Ninguém duvida que a qualidade da água distribuída pela CAERN aos
usuários de Pau dos Ferros é insatisfatória.
A companhia já deveria ter suspendido a cobrança porque não está
entregando o que o contrato de fornecimento estabelece.
Mas existem algumas questões que não estão sendo devidamente
enfrentadas. Estão, a meu juízo, ausentes dos debates.
Relembrarei algumas delas.
Vejam novamente a ficha técnica do reservatório pauferrense:
Denominação: Pau dos Ferros
Município: Pau dos Ferros / RN
Bacia: Apodi/Mossoró
Rio barrado: Rio Apodi
Localização: Situado à 3 km da
cidade de Pau dos Ferros
Construtor: DNOCS
Proprietário: DNOCS
Conclusão da Construção: 1967
Área: 1.165,36 ha
Capacidade Máxima:
54.846.000,00 m³
Volume Morto: 1.092.710,00 m³
Ficha completa: Pau dos Ferros
O reservatório tem pouco
mais de 5% da capacidade (5,19%).
Continha rápida: a
barragem ainda tem, aproximadamente, 2.742.300m³, descontando o volume morto (1.092.710,00 m³), ainda restariam 1.649.590m³.
Não é pouca água. Na verdade,
é um volume bem maior do que a capacidade total de boa parte dos reservatórios
existentes na região.
Primeiro ponto: porque não
aproveitar a situação e realizar o desaterramento e a limpeza do reservatório?
Segundo e mais importante:
porque a água está verde? Quais as causas de tanta poluição?
Açude Pau dos Ferros: 5,19% de reserva e água esverdeada (Tribuna do Norte)
Evidentemente, não estou
relativizando o fato, incontestável, da pouca quantidade de água existente em
relação ao tamanho do reservatório, mas não tem como não considerar os possíveis
impactos ambientais produzidos pelo homem.
O aspecto verde da água
sugere uma elevada concentração de algas e talvez cianobactérias.
Leiam:
“O aumento da disponibilidade de nutrientes na água
causada, por exemplo, pelo lançamento de esgoto [...] permite um aumento
significativo de algas e cianobactérias, com consequente redução de oxigênio e
bloqueio da luz solar em razão da presença destas na superfície. Nessas
condições, plantas enraizadas passam a ter dificuldade para efetuar a
fotossíntese, prejudicando seu crescimento; e animais não resistem à falta de
oxigênio e alimento. Com a morte desses organismos, bactérias e seres bentônicos se proliferam, utilizando o pouco oxigênio restante e, ainda, alguns
liberando toxinas. Esse fenômeno é conhecido por eutrofização.”
(Mariana Araguaia – bióloga)
Vamos aproveitar o momento
para debater a necessidade de recuperação e a preservação dos nossos mananciais?
A poluição absurda que
fica evidente, inclusive a olho nu, não deve ser menosprezada. A barragem ainda
tem mais do dobro do seu chamado volume morto, mas, claramente, não serve mais
para o consumo humano.
Como se observa na ficha
técnica, o proprietário do reservatório é o DNOCS. O Órgão tem capacidade de
investimento e, principalmente, tem obrigação de esclarecer aos aflitos
moradores de Pau dos Ferros as causas de tamanha poluição, bem como, CAERN, IDEMA, etc.
A seca expôs o enorme
problema ambiental que temos, mas, por enquanto, infelizmente, não foi suficiente
para despertar o interesse de quase ninguém.
Que venha a adutora de
engate rápido, de engate lento, de qualquer engate, mas não se desperdice a
oportunidade para verificar as causas da degradação ambiental existente. Deixando-se
passar, corre-se o risco da poluição se intensificar e a qualidade da água só
piorar, mesmo em níveis mais satisfatórios, no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário