sábado, 5 de maio de 2012

Toritama, Olinda, economia e política

Por Gustavo Maia Gomes

Há duas razões para Toritama e Olinda estarem juntas neste artigo: minhas recentes visitas a cada uma e o profundo contraste urbanístico que constatei existir entre elas. No caso de Olinda, as considerações que faço não se estendem além do sítio histórico.


TORITAMA


Estive em Toritama, “a Capital Brasileira do Jeans”, no Agreste pernambucano, por razões profissionais. Tenho boas notícias a dar. Ali, não existe desemprego: as costureiras ganham dois ou mais salários mínimos; as estilistas e os mecânicos faturam acima de R$ 15 mil por mês; os empresários investem em máquinas eletrônicas.


De modo geral, a produção vai bem. Existem, claro, problemas, ameaças, dificuldades, mas nada fora do normal. Os empresários reclamam, sobretudo, da escassez de mão de obra, qualificada e não-qualificada. Tipo da reclamação de quem está de barriga cheia. E ótima notícia para os trabalhadores.


Rodovia e produto. Todos estão satisfeitos com a duplicação da rodovia BR 104, que corta a cidade. A menos que um imprevisto ocorra, em breve, será possível ir e voltar ao Recife em metade do tempo hoje gasto.


Dentre os municípios com alguma importância no Estado, somente Ipojuca (leia-se, Suape) cresceu mais do que a capital do jeans, entre 2000 e 2009. Toritama teve desempenho ainda melhor que Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, as duas outras principais cidades do polo de confecções.


O crescimento econômico ajuda a todos, inclusive, à Prefeitura, que passa a poder contar com mais dinheiro. Se, efetivamente, a arrecadação aumenta, é outra história: isso depende da competência e seriedade do prefeito. E mais dinheiro no orçamento deveria significar ruas pavimentadas; coleta de lixo regular; segurança para todos, nos limites do município. Ou será que a Prefeitura não tem nada a ver com a segurança?


Lixo e lixão. A realidade, infelizmente, é outra. Quem passa por Toritama, vindo de Caruaru e em viagem para Santa Cruz do Capibaribe, encontra lixo na entrada e lixão na saída. Se percorrer a cidade, não irá ver nada muito melhor: sujeira generalizada, ruas sem pavimento, abandono total.


Sobre a segurança, uma pesquisa de imagens relacionadas à palavra “Toritama” rendeu, nas dez primeiras posições, seis diferentes pessoas assassinadas, uma quadrilha de bandidos presa e revólveres apreendidos com delinqüentes.






OLINDA


A Olinda fui pelo prazer de ir. E tive a satisfação de ver que o sítio histórico está “um brinco”. Ruas impecavelmente limpas; calçadas, todas, em condições de uso; casas, pintadas de novo. Em alguns trechos, o deprimente espetáculo dos fios pendurados em postes foi substituído pela discrição das redes elétricas subterrâneas. Intenso movimento de turistas, nenhum sinal de insegurança.




CONTRASTE


O contraste entre as duas cidades é flagrante. E a razão não está na quantidade de dinheiro de que cada prefeito dispõe. Embora Olinda (378 mil habitantes) tenha população dez vezes maior que Toritama, sua receita tributária é, proporcionalmente, menor. Em 2009, Toritama teve R$ 758 por habitante; Olinda, apenas R$ 632.


Talvez a explicação seja mais política do que financeira. Em 2008, o então prefeito de Toritama, José Marcelo Marques de Andrade e Silva, foi preso (e condenado, dois anos depois), sob a acusação de desviar verbas repassadas pelo Ministério da Saúde.


Contra o atual prefeito, não consta haver nenhuma acusação grave. Não consta, ou não constava. Pois deve haver alguma lei neste país dizendo ser crime quem foi eleito para cuidar da cidade não fazer absolutamente nada por ela, exceto conviver com a insegurança, cultivar o lixo, e alimentar o lixão.

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