Gastos do Governo Federal – primeiro semestre de 2012
Uma vez que terminou o primeiro semestre de 2012, acho que está na
hora de olharmos com cuidado o fechamento das contas públicas. Para
termos uma ideia do volume de crescimento do gasto neste ano, vou
acrescentar na base de comparação o primeiro semestre de 2010. Há
algumas considerações importante na análise dos dados abaixo.
Primeiro, os dados forma puxados pelo
SIAFI, retirando-se da despesa o gasto com repartição de receitas e os
empréstimos do governo federal. A folha de pessoal inclui pagamento de
impostos e a conta de previdência do SIAFI é um pouco diferente da
tabela do Tesouro Nacional porque a última folha do ano da previdência
pelo SIAFI é contabilizada como Restos a Pagar Processados no ano
seguinte. De qualquer forma, como o objetivo dos cálculos abaixo é olhar
o crescimento do gasto e não o seu valor absoluto, o SIAFI é suficiente
para captar essa tendência.
Segundo, dada restrição de tempo, os dados
foram puxados para o acumulado ao longo dos primeiros seis meses do ano e
os índice de correção é a inflação acuulada de julho de cada ano até
junho de 2012 pelo IPCA (os dados de 2012, portanto, não foram
corrigidos).
Qual o resultado?
Como se observa abaixo nas tabelas 1 e 2, seja em valor nominal ou em
valor real, o crescimento do gasto público no primeiro semestre de 2012
em relação ao mesmo período do ano passado foi maior que o crescimento
do gasto de janeiro a junho de 2011 comparado com mesmo período de 2010.
Neste ano até junho, o gasto primário do governo federal (não inclui
juros e refinaciamento da dívida) cresceu R$ 40,6 bilhões (valor
nominal) ou R$ R$ 23,6 bilhões (valor real). O crescimento em valor real
foi o dobro do crescimento de jan-jun de 2011, ante mesmo período de
2010: R$ 12,5 bilhões.
Tabela 1 – Gasto Público do Governo Federal – R$ bilhões correntes
Tabela 2 – Gasto Público do Governo Federal – R$ bilhões de 2012 (IPCA)
(1) Gastos com pessoal: Boa noticia, mas é difícil manter economia nos próximos dois anos.
Um primeiro ponto interessante é que de fato a tesoura do governo
funcionou no caso da despesa com pessoal. Como se observa na tabela 2
acima, gasto com pessoal ativo mostrou queda real de R$ 1,5 bilhão neste
primeiro semestre do ano.
De 2008 a 2010, o governo Lula concedeu fortes reajustes par várias
carreiras do funcionalismo público e, assim, a presidenta Dilma
conseguiu segurar os reajustes em 2011 e 2012. De 1997 a 2011, o ano de
menor valor da despesa com pessoal (% do PIB) foi 1997, 4,27% do PIB.
Este ano é possível que a folha de pessoal (pagamento de funcionários
ativos e inativos) seja 4,2% do PIB, o menor valor desde 1997.
Gráfico 1 – Despesa com Pessoal (ativo e inativo) – % do PIB – 1997-2012*
Fonte: Tesouro Nacional. 2012* projeção
A má noticia é que será difícil manter essa economia. A Secretaria de
Orçamento Federal (SOF) vinha fazendo simulações de aumentos apenas
para os funcionários da Justiça e das Forças Armadas. Esta semana o
governo perdeu a queda de braço com os professores das universidades
federais e as outras carreiras já começaram a se organizar para pedir
aumentos. Se Polícia Federal ou Receita Federal cruzar os braços, será
difícil dizer não. Assim, acho que a tendência da conta pessoal é de
aumento nos próximos dois anos.
(2) Gastos de custeio: Crescimento se acelera puxado por salario mínimo e Minha Casa Minha Vida (MCMV).
O governo sempre fala que o setor privado (bancos e empresários)
deveriam ser mais otimistas e atuar de maneira anticíclica. O problema é
que, pelo lado do gasto público, o governo não atua de forma
anticíclica. O gasto público que mais cresceu este ano foi a “despesa
com custeio”, um gasto permanente e que foi influenciado, fortemente,
pela política do salario mínimo.
A tabela abaixo mostra os elementos de despesa do custeio que mais
cresceram. Por ordem decrescente de importância, de um total de 36
elementos da despesa, o crescimento do gasto real este ano concentra-se
em apenas seis itens da despesa de custeio: (1) Aposentadorias (INSS);
(2) subvenções econômicas (aqui entra o MCMV); (3) Pensões (INSS); (4)
Contribuições Fundo a Fundo (custeio Saúde e Educação), (5) Outros
benefícios de natureza social (seguro desemprego e abono salarial), e
(6) Benefício Mensal ao Deficiente e ao Idoso (LOAS).
