segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A política e a aculturação às avessas


“Dança com lobos” é um filme da década de 1990, estrelado por Kevin Costner. O enredo gira em torno da aculturação às avessas que o protagonista passa por escolher viver em um local isolado (da ‘civilização moderna’) com forte predominância do povo Sioux. Com o tempo ele assimila os costumes dos nativos.

Conviver no ambiente político por muito tempo produz o mesmo resultado em muitas pessoas. Mudam e assimilam comportamentos que antes abominavam, passam a tolerar ações ‘pouco republicanas’ quando cometidas em nome da ‘causa’, tentam se convencer de que se os ‘outros fazem’ não haverá problema em ‘fazer um pouco também’, ou seja, acabam por assimilar a ‘nova cultura’ e passam a exercitá-la com gosto.

A maioria aceita a nova condição e desbunda de vez, tentam manter a aparência apenas para consumo externo, afinal, não são muitos os eleitores dispostos a votarem em corruptos confessos. Outros tipos, como Demóstenes, tentam enganar a si próprio e acabam por enganar muitos durante muito tempo... até a ‘casa cair’ de vez.

São raros os que mantem a índole, não se corrompem, não permitem que aqueles que estão ao seu redor, por mais fieis e ‘amigos’ que possam parecer, ‘misturem’ os interesses pessoais com os interesses do povo. Um adágio ilustra muito bem o cerne da questão: “Não basta à mulher de César ser honesta, ela precisa parecer honesta.”


O adágio romano passou a ser referido sempre que se evoca a necessidade de transparência e lisura na coisa pública, mas principalmente num sucedâneo do Direito Romano, o ônus da prova, que deve ser invertido quando o réu é gestor público - e para os fins da função pública.

Àquele que exerce cargo de serviço público, eleito ou comissionado, sobrevém o dever de ser honesto e a necessidade premente de parecer honesto.

Ao homem privado, basta ser honesto - e cumpre a quem lhe imputar qualquer desvio de conduta prová-la ou arcar com as penas da calúnia.

A ‘aculturação às avessas’ que tomou conta do meio político é refreada por aqueles que não se submetem ao ‘sistema predominante’, por algumas poucas instituições que ainda parecem honestas (MP, setores da imprensa...) e pela insistência de alguns indivíduos que teimam em não se conformarem com o malfeito.

A falação é enorme... As ações quase sempre muito tímidas (a maioria convive bem com a ‘esposa’ que não parece honesta)... Os resultados (individualmente muito bons socialmente desastrosos)... E o povo? Quase sempre fu....

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