quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O direito de greve e o medo de reivindicar

Os professores portalegrenses, tradicionalmente acomodados, receiam deflagrar uma greve.

O que tanto temem?

Temem perseguições que poderiam ocorrer? Não creio.

O atual prefeito é austero, exige empenho, gosta de resultados, mas não encarna a figura de perseguidor. Exige de todos os funcionários, inclusive de seus correligionários.

Não creio que, sendo também um servidor público, passe a perseguir alguém por ter aderido a uma greve. Afinal, o próprio prefeito já moveu um processo contra o Estado por questões salariais.

Os professores portalegrenses se acostumaram a zona de conforto em que vivem. Tudo está bom, mesmo com as perdas salariais já ultrapassando os 30%. 

Não é pouca coisa.

Outro “argumento” para não deflagrar a greve é que depois teriam que compensar os dias parados. 

Ora bolas! 

É claro que os dias parados terão que ser compensados. Não se faz greve para prolongar as férias, não se faz greve para penalizar os estudantes; não se faz greve para que se enriqueça a custa dos cofres públicos.

Alguns temem aderir a greve e o prefeito ficar achando que o grevista não é mais seu eleitor. 

Não se faz greve contra ou a favor do gestor. Pode-se fazer a greve e continuar eleitor ou admirador político do prefeito.

A greve serve para reivindicar direitos, é um instrumento legítimo, tem que ser utilizado com responsabilidade e não se pode confundir com manobras politiqueiras.

Os servidores de Portalegre jamais fizeram uma greve e não foi por falta de motivos, mas por um medo despropositado e o resultado dessa apatia tem reflexos até hoje.

Por exemplo, porque os demais servidores não se solidarizam com os garis que lutam a mais de uma década para conseguirem a reparação de perdas (ações tramitando na Comarca de Portalegre) associadas ao adicional de insalubridade?

Porque não se unem em relação às perdas do FGTS? 

São inúmeras ações judiciais individuais (ações tramitando na Comarca de Portalegre), muitas delas movidas por eleitores do atual prefeito. Ou seja, não foi por buscar a reparação de algo que consideram justo que deixaram de serem eleitores de A ou de B.

Muitos servidores buscaram a justiça e recebem ou já receberam precatórios pagos pela prefeitura. Por acaso alguém deixou de ser procurado nas eleições? Algum foi perseguido?

Quem abre mão de direitos para continuar na zona de conforto não exerce plenamente o papel de cidadão ou cidadã. Acostumaram-se a omissão, mas continuam resmungando que trabalham demais, reclamam disso, reclamam daquilo, mas na hora H...


Esperam pelos outros ou que as soluções aconteçam magicamente.

Lembrem: a greve, caso seja aprovada, é para fazer valer direitos e os alunos têm o direito de estudar. Então, não se pode aprovar a greve e ficar em casa esperando o tempo passar. Tem que explicar aos alunos, aos pais dos alunos, fazer mobilização... 

A greve tem que ser pedagógica, afinal, os portalegrenses também têm que se descobrirem como sujeitos de direito.

Que sejam os professores os responsáveis por mais essa lição.

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