Criado em 1973
pelo então governador do Rio Grande do Norte Cortez Pereira, o Projeto camarão
visava comprovar a viabilidade do cultivo de camarões e teve como
objetivo acabar com o desemprego das salinas incentivando os pequenos e
médios produtores. As pesquisas tiveram início as margens do Rio Potengi, sendo
então denominado "Núcleo Potengi". (20)
As espécies
nativas Penaeus brasiliensis e Penaeus
schmitti no início serviram
como fonte de pesquisa. Espécies exóticas também foram estudadas, tendo
destaque as espécies P.
monodon, a P. japonicus,
a P.vannamei e a P. stylirostris, nativas da
Ásia, América Central e Oriente. No entanto, até o final da década de 80 a
espécie ideal para a carcinicultura no estado ainda não estava definida. As
pesquisas sobre a reprodução, produtividade, e a resistência à doenças
mostrou ser necessária a introdução de uma espécie que apresenta-se bons
resultados em todos esses fatores. Portanto no início de 1990 foi introduzida a
espécie P. vannamei que apresentou um grande sucesso no Equador,
com uma grande adaptabilidade as mais variadas condições de cultivo, sendo de
fundamental importância para a viabilidade do processo produtivo. (20)
Consolidada há
pouco mais de dez anos, a carcinicultura apresenta expressivos números na
economia da região nordeste. Representando cerca de 97% de todo camarão
produzido em cativeiro no país. Sendo o Rio Grande do Norte responsável por
cerca de 29%, com uma produção de 7 mil toneladas, o que proporciona ao estado
o título de maior produtor e maior área cultivada. O desenvolvimento da
carcinicultura no RN é grandemente favorecido pela sua localização, próxima dos
grandes mercados consumidores dos Estados Unidos e Europa. (3)
Atualmente a
criação do camarão em cativeiro constitui o principal produto de exportação do
estado. Sozinho, o camarão representa 40% de toda a exportação do Rio Grande do
Norte. (3)
A
carcinicultura é considerado o ramo da aquicultura que mais cresce em todo o
país, produzindo uma competitividade no mercado internacional e contando com
apoio intenso de uma grande parcela dos setores governamentais. (8)
Entretanto,
durante o processo de produção, a carcinicultura como qualquer outra atividade
que tem como objetivo a produção de bens de consumo, transforma recursos
naturais e conseqüentemente produz restos. E devido a produção desses restos a
carcinicultura vem se tornando um problema quando são avaliadas as perdas causadas
pela destruição e pelos impactos aos manguezais, tendo como conseqüências
problemas ambientais e sociais, prejudicando as populações de baixa renda, que
acabam sendo privadas de seu sustento.(7)
Além disso, as
áreas de mangue são consideradas bens da união, de usos comuns e de preservação
permanente que vêm sendo griladas e utilizadas indevidamente, desrespeitando
assim a legislação imobiliária e as normas vigentes de proteção ambiental. (8)
Como consequência
a carcinicultura vem causando uma grande pressão nessas áreas e prejudicando o
meio ambiente. Esses fatores vêm afetando diretamente milhares de famílias que
tiram o seu sustento da pesca artesanal e do extrativismo marinho. (8)
No decorrer
dos últimos 40 anos estamos acompanhando a crescente expansão da
carcinicultura. Esta atividade teve inicio em países como a Ásia e veio se
propagando pela faixa intertropical. Mas, juntamente com a sua expansão a
carcinicultura acarretou na devastação de praticamente metade dos manguezais
existentes, tendo como objetivo maior a necessidade de atender a demanda dos
países desenvolvidos. (16)
Ao passar dos
anos e consequente desenvolvimento de novas tecnologias, ocorreu um avanço das
