Recebi um comentário anônimo com uma ‘avaliação’
do resultado da greve em Portalegre.
O anônimo também escreveu algumas
gracinhas, xingamentos e trechos de puxa-saquismo explícito que jamais serão
publicadas neste blog.
De início, nem dei muita atenção, mas
resolvi pesquisar algumas informações sobre a educação portalegrense por que
fiquei com a impressão de que a defesa dos interesses da gestão não deve se
sobrepor aos fatos.
Vamos lá.
Existe um princípio econômico que
assegura: "as pessoas reagem a incentivos". Em outras palavras, isso quer dizer
que as pessoas tomam decisões
comparando custos e benefícios e seu comportamento pode mudar quando os custos
ou os benefícios mudam.
Por exemplo: quando se deseja
alcançar metas mais arrojadas, podem-se oferecer premiações, gratificações,
remuneração extra, etc. e, geralmente, os resultados acontecem.
A lógica é evidente.
Agora, imaginem a possibilidade de
êxito da seguinte estratégia: os índices, por exemplo, da educação municipal
não são considerados satisfatórios pela gestão e que o caminho escolhido para
enfrentar a situação seja não cumprir a legislação em vigor que assegura o
pagamento do piso salarial, a hora-atividade, além de outros benefícios aos
docentes.
Tem lógica?
Não precisa ser um gênio da raça
para perceber a baixa probabilidade de sucesso de tal coisa.
Mas, os ideólogos do ‘progressismo
portalegrense’ acreditam nisso. Querem convencer os professores portalegrenses
a aceitarem resignadamente um salário 30% menor do que têm direito.
E, quem sabe até, ainda agradecer
a ‘bondade’, tendo em vista que não fariam jus ao piso salarial da categoria
por, supostamente, existir uma ‘deficiência no ensino/aprendizado’ mais que
proporcional a ‘deficiência’ no salário.
Considerando que a ‘deficiência’
do salário é superior aos 30%, pode-se dizer que os alunos das escolas
municipais estejam 30% abaixo da média em ensino/aprendizagem, será?
IDEB – PORTALEGRE 4ª série – 5º
ano
Ano
|
Ideb observado
|
Meta municipal
|
Média municipal (Brasil)
|
2005
|
2,8
|
-
|
3.4
|
2007
|
3,0
|
2,9
|
4,0
|
2009
|
3,0
|
3,2
|
4,4
|
2011
|
4,0
|
3,6
|
4,7
|
IDEB – PORTALEGRE 8ª série – 9º
ano
Ano
|
Ideb observado
|
Meta
|
Média municipal (Brasil)
|
2005
|
-
|
-
|
3,1
|
2007
|
3,1
|
-
|
3,4
|
2009
|
3,4
|
3,2
|
3,6
|
2011
|
*
|
3,4
|
3,8
|
* Sem
média na Prova Brasil 2011
Bem, as metas estabelecidas para o
município de Portalegre têm sido, no geral, atingidas. A média atingida pelo
município em relação à média municipal observada no país é inferior, mas não
existe uma distância superior aos 30%.
Vale observar que o IDEB deve ser,
preferencialmente, considerado em relação ao que se obteve no município (ou
escola) frente ao que foi estabelecido como meta e, neste aspecto, os
resultados podem ser considerados satisfatórios.
E no passado era ‘melhor’?
Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - Portalegre – RN
|
|||
IDHM
e componentes
|
1991
|
2000
|
2010
|
IDHM
Educação
|
0,168
|
0,292
|
0,547
|
%
de 18 anos ou mais com ensino fundamental completo
|
11,39
|
17,46
|
35,31
|
%
de 5 a 6 anos frequentando a escola
|
62,07
|
82,27
|
100,00
|
%
de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental
|
16,22
|
42,10
|
84,60
|
%
de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo
|
2,43
|
14,16
|
51,98
|
%
de 18 a 20 anos com ensino médio completo
|
0,96
|
12,26
|
35,27
|
A tese de que no passado a educação era
melhor também carece de sustentação em dados. Pode-se dizer que os professores
ganhavam menos e nunca fizeram uma greve, que eram acomodados com a situação,
que não existia uma lei que lhes garantissem um piso salarial, etc. pode-se até
dizer que alguns alunos lograram êxito em suas profissões, mas a ideia de que a
educação era melhor do que hoje é, como direi para não magoar os espíritos mais
sensíveis, estapafúrdia.
E olha que os ‘progressistas’ têm
verdadeira fixação para apontar as gestões de décadas passadas como
responsáveis por todas as mazelas da atualidade, mas quando se encontram na
situação de justificarem algum absurdo, não se fazem de rogados, sacrificam o
blábláblá.
Suposições a parte e, felizmente, vivemos
numa democracia para que se suponha qualquer coisa (até mesmo tolices,
caro anônimo), vale destacar que, a luta empreendida pelos docentes
portalegrenses não pode ser desprezada, muito menos quando o propósito do analista é
apenas servir aos caprichos do mandachuva de plantão.
A luta é justa (direito adquirido) e
pedagógica, pois ensina aos diversos segmentos da sociedade que o exercício da
cidadania só é possível quando não se abre mão de direitos.
Os indicadores da educação municipal dão razão aos professores. Vocês
têm feito o que é possível, apesar da gestão municipal teimar em não reconhecer
o mérito de todos.
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