Editorial da
FOLHA e a ressaca monetária. E as previsões são pessimistas para o que vem por
aí. E ainda estamos em 2013...
Dólar sobe no mundo todo após anúncio de reviravolta do Fed, e efeito no
Brasil se agrava com as deficiências da política econômica de Dilma
Se o governo
Dilma Rousseff antes perdia o sono com o "tsunami monetário" -- como
caracterizava o fluxo de entrada de capitais resultante da política do Fed
(banco central americano) de inundar o mercado com recursos --, sobram agora
razões para se preocupar com a retração da onda.
Os sinais de
reversão da maré estão à vista de todos. Há mais otimismo com a recuperação da
economia americana, que deve crescer 2% neste ano e talvez bem mais que isso em
2014. Com a melhora, o estímulo monetário deixaria de ser necessário.
O Fed já
navega nessa direção. Seu presidente, Ben Bernanke, disse que as compras de
títulos no mercado -- hoje no ritmo de US$ 85 bilhões ao mês -- serão
contraídas em breve e suspensas até meados de 2014. Para prevenir sobressaltos,
disse que a retirada será gradual e que a taxa de juros deve permanecer perto
de zero até 2015.
O mercado
financeiro não tem paciência com detalhes. Quando identifica mudanças como
essa, antecipa as consequências: menos recursos no mercado global, juros em
alta nos EUA e valorização do dólar perante outras moedas, especialmente de
países emergentes.
No caso do Brasil, há o fator agravante da política econômica errática,
em particular na questão da austeridade fiscal, que prejudica a imagem do país.
Acentua-se, com isso, o temor pela perda de valor dos investimentos aqui
realizados, o que provoca a saída de dólares e a consequente desvalorização da
moeda nacional.
A cotação do real frente ao dólar fechou em quase R$ 2,26, ontem, mesmo
após o Banco Central comprometer US$ 3 bilhões para conter a desvalorização.
Foi o pior nível desde abril de 2009, quando a crise internacional estava no
auge.
Um sintoma
da deterioração do cenário foi o adiamento da oferta de ações da Votorantim
Cimentos na Bolsa, que deveria levantar até R$ 10 bilhões. É notável o
contraste com a situação de abril passado, quando a BB Seguridade conseguiu
captar R$ 11,4 bilhões.
Salvo uma
improvável grande decepção com a economia americana, nos próximos anos haverá
um enxugamento do capital farto em circulação pelo mundo.
O Brasil
está mais preparado que no passado para enfrentar a turbulência: tem US$ 375
bilhões em reservas, e a dívida em dólar do governo foi eliminada, entre outros
fatores. Mas aproveitou mal a liquidez externa: não aumentou a taxa de
investimento, não ajustou as contas públicas como deveria e não reforçou a
competitividade da economia para enfrentar a saída de capitais.
A alta do dólar encarece importações e incentiva aumentos de preços
domésticos, realimentando a inflação. O Banco Central se vê forçado a elevar
ainda mais os juros. Nesse mar revolto, vai a pique o otimismo postiço do
governo federal nos últimos anos.
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