Num ano em que a economia brasileira
andou mais para o lado do que para a frente, com um crescimento em torno de 1%,
contra os 5% projetados no início de 2012, não existe o menor espanto diante
dos
números da balança comercial
anunciados.
De acordo com o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações sofreram uma
queda de 5,3% na comparação com o desempenho de 2011 e fecharam o ano em US$
242 bilhões.
Enquanto isso, as importações recuaram
pouco menos de 1,5%, ficando em US$ 223 bilhões. O saldo da balança foi de US$
19 bilhões.
À primeira vista, é um fenômeno natural
e de simples compreensão – explicado justamente pelo desempenho fraco da
economia.
O problema é que esse número não tem a
menor lógica: mesmo com um crescimento irrisório como esse, era de esperar, num
ano em que a produção da indústria brasileira levou bordoada de tudo quanto é
lado, que pelo menos as importações subissem.
Se a produção foi fraca, se não houve
importação e se o consumo continuou sendo (a exemplo do que já havia acontecido
nos anos anteriores) a mola mestra do PIB, a pergunta é: de onde brotaram as
mercadorias que os brasileiros compraram ao longo do ano?
A única resposta para uma questão dessa
natureza, por mais singela que ela seja, é: saíram dos estoques que as empresas
mantinham em seus depósitos. Mais óbvio do que isso, impossível. O problema
está justamente aí.
O Brasil ainda traz o hábito de não levar as
estatísticas a sério
No início de 2012, os juros estavam na
estratosfera, e mesmo assim as empresas se estocaram para dar conta de um
crescimento que o governo insistia que seria de pelo menos 4 pontos percentuais
a mais do que acabou sendo.
Diante dessa situação, as empresas demoraram
muito para colocar no mercado os estoques que abarrotavam seus depósitos e que
não deveriam (por uma questão elementar de custos) ter durado tanto tempo
assim.
Em outras palavras, alguém pagou caro
por ter acreditado nas estimativas de crescimento que, no final das contas,
acabaram não se cumprindo.
Esse é o problema. O Brasil ainda traz,
como uma herança dos tempos em que a inflação não permitia previsões sérias do
cenário de dois ou três meses seguintes, o hábito de não levar as estatísticas
a sério.
Os números são tratados com desdém e
apresentados sem a menor consistência. E, na hipótese de não se confirmarem,
são postos de lado como se isso não tivesse a menor consequência prática.
O problema é que a consequência sempre
aparece. A economia brasileira ainda tem muito a evoluir. É preciso introduzir
entre nós o respeito a determinados procedimentos que, em outros lugares, são
levados a sério.
Fazer previsões que não se cumprem é da
natureza humana. Mas fazer previsões e insistir nelas mesmo depois que todas as
evidências apontam na direção contrária pode ser considerado má-fé. Portanto,
vamos ter mais cuidado diante dos números do governo.
Fonte: Brasil Econômico, 03/01/2013
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