áreas da carcinicultura e também de pesquisas científicas. No entanto, a
primeira tinha como objetivo melhorar a produção tendo em vista o aumento da
demanda, já a ciência tinha o objetivo de resolver os problemas causados pelo
rastro de destruição dos manguezais, mostrando os pontos negativos dessa
atividade na vida das populações ribeirinhas. (16)
Os órgão
licenciadores aprovaram muitos projetos de carcinicultura sem no entanto, levar
em consideração a avaliação do conhecimento científico. Sem contar com o fato
de que se torna necessário um manejo adequado dessas áreas. No entender
da comunidade científica, o manejo é o resultado da preservação dos
ecossistemas costeiros, conservando todos os bens e serviços que são fornecidos
gratuitamente à sociedade. Ficando portanto, evidente que manejar não significa
modificar o meio, privatizando os benefícios e socializando os prejuízos. (16)
Torna-se de
vital importância compreender que os empreendimentos de carcinicultura devem
ser aprovados apenas mediante a uma avaliação dos impactos causados ao meio
ambiente e a sociedade, juntamente com a utilização de estudos apropriados, com
medidas que tenham o objetivo de estabelecer um sistema de aqüicultura
sustentável e que portanto estejam de acordo com o ambiente e com as
comunidades locais. (16)
Área utilizada
pela carcinicultura
O Rio Grande
do Norte possui uma área de aproximadamente 400km de zona
costeira, sendo esta dividida em litoral norte e litoral sul, possuindo uma
área equivalente a 30.000 ha propícia para a atividade da carcinicultura. O
estado já possuía em 2001 aproximadamente 4.000 ha, com as fazendas
distribuídas em 21 municípios, apresentando 232 fazendas em atividade,
representando 45% das 507 já existentes em nível nacional, predominando o
pequeno produtor com uma área de menos de 20 ha. Dessas 232 apenas seis são
consideradas fazendas de médios empreendimentos onde as áreas apresentam uma
extensão entre 20 e 100 hectares e cinco são consideradas grandes empreendimentos
com uma extensão acima de 100 hectares.(1) e (23)
Segundo dados do
IDEMA, atualmente mais de 10 mil hectares do território do Rio Grande do Norte
estão ocupados com projetos de carcinicultura. Estima-se que existam hoje
aproximadamente 2500 hectares de terras ocupadas por viveiros. (5) e (21)
Considerando o
crescimento exponencial da carcinicultura no estado, a secretaria da industria,
do comercio, ciência e tecnologia (SINTEC) fez a previsão de que a área
utilizada continuará crescendo. Tendo em vista a utilização de novas áreas,
acredita-se que será formada uma nova fronteira de expansão para o litoral seco
dos vales do Açu, Piranhas e Apodi, de Mossoró. (6)
Produção (26)
Só no ano
passado o Rio Grande de Norte dobrou sua produção,
onde até o mês de agosto já aviam sido produzidas 14 mil toneladas e exportadas
12 mil, representando um ganho de 40,6 milhões de dólares. (2)
No âmbito do
cenário nacional o Rio Grande do Norte aparece como o maior produtor do país
com uma produção só no ano de 2003 de 18,5 mil toneladas em 280 fazendas com a
utilização de uma área de aproximadamente 4 mil hectares. Apresentando uma
média de 5 mil quilos por hectare durante o ano. (10)
Um grande reflexo
dos ganhos com a atividade foi o crescimento de 128% no ano de 2000
para 2001, onde a produção passou de 7 mil toneladas para 16 mil toneladas ao
ano. (14)
Atualmente o
camarão produzido no estado é considerado um dos melhores do Brasil, tendo em
vista os crescentes investimentos em tecnologias. Antes o rendimento era de 100
kg à 150 kg por hectare. Atualmente a produção chega até a 2500 kg por hectare. (14)
Um pequeno
