A vocação turística de
Portalegre-RN permeou o discurso de posse do atual prefeito, Neto da EMATER. Em
sua fala deixou evidenciado que buscará novos investimentos para o setor e
retomará a estratégia iniciada em sua primeira gestão (2001-2004).
O atual gestor deixou
subentendido que a estagnação do segmento turístico durante a gestão de
Euclides Pereira (aliado político de Neto) foi resultado do modelo administrativo
adotado pelo ex-prefeito, calcado eminentemente no assistencialismo.
A necessidade de demonstrar
o equívoco do modelo adotado pelo ex-prefeito ficou evidenciada nas inúmeras oportunidades
que citou a legislação vigente que limita a utilização dos recursos. Foram tantas
as repetições que as coisas não poderiam continuar do jeito que estavam e que o
‘novo caminho’ seria, a partir de sua posse, trilhar a legalidade (?).
Neto falou em reforma
administrativa, choque de gestão, meritocracia, capacidade técnica dos futuros
secretários como condição indispensável para fazer parte de sua equipe. No mérito,
está coberto de razão, mas deixou a impressão que a administração do
ex-prefeito teria descambado para o cometimento de irregularidades e de outras ‘heterodoxias’
administrativas.
Não se pode fazer outra
leitura. Neto disse que vai cumprir rigorosamente a legislação, no que está
absolutamente correto, mas que isso causará insatisfação e que os aliados políticos
terão que entender. Logo... Até então, os aliados estariam satisfeitos porque
irregularidades aconteciam e seus pleitos eram atendidos, mesmo estando em descompasso
com a legislação (?).
Não ocorreu nenhuma
modificação na legislação na virada do ano, ou seja, a ‘mudança dolorosa’ será
proveniente do estilo adotado: antes tolerante com irregularidade e a partir de
sua posse rigor absoluto no atendimento da legislação.
Esse ‘novo comportamento’ também
deve implicar em mudanças significativas na equipe de trabalho ou, numa segunda
perspectiva, não se deve levar ao pé da letra o que foi dito no discurso de
posse, ou, numa terceira perspectiva, será alertado aos remanescentes que o
modelo a ser adotado será outro, fundado na legalidade, e que somente aqueles
que se subordinarem a tal enquadramento serão aproveitados.
Assim, durante a longa ‘arrumação
da casa’ em que ocorrerão resistências e descontentamentos (creio que os
primeiros a não se sentirem muito a vontade com as palavras de Neto em seu
discurso de posse foram os admiradores de Euclides) a equipe de trabalho deverá
focar na captação de recursos para viabilização de projetos estruturantes,
principalmente, relacionados ao segmento turístico.
A visão do novo gestor é que
a vocação econômica maior, senão a única, do município serrano passa pelo
fortalecimento da cadeia turística. O charme natural que a serra apresenta tem
que servir de ‘trampolim’ para geração de empregos e renda e, consequentemente,
garantir a emancipação, através do trabalho, ao maior número possível de
portalegrenses. Ou seja, a prefeitura diminuirá a oferta de peixes, mas
disponibilizará anzol e ensinará a pescar.
Então: qual é o perfil do
turista que visita Portalegre?
O perfil do consumidor de
turismo no município, considerando a oferta de empreendimentos existentes, não é
totalmente conhecido (não conheço nenhum trabalho nesse sentido), mas pode-se
afirmar, com alguma margem de convicção, que a permanência média é de poucos dias
(boa parte somente em finais de semana), procuram descanso, quase não saem do Hotel,
eventualmente fazem passeios para conhecer a “Bica” e o “Mirante” e gastam
pouco (até por falta de opções). Outro fluxo turístico é aquele dos moradores das
cidades circunvizinhas que vão passar um dia na serra, ou seja, não tem
despesas com estadia.
Quais serão as medidas e
ações que poderão viabilizar a expansão do turismo em Portalegre?
A resposta dessa questão será
dada por aproximação. Quando Neto foi prefeito incentivou a construção do
Hotel, principal empreendimento turístico do município, também viabilizou
verbas através da EMBRATUR para construção do Mirante e da Bica. Assim, pode-se
aventar que a segunda etapa do aproveitamento da água da Bica poderá sair do
plano das intenções, que novos mirantes poderão ser construídos, que o
potencial do Brejo e das Torres será objeto de análise, dentre outros.
Também é provável que o
turismo de aventura (trilhas, escalada, voo livre, ecoturismo), o turismo histórico,
religioso e o rural sejam incentivados. É claro que todas as potencialidades serão
consideradas e as especificidades estudadas, mas, uma coisa parece certa, o
turismo será novamente o carro-chefe da administração portalegrense.
Para concluir:
Nunca é demais lembrar que o
turismo, além de empregos e renda, também pode produzir resultados deletérios:
especulação imobiliária, crescimento de atividades ilícitas (drogas e
prostituição), mudanças culturais (o ‘choque’ de hábitos culturais
diferenciados entre moradores e visitantes), a orientação, às vezes, excessiva
para agradar os que ‘vem de fora’ em detrimento dos residentes, a priorização
na localização dos investimentos para agradar determinados grupos em detrimento
de investimentos socialmente mais justos.
Enfim, todo cuidado é necessário.
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