Novas Secas, velhas soluções e nenhum diagnóstico.
Por Fernando Dias
Com o agravamento da nova seca no
Nordeste nos últimos meses, e a divulgação de números cada vez mais
dramáticos de perdas, toda a rede de assistência social e econômica
criada ao longo dos últimos séculos começa a funcionar e deverá como
antes minorar o problema e torná-lo passível de convivência pacífica.
Tudo como antes, nenhuma novidade. Excetuando-se o fato que a ajuda
agora é permanente e financeira para as famílias pobres, e não mais
temporária e em bens como era antes, não se fala em nada que já não se
tenha falado nos últimos 200 anos, incluso ai a transposição.
Quais
os resultados conseguidos? Pode-se dizer que a taxa de mortalidade
humana na seca nunca foi tão baixa, e que não existe mais a figura da
migração em massa. O nordestino hoje tem uma condição de subsistência
suficientemente alta no sertão para preferir a pobreza local que a
externa. Em termos de dividendos eleitorais, um sucesso retumbante. Em
termos de resultados econômicos, um fracasso secular.
Com efeito,
as notícias (econômicas) mais recentes sobre a seca são que a nova MP
irá renegociar R$ 1,5 bilhão em dívidas rurais, que o governo autorizou o
pagamento do Garantia-Safra, e que o trânsito de animais entre vários
estados da Região fica proibido por conta dos riscos de aftosa. Doenças
do século passado e ações para tratar o default dos agricultores com
perdão de dívidas pela n-ésima vez. Difícil acreditar que haja alguma
análise de crédito séria para estes empréstimos, difícil crer que o
default já não seja visto como normal pelo tomador.
Abrindo mão
de uma análise mais pormenorizada temos que a estratégia econômica
induzida para as áreas de seca é bem simples, o agricultor planta
qualquer coisa que for minimamente viável para uso comercial e/ou
subsistência e o Estado banca integralmente o financiamento e risco. O
que faltar vai na cota da Assistência Social. É a versão populista do
capitalismo sem risco que é tão bem conhecida dos empresários da Região e
dos que a ela se dirigem em busca de participar da festa.
Não me
parece ser possível afirmar que as perspectivas de longo prazo sugerem
mudanças significativas. Se a atual trajetória se mantiver talvez
observemos um movimento campo-cidade similar ao que se observou no
Sudeste na primeira metade do século XX. Apesar das centenas de estudos
sobre a economia Nordestina, não parece se vislumbrar alguma alternativa
que torne o semiárido efetivamente, e viavelmente, integrado a
economia. Talvez haja consolidado em altas esferas que a área é inviável
e que deve ser desocupada voluntariamente, a semelhança do Outback
australiano e dos desertos americanos. A única coisa que se pode afirmar
com certeza que muitos nordestinos ainda resistem, mas até quando é um
completo mistério.
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