produtor que apresente uma fazenda com 3 mil hectares determinadas para o
cultivo do camarão dispostos em cerca de quatro viveiros apresenta uma
produção média de 3 mil quilos por hectare com uma renda girando em torno de 2
mil reais. (10)
Em um tanque
de 1ha, considerando que exista 80% de sobrevivência e a 13 g por camarão
despescado, é esperada uma produção de aproximadamente 1t por despesca
(com uma média de 3 despescas anuais por tanque), o que representa no
máximo 3 t/ha.ano. Assim sendo, fazendo uma análise direta é possível
concluir que para cada tonelada por hectare de camarão produzido em sistemas
artificiais (considerando o ótimo de rendimento do tanque), outros 0,3 t/ha.ano
de organismos de grande importância econômica são perdidos, considerando também
o ótimo ecológico dos sistemas naturais, ou ainda, 0,2 t/ha.ano de camarão
nativo. (16)
O estado
apresenta o maior crescimento anual que girou em torno de US$ 1.558.300,00 em
1999 para US$ 13.460.698,00 em 2000. No ano de 2000 o camarão congelado
apresentou um grande volume de exportações conseguindo a terceira posição no
âmbito do cenário regional. Comparando-se os anos de 2000 e 1999 o estado
também surge com o maior percentual de crescimento. Entre os anos de 1998 e
2000, a região Nordeste mostrou um crescimento de 2400% na exportação do
produto. (15)
A
carcinicultura só no primeiro semestre de 2001 teve um incremento de 90,2% nas
exportações em relação ao período anterior. Em 2003 das 37,5 toneladas
produzidas apenas 18,7 mil foram destinadas ao mercado externo. (21) e (24)
O crescimento
da carcinicultura na década de 90 chegou a uma velocidade de 150% ao ano.
Apesar do fato desse crescimento se manter em um ritmo acelerado o incremento
médio é de 50%. No intervalo de janeiro a julho de 2003 o estado obteve um
crescimento de 80% comparando com o ano anterior, indo de 5,9 mil para 10,5 mil
toneladas. (13)
O camarão
chega a representar até um terço de todas as exportações feitas pelo Rio
Grande do Norte. Sendo os Estados Unidos e os países europeus os principais
consumidores. (11)
Divisas
geradas pela carcinicultura
A valorização dada ao ecossistema manguezal quando comparado ao
lucro líquido das fazendas intensivas de camarões é basicamente equivalente.
Entretanto, fazendo uma análise do custo-benefício, apesar do ganho com as divisas as perdas econômicas geradas com o
declínio da pesca, somado aos prejuízos econômicos advindos dos assoreamentos
dos canais navegáveis, da perda da balneabilidade das praias adjacentes, da
perda de divisas com o turismo, dentre outros, elevará as cifras em muitas
vezes quando comparadas com aquelas estimadas para a indústria camaroneira.(16)
No ano de
2003, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio, a carcinicultura
potiguar vendeu 71 milhões de dólares, algo girando em torno de 19 toneladas do
crustáceo. (25)
Rio Grande do Norte e Ceará juntos respondem por cerca de 2/3 das
60,2 mil toneladas de camarão e 247 milhões de dólares gerados com as
exportações do produto pelo Brasil. (25)
O Estado encerrou o primeiro semestre do ano de 2003 com vendas
externas da ordem de US$ 40.565 milhões. Comparando com o mesmo período de
2002, as vendas tiveram um incremento de 140,42%. No ano passado, o Estado teve
participação de 31% do total das exportações do produto feitas pela Região
Nordeste, que foi de US$ 152.739.805. (6)
O camarão congelado evoluiu em importância para a economia do RN,
passando de oitavo (1999) para quarto (2000) passando a ser o mais importante
produto de exportação estadual. Os números da receita atual (julho/2001),
apresentam um total de US$ 14.660.248,00, superando os do ano passado.
