitações impostas aos parlamentares são tão rículas
quanto uma eventual lei que se aprovasse no Congresso para proibir os
ministros do Supremo de analisar processos por mais de três horas e
impedi-los de tirar cópias dos autos.
“Devemos respeito as decisões do Supremo, mas essas decisões. Como as
nossas leis, são passíveis de crítica. Quando o STF declara a
inconstitucionalidade de uma lei não diminui o papel do Congresso. Está
apenas cumprindo seu papel constitucional. Do mesmo modo, nós temos de
cumprir as nossas responsabilidades.”
“Não participo de coisas dessa natureza”, reiterou Taques. “Expresso
meus respeitos ao senador Vital e ao relator Odair. Mas a Constituição
da República está acima desse tipo de atitude.”
Também o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foi à tribuna para
criticar o cerco aos documentos enviados à CPI pelo STF. Ele anunciou a
intenção de protocolar na CPI uma reclamaçãoo formal. Engtende as
restrições violam o artigo 58 da Constituição, que atribui às CPIs
poderes análogos aos de autoridades judiciais.
Para piorar a situaçãoo, Vital do Rêgo recebeu nesta segunda (7) um novo lote de papéis. Referem-se ao inquérito da Operação Monte Carlo, que corre na 11a Vara
Federal de Goiânia. O presidente da CPI apressou-se em informar que o
papelório será submetido às mesmas regras de segurança que irritam os
parlamentares.
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