Marxistas,
social-democratas e demais defensores do intervencionismo estatal sempre
afirmaram que determinados setores da economia — principalmente saúde, educação
e segurança, mas também o setor elétrico e de telecomunicações — não podem
ficar por conta do livre mercado e da livre concorrência porque a ganância e a
busca pelo lucro não apenas são incompatíveis com tais setores, como também
levariam a preços absurdamente caros, o que prejudicaria principalmente os mais
pobres.
Já
os economistas seguidores da Escola Austríaca sempre afirmaram categoricamente
que é justamente a busca pelo lucro em um ambiente sem protecionismos, sem
privilégios, sem agências reguladoras e sem subsídios o que gera serviços da
alta qualidade e preços baixos.
E
a explicação é simples: como empresários, no geral, não gostam de concorrência,
eles sempre se mostram ávidos por fazer lobby e utilizar o poder estatal em seu
próprio interesse com o intuito de banir a concorrência e solidificar sua
posição de domínio. Eles conseguem isso por meio de tarifas
protecionistas, subsídios e agências reguladoras que cartelizam o mercado e
impedem a entrada de concorrentes.
Já
o livre mercado, arranjo em que não há protecionismo, subsídio e agências
reguladoras, é um sistema em que são os consumidores que controlam os
empresários. No livre mercado, as empresas não têm opção: ou elas servem
o consumidor de maneira eficaz ou elas fecham as portas. E servir o
consumidor de maneira eficaz significa estar sempre ofertando bens e serviços
de qualidade crescente a preços cada vez menores.
É
justamente o governo — com seus subsídios, privilégios especiais (como tarifas
protecionistas e execução de obras públicas com empreiteiras privadas) e
restrições à concorrência (por meio de agências reguladoras e exigências
burocráticas) — quem promove monopólios e oligopólios, e consequentemente
preços altos e serviços de baixa qualidade. Sendo assim, se você quiser
serviços de qualidade a preços cada vez menores, você tem de defender o livre
mercado.
Sabe
quem concorda com tudo isso? Ninguém menos que Karl Marx. Não deixa
de ser curioso constatar que Marx entendeu perfeitamente essa realidade.
Mais ainda: ele foi explícito em demonstrar isso. No quesito
"efeitos benéficos da livre concorrência", Marx concorda com os
austríacos e discorda de todos os atuais marxistas e demais
intervencionistas. Veja o que ele escreveu logo nas páginas iniciais do Manifesto Comunista:
A
burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas
comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais
bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a
artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que
força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele
todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem
arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é,
a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria
imagem.
Em
suma: além de creditar à burguesia e aos seus instrumentos de produção — isto
é, ao sistema de lucros e prejuízos — a façanha de retirar nações da barbárie e
levá-las à civilização, Marx afirma categoricamente que o modo de produção
burguês — que nada mais é do que a busca pelo lucro — gera mercadorias a preços baratos.
E não apenas isso: ele afirma que o sistema de lucros e prejuízos compele todas
as nações a adotarem este modo de produção, sob pena de se arruinarem por
completo caso não o façam.
Ou
seja, o real problema dos atuais marxistas e demais intervencionistas que se
dizem contrários a serviços de saúde, educação, segurança, energia e
telecomunicações serem ofertados em um ambiente de livre concorrência, pois
seriam caros e inacessíveis para os pobres, é que eles certamente não leram
Marx.
Se leram, não entenderam. Marx entendeu perfeitamente que a
busca pelo lucro sob um arranjo de livre concorrência leva ao barateamento dos
produtos e serviços, e que tal barateamento é "a artilharia pesada com que
[o sistema de lucros] ... compele todas as nações a apropriarem o modo de
produção da burguesia [e se tornarem civilizadas], se não quiserem
arruinar-se."
Ao
contrário dos marxistas atuais que defendem a estatização de vários serviços
sob o argumento de que isso reduziria seus preços, Marx entendeu que é a busca
pelo lucro o que realmente derruba os preços, e não a estatização destes
serviços.
Como
se não bastasse, Marx também disparou um petardo contra keynesianos defensores
de estímulos fiscais e de políticas de endividamento estatal. Marx zombou
o keynesianismo antes mesmo de este sistema ter sido criado — algo possível
porque não havia absolutamente nada de original nas ideias de Keynes.
Eis
o que escreveu Marx em O Capital, capítulo 24, seção 6, "A Gênese do Capitalista Industrial":
A
única parte da chamada riqueza nacional que realmente está na posse coletiva
dos povos modernos é a sua dívida pública. Daí ... a
doutrina moderna de que um povo se torna tanto mais rico quanto mais
profundamente se endividar. A dívida pública torna-se o credo do capital.
E, com o surgir do endividamento do Estado, vai para o lugar dos pecados
contra o Espírito Santo — para os quais não há qualquer perdão — o perjúrio
contra a dívida do Estado.
Como
com o toque da varinha mágica, [a dívida pública] reveste o dinheiro
improdutivo de poder procriador e transforma-o assim em capital. ...
[Mas] a moderna política fiscal... traz em si própria o germe da progressão
automática. A sobretaxação não é um acidente, mas sim um princípio.
Conclusão
Eis,
portanto, as duas crenças que um genuíno seguidor de Karl Marx deve apresentar:
a busca pelo lucro em um ambiente de livre mercado gera redução de preços, e
políticas fiscais keynesianas, além de serem um método de escravização, fazem
com que dinheiro improdutivo seja ilusoriamente visto como capital gerador de
riqueza. Mais ainda: segundo Marx, criticar o endividamento do estado passou
a ser visto pelos defensores da gastança estatal como um ato equivalente a uma
blasfêmia contra o Espírito Santo.
Logo,
se você é um marxista defensor dos pobres e quer que eles tenham acesso a bens
e serviços de qualidade a preços baixos, você tem de defender o livre
mercado. Se você defende que o povo tenha poder sobre as empresas, você
tem de defender o livre mercado. E se você é contra a escravização do
povo pelas elites financeiras, você tem de defender que os gastos do governo
sejam restringidos ao máximo.
Agora,
se você defende que o governo regule o mercado e gaste demasiadamente, você
estará defendendo os interesses das grandes empresas e das elites financeiras,
e estará defendendo que elas tenham privilégios sobre os pobres e que elas os
oprimam com a abolição da concorrência, com preços altos e com serviços
precários.
Palavras
de Marx.
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