O Globo
No pronunciamento a
propósito do Dia do Trabalho, em cadeia de rádio e televisão, a presidente
Dilma afirmou que o combate à inflação é “uma preocupação imutável,
permanente”, do governo.
O comentário da presidente,
assim como outros recentes, significa uma mudança de tom, pois antes Dilma
criticava aqueles que chamavam atenção para a perigosa trajetória dos índices
de preços.
A inflação pode ser um dos
principais adversários da presidente nas eleições gerais do ano que vem, e
desse modo o tema entrou para o cardápio da política.
Mas entre o discurso e a
prática parece existir uma razoável distância. No primeiro trimestre, o governo
conduziu as contas públicas ignorando a inflação. Não fosse isso, voltaria a
ser comedido com as despesas.
Em decorrência da queda do
ritmo da atividade econômica no ano passado e das desonerações tributárias
(muitas das quais saudáveis, por sinal), houve um recuo na arrecadação federal
nos três primeiros meses de 2013.
Em relação a igual período
de 2012, a perda foi de 2,55% em termos reais. Já os gastos aumentaram 4,6%, e,
infelizmente, isso não decorreu somente do incremento, positivo, dos
investimentos.
Devido a esse descompasso na
evolução das receitas e despesas, o superávit primário do governo vem
encolhendo, em termos nominais e relativos, o que torna cada vez mais difícil
atingir as metas traçadas para o ano.
As autoridades econômicas
anunciaram, desta vez até com antecedência, que voltarão a desconsiderar no
cálculo do superávit primário alguns gastos classificados como investimentos.
Mas trata-se de uma questão
contábil, cujos efeitos macroeconômicos não serão percebidos no combate à
inflação, por exemplo.
O superávit primário
contribuiu fortemente para a construção de uma imagem de credibilidade da
política econômica, e, ao desmerecê-lo, o governo se enfraquece junto aos
mercados. Deixará, assim, de contar com um grande aliado na batalha das
expectativas, fundamental para a guerra contra a inflação.
O setor público como um todo
havia registrado um superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto em
2011. No ano passado, esse percentual caiu para 2,38%. Agora, em março,
considerados os últimos doze meses, o superávit recuou para 1,99% do PIB, uma
queda de quase 40% no período.
Se não houver uma
recuperação ao longo dos próximos meses, a percepção dos mercados será de que
as finanças públicas entraram mesmo no caminho da deterioração, não se tratando
mais de um fenômeno passageiro.
Se a presidente Dilma quiser
ajustar seu discurso à prática, terá de ficar mais atenta às finanças públicas.
O combate à inflação não combina com o aumento de gastos de custeio que o
governo promove a pretexto de estar ampliando programas sociais.
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