quarta-feira, 13 de junho de 2012

Novas Secas, velhas soluções e nenhum diagnóstico.

Por Fernando Dias

Com o agravamento da nova seca no Nordeste nos últimos meses, e a divulgação de números cada vez mais dramáticos de perdas, toda a rede de assistência social e econômica criada ao longo dos últimos séculos começa a funcionar e deverá como antes minorar o problema e torná-lo passível de convivência pacífica. Tudo como antes, nenhuma novidade. Excetuando-se o fato que a ajuda agora é permanente e financeira para as famílias pobres, e não mais temporária e em bens como era antes, não se fala em nada que já não se tenha falado nos últimos 200 anos, incluso ai a transposição.

Quais os resultados conseguidos? Pode-se dizer que a taxa de mortalidade humana na seca nunca foi tão baixa, e que não existe mais a figura da migração em massa. O nordestino hoje tem uma condição de subsistência suficientemente alta no sertão para preferir a pobreza local que a externa. Em termos de dividendos eleitorais, um sucesso retumbante. Em termos de resultados econômicos, um fracasso secular.

Com efeito, as notícias (econômicas) mais recentes sobre a seca são que a nova MP irá renegociar R$ 1,5 bilhão em dívidas rurais, que o governo autorizou o pagamento do Garantia-Safra, e que o trânsito de animais entre vários estados da Região fica proibido por conta dos riscos de aftosa. Doenças do século passado e ações para tratar o default dos agricultores com perdão de dívidas pela n-ésima vez. Difícil acreditar que haja alguma análise de crédito séria para estes empréstimos, difícil crer que o default já não seja visto como normal pelo tomador.

Abrindo mão de uma análise mais pormenorizada temos que a estratégia econômica induzida para as áreas de seca é bem simples, o agricultor planta qualquer coisa que for minimamente viável para uso comercial e/ou subsistência e o Estado banca integralmente o financiamento e risco. O que faltar vai na cota da Assistência Social. É a versão populista do capitalismo sem risco que é tão bem conhecida dos empresários da Região e dos que a ela se dirigem em busca de participar da festa.

Não me parece ser possível afirmar que as perspectivas de longo prazo sugerem mudanças significativas. Se a atual trajetória se mantiver talvez observemos um movimento campo-cidade similar ao que se observou no Sudeste na primeira metade do século XX. Apesar das centenas de estudos sobre a economia Nordestina, não parece se vislumbrar alguma alternativa que torne o semiárido efetivamente, e viavelmente, integrado a economia. Talvez haja consolidado em altas esferas que a área é inviável e que deve ser desocupada voluntariamente, a semelhança do Outback australiano e dos desertos americanos. A única coisa que se pode afirmar com certeza que muitos nordestinos ainda resistem, mas até quando é um completo mistério.

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