Comparando os anos de 1999 e 2000 o camarão, nesse mesmo período, apresentou um
crescimento de mais de 763%. O camarão congelado também apresenta maior
evolução entre igual período de 2000 e 2001. Saltou de US$ 7 milhões para US$
14,7 milhões, elevando sua participação em 109% da balança de exportação
estadual. (20)
Vale ressaltar
ainda que a queda das exportações para o Estados Unidos não refletiu numa
redução do volume global de exportações do Rio Grande do Norte. Pelo contrário,
no primeiro semestre de 2004, as vendas do crustáceo para o exterior já
representam um faturamento de US$ 42,8 milhões, contra US$ 32,5 milhões
registrado em todo o ano passado. (17)
Questões
ambientais (26)
Mesmo sendo a
carcinicultura considerada uma das atividades econômicas de maior expansão no
RN, é em contrapartida, uma das que mais causam danos ambientais ao ecossistema
dos manguezais, razão pela qual o Ibama é o órgão responsável por autuar e
cassar as licenças para criação de camarão em áreas de invasão de mangue. Os
responsáveis pela devastação podem ser enquadrados na lei de crimes ambientais
que prevê multa e até prisão. (19)
Os manguezais,
são áreas de proteção ambiental, e que funcionam como um filtro natural. Sem
esse filtro natural, os produtos químicos e antibióticos utilizados nos
viveiros acumulam-se lentamente, trazendo muitos prejuízos ao ambiente, como
por exemplo nos estuários do Rio Potengi, em Natal, e na Barra do Cunhaú, no
Sul do Estado, são locais onde os viveiros de camarão já transformaram o
caranguejo em espécie rara, prejudicando as populações ribeirinhas que se
sustentam do que vem do mangue. (7) e (4)
Com a
introdução de alimentos nos tanques de cultivo, as quantidades de materiais em
suspensão, que ultrapassam teores de 50mg/L em sólidos filtráveis, são
aumentados, de modo que, pela própria dinâmica da atividade, pode-se atingir
valores críticos para organismos filtradores, gerando a impossibilidade de
filtração para animais como as ostras, por exemplo. (7)
O
aumento do material em suspensão (decorrente da oferta de alimento não de todo
utilizado) liberado para o corpo receptor, no final de cada ciclo de produção,
poderá ocasionar sérios problemas para os organismos do ecossistema,
representando uma intervenção nociva ao ambiente. (7)
Mesmo
escondida pelos meios de comunicação, a degradação ambiental, a destruição dos
manguezais, a invasão de rios, lagoas, barragens, o desrespeito as comunidades
de pescadores e a salinização de aqüíferos que abastecem cidades inteiras esta
acontecendo. (18)
Manguezais
estão sendo invadidos, destruídos e muitos rios e lagoas estão sendo poluídos
pelos resíduos e pelo sal utilizado nos camarões. (18)
Na cidade de
Senador Georgino Avelino, a carcinicultura, trouxe a salinização da lagoa
Capeba, o que causou a diminuição de peixes e de crustáceos e também a
contaminação do aqüífero que abastece a cidade. Na cidade de Arês a situação
não é muito diferente. Resíduos da carcinicultura predatória estão poluindo as
águas do Rio jacú e da lagoa do Guarai. (18)
As fazendas de
criação de camarão causaram vários problemas, entre eles a escassez de água
para consumo da comunidade onde se situam, uma vez que os viveiros necessitam
de uma grande quantidade de água e, ainda, devolvem a água utilizada com
substâncias que conseqüentemente vão poluir os mananciais.(9)
Para agravar
ainda mais a situação, o Governo e os órgãos ambientais não possuem
sistema de controle da atividade, tanto no que se refere à qualidade da água
quanto no que diz respeito à própria atividade de carcinicultura. (18)
As
conseqüências ambientais com o uso excessivo das áreas com monocultivo de
camarões pode gerar problemas ambientais, que justificam a busca de
alternativas de locações dos empreendimentos de carcinicultura. O lançamento de
efluentes pelas fazendas de camarão pode exceder a capacidade assimilativa do
