Os velhos carros de som de cidades pequenas, que anunciam de shows à propaganda da farmácia da esquina, estão seriamente ameaçados. Com conexões cada vez mais velozes e estáveis, moradores não precisam mais deles para saber das novidades. Mudaram seus hábitos. A partir de dados da última Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), do IBGE, as cidades de Carmo e Guapimirim, no Rio, mostram bons exemplos desses novos tempos, com o nascimento ou amadurecimento da vida digital de cidadãos que, até pouco tempo, viviam desconectados.
Os números do IBGE revelaram que, de 1999 a 2012, subiu em 250% a proporção de cidades que têm provedor de internet. Hoje são 57,4% dos municípios, fora os atendidos por empresas instaladas nas vizinhanças. Grande parte (80,7%) já tem lan houses (agora com novos usos), e os serviços grátis de Wi-Fi começam a se espalhar nos grotões.
já têm fibra ótica disponível, com conexão banda larga, algo que poucos na cidade imaginariam num passado recente do município de 17 mil habitantes, a 200 km do Rio, na divisa com Minas. Lá, nem o prefeito Odir Ribeiro tem computador no gabinete. Ele diz que é “caipira” e, por isso, não sabe mexer. Mas a população está conectadíssima e até entrou na onda dos protestos de junho. Tudo combinado via Facebook. Até a filha do prefeito participou.
Assim, conectada, Carmo convive bem com o fato de não ter livraria. Afinal, sites de grandes empresas entregam seus títulos pelos Correios. Bancas de jornal, papelarias e lojas de variedades comercializam livros. Os dados do IBGE mostram esse fenômeno: desde 1999, caiu em 29% a proporção de municípios com livraria.
Esse comércio existe, atualmente, em apenas 25,2% das cidades. O que não representa, atestam moradores e o próprio IBGE, que menos livros circulem.
Esse comércio existe, atualmente, em apenas 25,2% das cidades. O que não representa, atestam moradores e o próprio IBGE, que menos livros circulem.
— Quando preciso de livros para a faculdade, uso emprestado ou compro pela internet mesmo. Problema aqui, de verdade, é a falta do que fazer — diz a estudante de nutrição Fernanda Erbiste, de 23 anos, que vive na cidade
mineira vizinha de Além Paraíba.
mineira vizinha de Além Paraíba.
Outra mudança oculta nos números do IBGE é a forma como os moradores usam lan houses, que, até meados da década passada, representavam um importante e às vezes único ponto de acesso à internet. Pela primeira vez, o IBGE perguntou às prefeituras se havia lan house: 80,7% responderam “sim”. Mas, como as conexões residenciais também melhoraram, o uso mudou. Passou a ser, em alguns casos, simples ponto de encontro. O jovem Copérnico Abreu, de 25 anos, é prova disso. Desempregado, frequenta diariamente a única lan house da cidade (as outras fecharam recentemente), a Nitro Cyber Games. Mais do que acesso à internet, ele quer encontrar os amigos.
— Procuro emprego de manhã e, como não acho, venho direto para cá. Fazemos campeonato de fliperama — conta ele, que tem internet em casa.
No pé da Região Serrana, a 120 quilômetros de Carmo, Guapimirim, de 52 mil habitantes, se conecta de outra maneira.
É uma das 744 cidades brasileiras (13,3%) que oferecem serviço de Wi-Fi gratuito em local público. Outras 51 prefeituras do país cobram pelo acesso. A novidade mudou radicalmente o uso da Praça Paulo Terra, no Centro, uma das três atendidas pelo programa da prefeitura.
É uma das 744 cidades brasileiras (13,3%) que oferecem serviço de Wi-Fi gratuito em local público. Outras 51 prefeituras do país cobram pelo acesso. A novidade mudou radicalmente o uso da Praça Paulo Terra, no Centro, uma das três atendidas pelo programa da prefeitura.
Durante o dia e principalmente à noite — quando não chove, claro —, outras luzes, que não a dos postes, iluminam a praça. Os bancos são ocupados por moradores com seus notebooks no colo e tablets nas mãos. Bastante individualizado nos grandes centros, o uso da internet em Guapimirim se transforma num evento social cotidiano. Na manhã da última sexta-feira, a babá Elaine Duarte, de 23 anos, usava seu tablet enquanto cuidava de uma criança.
O sol brilhava forte no pé da Serra dos Órgãos, e os tablets também.
— Trouxe hoje pela primeira vez. Geralmente uso mais o Facebook — conta a babá, com o aparelho nas mãos.
Gerente da IBGE, Vânia Maria Pacheco ressalta que as redes Wi-Fi têm impacto na autoestima dos moradores.
— A população, antes intimidada, passa a se sentir parte do processo de inclusão digital.
do Millenium
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