domingo, 6 de janeiro de 2013

PORTALEGRE: consolidação de polo turístico? Antes, tem-se a arrumação da casa.


A vocação turística de Portalegre-RN permeou o discurso de posse do atual prefeito, Neto da EMATER. Em sua fala deixou evidenciado que buscará novos investimentos para o setor e retomará a estratégia iniciada em sua primeira gestão (2001-2004).

O atual gestor deixou subentendido que a estagnação do segmento turístico durante a gestão de Euclides Pereira (aliado político de Neto) foi resultado do modelo administrativo adotado pelo ex-prefeito, calcado eminentemente no assistencialismo.

A necessidade de demonstrar o equívoco do modelo adotado pelo ex-prefeito ficou evidenciada nas inúmeras oportunidades que citou a legislação vigente que limita a utilização dos recursos. Foram tantas as repetições que as coisas não poderiam continuar do jeito que estavam e que o ‘novo caminho’ seria, a partir de sua posse, trilhar a legalidade (?).

Neto falou em reforma administrativa, choque de gestão, meritocracia, capacidade técnica dos futuros secretários como condição indispensável para fazer parte de sua equipe. No mérito, está coberto de razão, mas deixou a impressão que a administração do ex-prefeito teria descambado para o cometimento de irregularidades e de outras ‘heterodoxias’ administrativas.

Não se pode fazer outra leitura. Neto disse que vai cumprir rigorosamente a legislação, no que está absolutamente correto, mas que isso causará insatisfação e que os aliados políticos terão que entender. Logo... Até então, os aliados estariam satisfeitos porque irregularidades aconteciam e seus pleitos eram atendidos, mesmo estando em descompasso com a legislação (?).

Não ocorreu nenhuma modificação na legislação na virada do ano, ou seja, a ‘mudança dolorosa’ será proveniente do estilo adotado: antes tolerante com irregularidade e a partir de sua posse rigor absoluto no atendimento da legislação.

Esse ‘novo comportamento’ também deve implicar em mudanças significativas na equipe de trabalho ou, numa segunda perspectiva, não se deve levar ao pé da letra o que foi dito no discurso de posse, ou, numa terceira perspectiva, será alertado aos remanescentes que o modelo a ser adotado será outro, fundado na legalidade, e que somente aqueles que se subordinarem a tal enquadramento serão aproveitados.

Assim, durante a longa ‘arrumação da casa’ em que ocorrerão resistências e descontentamentos (creio que os primeiros a não se sentirem muito a vontade com as palavras de Neto em seu discurso de posse foram os admiradores de Euclides) a equipe de trabalho deverá focar na captação de recursos para viabilização de projetos estruturantes, principalmente, relacionados ao segmento turístico.

A visão do novo gestor é que a vocação econômica maior, senão a única, do município serrano passa pelo fortalecimento da cadeia turística. O charme natural que a serra apresenta tem que servir de ‘trampolim’ para geração de empregos e renda e, consequentemente, garantir a emancipação, através do trabalho, ao maior número possível de portalegrenses. Ou seja, a prefeitura diminuirá a oferta de peixes, mas disponibilizará anzol e ensinará a pescar.

Então: qual é o perfil do turista que visita Portalegre?

O perfil do consumidor de turismo no município, considerando a oferta de empreendimentos existentes, não é totalmente conhecido (não conheço nenhum trabalho nesse sentido), mas pode-se afirmar, com alguma margem de convicção, que a permanência média é de poucos dias (boa parte somente em finais de semana), procuram descanso, quase não saem do Hotel, eventualmente fazem passeios para conhecer a “Bica” e o “Mirante” e gastam pouco (até por falta de opções). Outro fluxo turístico é aquele dos moradores das cidades circunvizinhas que vão passar um dia na serra, ou seja, não tem despesas com estadia.

Quais serão as medidas e ações que poderão viabilizar a expansão do turismo em Portalegre?

A resposta dessa questão será dada por aproximação. Quando Neto foi prefeito incentivou a construção do Hotel, principal empreendimento turístico do município, também viabilizou verbas através da EMBRATUR para construção do Mirante e da Bica. Assim, pode-se aventar que a segunda etapa do aproveitamento da água da Bica poderá sair do plano das intenções, que novos mirantes poderão ser construídos, que o potencial do Brejo e das Torres será objeto de análise, dentre outros.

Também é provável que o turismo de aventura (trilhas, escalada, voo livre, ecoturismo), o turismo histórico, religioso e o rural sejam incentivados. É claro que todas as potencialidades serão consideradas e as especificidades estudadas, mas, uma coisa parece certa, o turismo será novamente o carro-chefe da administração portalegrense.

Para concluir:

Nunca é demais lembrar que o turismo, além de empregos e renda, também pode produzir resultados deletérios: especulação imobiliária, crescimento de atividades ilícitas (drogas e prostituição), mudanças culturais (o ‘choque’ de hábitos culturais diferenciados entre moradores e visitantes), a orientação, às vezes, excessiva para agradar os que ‘vem de fora’ em detrimento dos residentes, a priorização na localização dos investimentos para agradar determinados grupos em detrimento de investimentos socialmente mais justos.

Enfim, todo cuidado é necessário.

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