corpo receptor, tendo como resultado o comprometimento da qualidade da água
para uso na própria fazenda. (7)
A falta de
seriedade nos licenciamentos ambientais, associada à precária fiscalização, ou
mesmo a atos que seriam considerados de improbidade administrativa, são
incapazes de estabelecer parâmetros respeitáveis para a atividade. Alterações
normativas são promovidas ora para incentivar, ora para consumar práticas
degradantes. As autoridades governamentais relutam em implementar e fazer valer
o Zoneamento Ecológico-Econômico no litoral. Com isso, a atividade se expande
ilegalmente ou com uma aparente legalidade, por todo o litoral. Busca-se adotar
códigos de condutas responsáveis que, no entanto, só têm produzido belos
discursos. (8)
Empreendimentos
onde o controle ambiental é precário, os impactos sócio-econômicos são maiores,
envolvendo riscos como a redução da área produtiva da atividade tradicional de
mariscagem e pesca; alteração do padrão social tradicional; redução dos
estoques pesqueiros; privatização de áreas de uso público com
indisponibilização de bens comuns; e riscos à saúde por uso de substâncias
químicas. (7)
Desde que se
busquem alternativas de localização no sentido de serem respeitados os
dispositivos de leis que estabelecem a preservação dos manguezais, e que se
atendam aos demais critérios de sustentabilidade estabelecidos pelo Conama em
recente resolução, a atividade poderá ser considerada eco-compatível. Num
modelo desenvolvimentista, de lucro a qualquer custo - sobretudo ambiental -,
sem dúvida a carcinicultura é um grande e grave problema. Na ótica do modelo
sustentável, se não é uma solução, é indubitavelmente uma alternativa altamente
justificável para o desenvolvimento econômico e, por que não, da manutenção da
integridade ecológica dos ambientes explorados, na medida em que um dos pilares
de sua sustentabilidade é a própria manutenção do equilíbrio do ecossistema. (7)
Devastação(26)
Os manguezais
são importantes como ecossistemas exportadores de matéria orgânica para águas
costeiras o que faz com que eles tenham um papel fundamental na manutenção da
produtividade biológica. (12)
No entanto, os
manguezais vem freqüentemente sofrendo devastação para a construção de viveiros
de camarão, que impedem a recuperação da vegetação nativa. (4)
As grandes
empresas exportadoras de camarão destroem os mangues e expulsam os pequenos
criadores. A tendência é que os pescadores donos de pequenas fazendas
desapareçam para dar lugar às multinacionais. (22)
Além de que o camarão utilizado é o camarão gigante da Malásia,
espécie que desenvolve um fungo que poderá contaminar todo o litoral, lagos e
lagoas causando a morte de várias espécies nativas, entre elas o nosso
verdadeiro camarão, nossas lagostas e prejudicar economicamente o Rio
Grande do Norte. (18)
Definir regras
claras de convivência da atividade com o meio ambiente, nacionalizar os
ingredientes da ração e trazer a produção de implementos para a região são
prioridades urgentes. (21)
Para os
ambientalistas a culpa do Ibama é a omissão de não punir os grandes fazendeiros
que desmatam manguezais para fazer viveiros de camarão. Invadir mangue para
qualquer fim é crime ambiental. Mesmo o aproveitamento de salinas abandonadas
para fazendas de camarão é proibido. (22)
Muitas áreas
de mangue foram convertidas em salinas nos municípios de Areia Branca, Macau e
Galinhos. A antiga salina Amarra Negra, em Galinhos, fechou gamboas do mangue
para transformá-lo em salinas e provocou um dos maiores crimes ambientais do
RN, na década de 70. (22)
Os órgãos de
fiscalização muitas vezes não sabem (ou fazem que não sabem) o que está ocorrendo,
ou ainda, dão permissão para tal devastação e implantação de fazendas de
camarão, alegando que são áreas já degradadas por indústrias salineiras. (4)
A invasão dos
