O relacionamento de Eduardo Campos com Lula, já estremecido, sofrerá novos tremores se a disputa pela prefeitura de Recife escorregar para o segundo turno que as pesquisas eleitorais prenunciam. Em litígio com o PT local, o PSB terá no round final o apoio de inimigos políticos históricos do ex-presidente petista.
Na capital pernambucana, a eleição encontra-se polarizada entre Geraldo Julio, o candidato do governador Eduardo, e Humberto Costa, o preferido de Lula. No último Datafolha, feito entre 28 e 29 de agosto, os dois amealharam 29% das intenções de voto. Os outros partidos e seus respectivos postulantes preparam os próximos lances.
O PMDB de Jarbas Vasconcelos, notável opositor de Lula e do petismo, se recompôs com Eduardo, retirou a candidatura do deputado Raul Henry de cena e aderiu a Geraldo Julio já na primeira fase da queda-de-braço. Confirmando-se o segundo tempo, tomarão o mesmo rumo o PSDB e o PPS.
Hoje, as duas legendas coabitam a chapa encabeçada pelo deputado estadual Daniel Coelho, um ex-PV que se filiou ao PSDB para concorrer à prefeitura. No Datafolha, o neotucano apareceu numa distante terceira colocação, com 12%. Não chega a ser um índice negligenciável. Mas mantém o candidato longe do turno final.
Em Pernambuco, o PSDB e o PPS são comandados, respectivamente, pelo deputado Sérgio Guerra e pelo ex-deputado e candidato a vereador Raul Jungmann. Em privado, ambos admitem: confirmando-se a inviabilidade eleitoral de Daniel, não hesitarão em compor com o escolhido de Eduardo para derrotar o PT e, sobretudo, Lula.
Representado na disputa pelo deputado Mendonça Filho, o DEM deslizou no Datafolha da segunda colocação para a quarta. O candidato somava 22% em julho. No final de agosto, uma semana após o início da propaganda eleitoral, detinha 9%. Em público, Mendonça mantém a lança erguida. Longe dos refletores, também matuta sobre a posição a adotar caso se mantenha o afunilamento da campanha.
Mendonça diz aos amigos que se sente liberado no segundo turno. Preterido pelos partidos de oposição, dos quais esperava apoio, não se considera obrigado a acompanhá-los automaticamente. Afirma que adotará um de três caminhos: a neutralidade, o apoio ao petista Humberto Costa ou a adesão a Geraldo Julio.
A inusitada hipótese de associação do DEM com o PT chegou a ser mencionada por Mendonça em desabafos com os oposicionistas que se negaram a integrar sua coligação. Não foi, porém, tomado a sério. Avalia-se que o mais provável é que também ele se associará à infantaria anti-petista de Eduardo Campos.
Oficialmente, Mendonça declara apenas que ainda se considera “no jogo”. Se as urnas confirmarem as pesquisas, condiciona sua posição futura às conveniências locais e nacionais do DEM. Algo que irá medir numa rodada de consultas a líderes da legenda no Estado e no país.
Afora a perspectiva de reforço de sua coligação, Geraldo Julio leva para um eventual segundo turno duas vantagens: 1) sua trajetória nas pesquisas é ascendente –em pouco mais de 30 dias, foi de 7% para 29% no Datafolha. Humberto Costa arrosta movimento inverso. No mesmo período, caiu de 35% para 29%. 2) a taxa de rejeição ao candidato de Eduardo é de 12%. Na outra ponta, declaram que não votarão no preferido de Lula “de jeito nenhum” 29% dos eleitores.
Nesse cenário adverso, Lula tornou-se a principal arma do PT na batalha de Recife. Pernambucano, o cabo eleitoral de Humberto Costa ostenta no Estado popularidade maior do que a exibida noutros pedaços do mapa do país. Coisa próxima dos 90%. Presente na tevê, no rádio e no material impresso, Lula deve participar de um comício em Recife.
De resto, o PT espera que também Dilma Rousseff se anime a escalar o ringue. Por uma razão singela: prevalecendo em Recife, Eduardo potencializa seu projeto de tornar-se alternativa presidencial já para 2014. A exemplo de Lula, o governador também é uma figura popularíssima em seu Estado. É graças ao prestígio dele que a candidatura do novato Geraldo Julio tomou o elevador.
O que mais deixa Lula e os petistas abespinhados é a “ingratidão” de Eduardo. Sustenta-se que o governador deve o êxito que utiliza para eletrificar o seu ‘poste’ à parceria com Brasília e às verbas federais que Lula derramou em Pernambuco enquanto esteve no Planalto. As queixas do PT tornam viçoso o paradoxo.
Se vencer com Geraldo Julio, Eduardo vai impor uma derrota não a Humberto Costa, mas ao próprio Lula. Quer dizer: vai virar um adversário potencial de Dilma cavalgando o infortúnio do amigo que lhe estendeu a mão e as verbas. Tudo isso associado aos principais inimigos do petismo. Não é difícil entender o por quê de um relacionamento tão amistoso ter virado um flerte com o curto-circuito. Contra esse pano de fundo envenenado, o PT já nem se lembra do empenho de Eduardo para que o seu PSB fechasse com Fernando Haddad em São Paulo.
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