A economia brasileira, desde
o abandono do II PND – II Plano Nacional de Desenvolvimento – em 1976,
está 'em ponto de bala'. Faz parte de um reduzido grupo de economias, de países
como a China e a Índia, que, recém-saídos do estágio de desenvolvimento
extensivo, mesmo num contexto de recessão e crise da economia mundial, tem um
potencial de crescimento médio em torno de 5% ao ano, durante um período
prolongado, da ordem de 10 a 20 anos. Até, digamos, o bicentenário da
Independência.
As implicações concretas de
tal crescimento são difíceis de se imaginar. Mas pode-se fazer uma idéia
lembrando-se que nesse período o PIB quase duplicaria na primeira década, para US$
9000 e triplicaria até ao final da segunda década alcançando da ordem de US$
15 000. Os efeitos para as camadas de população de baixa renda seriam ainda
mais contundentes, dado que tal desenvolvimento implicaria necessariamente em
uma concentração de renda menor, vale dizer, alguma medida de redistribuição de
renda, a permitir a necessária elevação do nível de reprodução da força de
trabalho, assim como o escoamento dos bens de consumo.
Assim, se o Brasil não toma
esse caminho do crescimento/ desenvolvimento, é porque algo o impede. Tal
impedimento pode ser imposto por forças externas ao país, ou pelo
contrário, originar-se na própria formação social brasileira.
O que se propõe aqui é que
as razões da perpetuação do não-desenvolvimento são internas e inerentes
à sociedade brasileira. Que nessa se dá um processo de reprodução autônoma da
formação social de origem colonial, a sociedade de elite. A base de sustentação
dessa sociedade é a manutenção, como nos tempos coloniais, da expatriação de
uma porção do excedente produzido por ela, e que de fato essa expatriação é o
próprio princípio e força motriz da organização da produção e da sociedade, em
um processo que podemos chamar de acumulação entravada ou simplesmente,
desenvolvimento entravado.
Os entraves
Entre os principais meios de
manutenção dos entraves ao desenvolvimento estão:
1.
Sistema
financeiro: ausência de crédito e juros altos.
2.
Fragmentação
deliberada e precariedade crônica das infra-estruturas espaciais ou da
produção.
3.
A produção
nacional necessária pela restrição da balança de pagamentos será restrito ao
bens de consumo. O progresso técnico, que se dá (~ria) nos ramos de máquinas,
fica assim eliminado mesmo com o aumento do volume de produção.
4.
Se alguns
'setores-chave' são ainda assim necessários para o apoio da produção de bens de
consumo, estes serão delegados ao Estado ou ao capital estrangeiro, impedindo,
em ambos os casos, o desenvolvimento de forças sociais internas com interesses
vinculados ao desenvolvimento e notadamente, a transformação da elite em
burguesia.
5.
Os meios de
reprodução dos entraves serão apresentados como sendo resultado de atraso ou de
dominação – qualquer força externa contra a qual seria impensável a sociedade
brasileira se rebelar, formando a ideologia do subdesenvolvimento, dependência
ou globalização.
Não pode haver 'consenso'
entre entreguistas (advogados da 'vocação agrícola', neo-liberais, monetaristas
etc) e nacionalistas (desenvolvimentistas, 'protecionistas' etc.), uma vez que
os primeiros trabalham (conscientemente ou não) a favor, e os segundos, contra,
a reprodução da sociedade brasileira em sua forma atual. Participam assim do
próprio antagonismo fundamental que move as transformações sociais.
O posicionamento político e
a avaliação das políticas econômicas praticadas e propostas, podem ser
instrumentados por esse quadro referencial que permite avaliar seu efeito como
sendo a favor ou contra a manutenção do status quo, vale
dizer, dos entraves ao desenvolvimento nacional. A tarefa de detectar as
correntes de forças políticas é tão difícil quanto necessária. Como dizia
Lênin, "o verdadeiro homem político ouve até a grama crescer".
Fonte
A ECONOMIA brasileira.
Disponível em:
<http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ec-bra/index.html>.
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