manguezais não é apenas um crime ambiental. É também um atentado contra as
populações pobres das áreas ribeirinhas, que sobrevivem de catar caranguejos,
mas com as áreas transformadas em viveiros para camarão, esse crustáceo tende a
sumir. (22)
Os
empreendimentos têm sido implantados em áreas de manguezais, protegidos por
legislação federal e que constituem um ecossistema rico em espécies aquáticas
marinhas e continentais. (9)
As fazendas de
criação de camarão necessitam de uma grande quantidade de água, que após ser
utilizada é devolvida aos mananciais com substâncias poluentes, podendo gerar
escassez para o consumo de comunidades que se situem próximas ou que estão
concentradas nos manguezais, ou ainda em áreas de clareiras naturais destes
manguezais, onde não há vegetação, chamadas de apicuns ou salgados. (4)
Atualmente
estão sendo verificados os índices de nitrogênio, fósforo e metais pesados nas
águas. As substâncias citadas provocam um fenômeno conhecido como eutrofização,
que seria o acúmulo de nutrientes nas águas gerando um aumento acelerado da
população de algas cianofitas, que consomem bastante oxigênio. O desequilíbrio
resulta na desoxigenação do rio e morte dos peixes. (5)
Nas quatro últimas décadas, a carcinicultura marinha teve um
crescimento vertiginoso, em função da demanda de países como os EUA, Japão e
alguns países europeus no consumo de camarões peneídeos. Em alguns países da
Ásia e América Latina, a construção indiscriminada de tanques de carcinicultura
e canais de abastecimento de água representou uma redução nas áreas de
manguezais e afetando portanto a produtividade pesqueira da região. (5)
A
carcinicultura vem se tornando um tensor aos manguezais. O tensor opera de forma
que pode ocasionar uma regressão do ecossistema até etapas similares as etapas
sucessionais prévias. No caso do ecossistema manguezal, toda obra de
engenharia, como a construção de canais e tanques para carcinicultura por
exemplo, causa impacto e seu grau dependerá da qualidade e intensidade do
tensor. Em linhas gerais, os impactos estão relacionados às mudanças na
drenagem, desvio ou impedimento do fluxo das marés e mudanças nas
características físico-químicas do substrato. (16)
Na
tabela abaixo é possível ver a relação entre o tipo de impacto, a causa e seu
efeito sobre o mangue.
Tipo de impacto
|
Causa
|
Efeito
|
1. Construção de
canais
|
1.1 – Canalização e desvios de fluxo de água.
|
1.1 – Redução no aporte de nutrientes, acúmulo de
substâncias tóxicas no sedimento.
|
2. Construção de
barreiras, taludes e/ou tanques
|
2.1 – Acúmulo de água no
sedimento;
2.2 – Impedimento da entrada das
marés.
|
2.1 – Impedimento de trocas gasosas e
hipersalinidade;
2.2 – Evaporação da água do sedimento e aumento da
temperatura e da salinidade.
|
3. Sedimentação
por erosão do talude e descarga de efluente
|
3.1 – Sufocamento das raízes respiratórias.
|
3.1 – Impedimento das trocas gasosas.
|
4. Contaminação
por patógenos, hormônios, carrapaticidas, compostos químicos, resíduos
alimentares e fertilizantes lançados por efluentes dos tanques
|
4.1 – Aumento no aporte de
nutrientes;
4.2 – Acúmulo de matéria orgânica
no sedimento;
4.3 – Contaminação de peixes e
mariscos por agentes patogênicos;
4.4 – Perda da qualidade das águas
estuarinas;
4.5 – Contaminação por substância
químicas.
|
4.1 – Efeito positivo – incremento no crescimento do
mangue e efeito negativo – excesso causa a mortandade das espécies vegetais e
eutroficação da coluna d’água;
4.2 – Efeitos danosos na fauna e flora bêntica;
4.3 – Mortandade de espécies de importância
econômica;
4.4 – Quebra da cadeia trófica;
4.5 – Morte das espécies da fauna e flora dos estuários,
manguezais e ecossistemas adjacentes.
|
5. Introdução de
espécies exóticas
|
5.1 – Competição, destruição de habitats, predação.
|
5.1 – Ainda há poucos indícios e estudos que relatam
tais alterações.
|
Em todos os casos descritos, haverá perda das produtividades
primária e secundária, redução do desenvolvimento estrutural dos bosques de
mangue e da biodiversidade. Além desses tensores gerados pelos tanques de
carcinicultura, outros de origem externa poderão estar atuando e que portanto
potencializarão a perda da qualidade ambiental de forma significativa,
principalmente com relação a qualidade das águas do estuário. Há uma
dependência intrínseca entre a qualidade da água dos estuários e costeiras e a
qualidade e conservação dos manguezais. (16)
Estudos em áreas de manguezal próximas às fazendas de camarão,
apontam uma redução significativa do desenvolvimento estrutural dos bosques de
bacia e apicuns, com conseqüências diretas a exportação de material dissolvido
às águas costeiras. Um exemplo de impacto em escala regional, são as
modificações impostas por alterações no hidrodinamismo do ecossistema, através
da construção de barreiras e retirada da cobertura vegetal, afetando o
equilíbrio dinâmico dos estuários e acarretando num maior aporte de sedimentos
terrígenos e materiais suspensos e dissolvidos que são transportados pelas
correntes de marés e pela deriva ao longo da costa. Naturalmente, esse material
é aprisionado e/ou assimilado pelo ecossistema manguezal, minimizando o impacto
provocado pela erosão e pela contaminação das águas costeiras. (16)
Além disso, o impacto da construção de tanques sobre a
produtividade estuarina com a substituição dos manguezais, e a queda da
produtividade dos bancos de corais devido a morte dos organismos, deve apontar
para um efeito sinérgico sobre a produtividade costeira, com conseqüências
diretas a economia e a sociedade. (16)
Do ponto de vista ecológico, algumas dessas modificações são
locais e de menor significado, enquanto outras podem determinar efeitos
regionais tão nocivos que tornam o ambiente natural incapaz de sustentar a
própria atividade. (16)
A construção de tanques sobre sedimentos ricos em matéria orgânica
(tais como os de mangue-vermelho, Rhizophora
mangle) engendram sérios problemas. Os tanques logo após as construções são
drenados e secados para promover a oxidação da matéria orgânica. Com a
dessecação e a oxidação, os compostos de enxofre do sedimento formam ácido
sulfúrico e a decomposição das argilas devido a ação do ácido podem liberar
íons de ferro e alumínio em quantidade tóxicas à biota. A presença do ácido
sulfúrico no fundo dos tanques causa um decréscimo no pH quando aqueles se
inundam, alcançando valores de pH 5 e 4. Para resolver estes problemas torna-se
necessário o não desenvolvimento de fazendas camaroneiras em áreas de
manguezal, recuperação de bosques de mangue degradados por esta atividade,
monitoramento dos impactos e medidas mitigatórias para se evitar danos ao
ecossistema com o lançamento de dejetos dos tanques aos estuários eliminados de
forma irresponsável. As áreas de manguezal são apontadas por esta organização
como as piores para a construção de tanques de engorda, devido ao pH ácido com
alto grau de matéria orgânica e instáveis, pois estes terrenos são dificilmente
drenados e secados adequadamente e porque os manguezais e outras áreas úmidas
costeiras não deveriam ser destruídos pelo seu valor ecológico e seu papel na
proteção da zona costeira contra tormentas e ondas. (16)
Tradições culturais e ecológicas das comunidades, geram empregos e
vem mantendo a economia local estável. Embora os usos tradicionais dos
manguezais possam ser considerados por alguns como exploração dos recursos,
eles de fato envolvem formas astutas de manejo que incorporam as
características do ambiente às necessidades da população de sobreviver e o
nível de tecnologia que dispõem para usar os recursos. A supressão dos estoques
naturais relacionados a destruição dos ecossistemas costeiros, causará a
supressão de valores culturais difíceis de serem quantificados, que se perdem
no tempo e praticamente não retornam às origens nas gerações futuras. (16)
Todo empreendimento modificador do meio, deve levar em
consideração a análise de custo-benefício a longo prazo, buscando a qualidade
de vida da gerações futuras. Vários dispositivos legais a níveis federal,
estadual e municipal asseguram a preservação do ecossistema manguezal e seu
entorno. A carcinicultura vem ferindo leis e convenções internacionais com o
respaldo dos órgãos ambientais brasileiros. Portanto, torna-se de fundamental
importância a modificação desses conceitos que colocam o lucro em primeiro
lugar, e assim impedir que a carcinicultura continue a destruir um bem que é de
todos. (16)
very informative, thankyou. Obrigado
ResponderExcluirqual a fonte?
ResponderExcluirpesquise no link:
ResponderExcluirhttp://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Carcinicultura/46987368.html
qual o autor?
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