Tabela 3 – Crescimento das Principais Contas de Custeio (2011-2012) – R$ bilhões de 2012 (IPCA)
O que se pode afirmar? Vou falar, novamente, algo que já estou
cansado de falar. O gasto de custeio que mais aumenta está ligado aos
gastos da previdência, programas sociais, e gastos de custeio com
educação e saúde. Em outras palavras, o gasto de custeio cresce por
causa de políticas bem intencionadas, não é por causa de roubo ou de
gastos excessivos com passagens aéreas.
Vamos fazer um contra-ponto com os gastos com passagens e diárias. Do
primeiro semestre de 2010 ao primeiro semestre de 2012, esses gastos
foram reduzidos, em termos reais, perto de R$ 170 milhões. Isso é bom,
mas insignificante em relação à magnitude dos itens que puxam o gasto de
custeio.
A surpresa este ano está no forte crescimento da conta subvenções
econômicas, a conta na qual aparecem as despesas do Minha Casa Minha
Vida. Os gastos com este programa nos primeiro seis meses do ano passado
haviam sido de R$ 2,9 bilhões (valor nominal) e este ano passou para R$
7,6 bilhões – crescimento nominal de 162% até junho.
(3) Investimento Público: uma boa e uma má notícia
Antes de começar a análise do gasto com investimento, é preciso
esclarecer que aqui estou trabalhando com duas contas do SIAFI: GND-4
(investimento) e GND-5 (inversões financeiras) menos empréstimos. Essa é
a metodologia do Tesouro Nacional e, no meu caso, não incluo os gastos
do MCMV no investimento. Essa conta está no custeio.
Em relação a despesa com investimento público, tenho um boa e uma má
notícia. A boa notícia é que a execução do investimento público melhorou
muito em junho. Em valores nominais, o investimento, em junho de 2012
foi de R$ 5,6 bilhões; ante R$ 4,1 bilhões em junho do ano passado. A má
notícia é que continuamos, em termos reais, R$ 2 bilhões abaixo do
investimento no mesmo período de 2010 e o comportamento do investimento
público ainda está sendo fortemente afetado pela execução do ministério
dos transportes: queda na execução de 40% nominal no primeiro semestre
deste ano. O gráfico 2 abaixo compara a execução mês a mês (valores
nominais) do investimento do Ministério dos Transportes. É nítido o
problema de execução desses ministério este ano.
Gráfico 2 – Execução do Investimento do Ministério dos Transportes – R$ bilhões correntes
Conclusão
Não tenho uma conclusão muito otimista. O gasto público no primeiro
semestre deste ano cresceu, em termos reais, R$ 23,6 bilhões. Desse
total, o crescimento real do investimento público foi de R$ 1,1 bilhão –
apenas 5% do crescimento do gasto. O gasto público que mais cresceu
este ano até junho foi o gasto de custeio, que é afetado pela regra de
reajuste do salário mínimo.
O que espero para os próximos anos?
Bom, tenho escutado algumas pessoas falarem que devido ao crescimento
menor do ano passado e deste ano, o custo da regra atual de reajuste do
salario mínimo será menor nos próximos dois anos: 2013 e 2014. Sim, isso
é verdade. O problema é que o crescimento menor deve derrubar o
crescimento da receita e dificultar a entrega do primário cheio de 3,1%
do PIB já este ano.
O governo confia que haverá espaço fiscal neste e nos próximos dois
anos devido à queda da taxa de juros para acomodar um investimento
público maior e reduzir impostos. Talvez sim, mas esse espaço não é tão
grande quando alguns imaginam. Nos meus cálculos, a economia com redução
dos juros será algo entre 1 a 1,5 ponto do PIB.
Ademais, continuaremos com uma economia com carga tributária elevada e
com um nível de despesa total do setor público no final do governo
Dilma entre 37% e 39% do PIB, nível elevado para um país em
desenvolvimento. Mas o governo tem condições de entregar uma DLSP menor
do que no início do mandato e uma conta de juros menor, o que será um
aspecto positivo.
Tudo isso que comentei acima é baseado nas regras atuais. Há riscos
fiscais e os dois maiores são: (i) o fim do fator previdenciário, e (ii)
o aumento dos gastos com educação para 10% do PIB nos próximos oito
anos. Se alguma dessas medidas passar, preparem-se para pagar mais
impostos e mais impostos.
por mansueto
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