segunda-feira, 4 de junho de 2012

Opção pela pobreza?

Por: Fernando Dias

A pobreza nordestina é um tema tratado pelos gestores de política pública no Brasil desde que este se tornou independente, ainda no início do século XIX. Inúmeros livros, tratados, teses, artigos e opiniões foram escritos e publicados desde então sem que, de fato, surgisse uma trajetória clara de política ou mesmo um padrão de crescimento endógeno que sugerisse, na mais tênue forma, uma solução. 

Apenas a título de exemplo, a atual transposição do São Francisco, que é a principal obra no sertão, começou a ser discutida em 1847. O Nordeste permanece hoje, passados os séculos, a região mais pobre, a que concentra o maior número de pobres e a que apresenta os maiores problemas sociais.

É claro que ao longo dos últimos 15, 20 anos vêm surgindo alguns alentos para a região na forma de crescimento induzido por investimentos públicos e programas sociais. Estes últimos, por sinal, ao serem totalmente reformados e focalizados nas transferências monetárias levaram a transformações importantes e redução no grau de pobreza. No entanto, a questão das perspectivas permanece em aberto em ambas as vertentes de crescimento induzido.

As ações de industrialização, por exemplo, reedição do que já foi feito em larga escala no passado com a criação da SUDENE e do BNB, parecem sofrer do mesmo problema: O que fazer para retirar os benefícios do Estado sem inviabilizar os investimentos já feitos? Já a agricultura, que seria a opção por excelência para absorver os grupos nas áreas mais pobres, parece ter um desempenho bem abaixo das expectativas na região. Considere-se, por exemplo, a evolução do valor da produção agrícola nos últimos 20 anos, corrigidos pelo IPCA.


Fonte: IBGE

O Nordeste teve o pior desempenho entre todas as regiões e ficou muito longe do resultado da região de referências, o Centro-Oeste. Adicionalmente, o resultado no Nordeste deve-se em grande parte à agroindústria da soja e à fruticultura irrigada, atividades que geram grande valor para a agricultura, mas que têm baixa absorção de mão-de-obra. À medida em que perde competitividade para as demais regiões, fica mais provável que não será o setor agrícola que vai absorver, comercialmente, os milhões de pobres do Nordeste.

Via de regra, a única resposta que surge sobre como se perpetuarão os efeitos induzidos das políticas públicas atuais é a de que o mercado se encarregará disso. Não deixa de ser engraçado que dois partidos de inclinação à esquerda (PSDB e PT, em diferentes graus) confiem tanto no mercado a ponto de derramar bilhões e bilhões de Reais dos contribuintes sem saber exatamente como chegar a algum resultado de longo prazo. 

Também não deixa de ser lamentável que 200 anos de discurso contra a pobreza e toneladas de ideias não tenham produzido nada efetivo. Será que nenhum curso de ação de longo prazo surgiu? Será que o Nordeste não tem solução? Será que nossos líderes fizeram uma opção pela pobreza controlada? Questões que ficam para reflexão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário