sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A seca, o consumo, o endividamento e a “agiotagem”

A seca que assola a região dizimou parte significativa dos rebanhos, das lavouras temporárias e permanentes e até a apicultura foi afetada. Na verdade, o setor agropecuário foi, e continua sendo, duramente atingindo.

Como a atividade primária ainda representa cerca de um terço do PIB regional, tem-se um efeito dominó, principalmente, afetando o segmento comercial.

A seca já compromete a melhoria de vida que se verificou na região a partir do ano 2000.

A região, historicamente, apresentou índices de indigência e pobreza muito elevados. Ainda temos indicadores vergonhosos, mas boa parte dos municípios reduziu drasticamente os índices de indigência (a redução foi mais intensa a partir de 2000) e a população pobre também diminuiu.

A ascensão social via Bolsa Família e aumento real do salário mínimo, permitiu a realização de alguns sonhos de consumo. Os dados do IBGE demonstram que a energia elétrica está presente em quase 100% dos lares; água canalizada é uma realidade em quase todos os domicílios urbanos da região; televisão; geladeira; além de outros eletrodomésticos já estão presentes na maioria dos lares e o celular se tornou parte do dia a dia dos pobres.

A aposentadoria rural e o Bolsa Família se constituem em renda regular para os beneficiários e que, associadas às outras atividades como agricultura de subsistência e o trabalho na construção civil lançaram ávidos consumidores no mercado.

Aqueles que nunca tiveram condição de planejar uma compra passaram a fazê-lo, tornaram-se clientes habituais de inúmeros pequenos negócios e o efeito positivo na economia foi reconhecido e sentido por todos da região.

De outro lado, tem-se observado mais recentemente um componente preocupante: o elevado endividamento das famílias, principalmente, daquelas que ainda estão no limiar da pobreza.

O gosto pelo consumo e algumas facilidades de crédito, inclusive o consignado para os aposentados, produziu ao menos dois efeitos colaterais: a elevação do endividamento familiar e nunca se verificou o enriquecimento de tantos agiotas na região.

Aliás, a prática da agiotagem virou epidemia regional. Os “especialistas” que emprestam dinheiro aos pobres retêm cartões do Bolsa Família e esperam os aposentados saírem das filas de pagamentos de bancos, agências dos Correios e, sem cerimônias, vilipendiam os “clientes”.

Juntando tudo temos um cenário preocupante. A seca obriga o pequeno produtor, o trabalhador rural e demais pessoas ligadas ao mundo “rurbano” a utilizarem suas rendas (bolsa família e aposentadoria) para comprar alimentos, água, ração, etc. para sobreviver ou manter vivos os rebanhos.

A “folga” orçamentária para pagamentos de compromissos (parcelas de crediários, prestações, etc.) deixou de existir. Os credores que já passam por dificuldades (crescimento da inadimplência) aumentam a pressão.

Os aposentados sofrem duplamente: acossados por familiares e por dívidas contraídas (consignados, prestações próprias e de familiares, gastos com aquisição de água, etc.) acabam caindo nas mãos de agiotas e, finalmente, encontram o pior dos cenários.

O mais lamentável é que as sanguessugas da dignidade alheia flanam como se nada, nem ninguém, seja capaz de pará-los. Dormem tranquilos, tomam café da manhã na companhia da família, levam os filhos ao colégio e depois...

Bem, depois... Extorquem alguns miseráveis.


Virou profissão e de elevado prestígio!!!

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