sexta-feira, 25 de abril de 2014

Não é somente o dinheiro...


Recebi um comentário anônimo com uma ‘avaliação’ do resultado da greve em Portalegre.

O anônimo também escreveu algumas gracinhas, xingamentos e trechos de puxa-saquismo explícito que jamais serão publicadas neste blog.

De início, nem dei muita atenção, mas resolvi pesquisar algumas informações sobre a educação portalegrense por que fiquei com a impressão de que a defesa dos interesses da gestão não deve se sobrepor aos fatos.

Vamos lá.

Existe um princípio econômico que assegura: "as pessoas reagem a incentivos". Em outras palavras, isso quer dizer que as pessoas tomam decisões comparando custos e benefícios e seu comportamento pode mudar quando os custos ou os benefícios mudam.

Por exemplo: quando se deseja alcançar metas mais arrojadas, podem-se oferecer premiações, gratificações, remuneração extra, etc. e, geralmente, os resultados acontecem.

A lógica é evidente.

Agora, imaginem a possibilidade de êxito da seguinte estratégia: os índices, por exemplo, da educação municipal não são considerados satisfatórios pela gestão e que o caminho escolhido para enfrentar a situação seja não cumprir a legislação em vigor que assegura o pagamento do piso salarial, a hora-atividade, além de outros benefícios aos docentes.

Tem lógica?

Não precisa ser um gênio da raça para perceber a baixa probabilidade de sucesso de tal coisa.

Mas, os ideólogos do ‘progressismo portalegrense’ acreditam nisso. Querem convencer os professores portalegrenses a aceitarem resignadamente um salário 30% menor do que têm direito.

E, quem sabe até, ainda agradecer a ‘bondade’, tendo em vista que não fariam jus ao piso salarial da categoria por, supostamente, existir uma ‘deficiência no ensino/aprendizado’ mais que proporcional a ‘deficiência’ no salário.

Considerando que a ‘deficiência’ do salário é superior aos 30%, pode-se dizer que os alunos das escolas municipais estejam 30% abaixo da média em ensino/aprendizagem, será?

IDEB – PORTALEGRE 4ª série – 5º ano
Ano
Ideb observado
Meta municipal
Média municipal (Brasil)
2005
2,8
-
3.4
2007
3,0
2,9
4,0
2009
3,0
3,2
4,4
2011
4,0
3,6
4,7


IDEB – PORTALEGRE 8ª série – 9º ano
Ano
Ideb observado
Meta
Média municipal (Brasil)
2005
-
-
3,1
2007
3,1
-
3,4
2009
3,4
3,2
3,6
2011
*
3,4
3,8
* Sem média na Prova Brasil 2011

Bem, as metas estabelecidas para o município de Portalegre têm sido, no geral, atingidas. A média atingida pelo município em relação à média municipal observada no país é inferior, mas não existe uma distância superior aos 30%.

Vale observar que o IDEB deve ser, preferencialmente, considerado em relação ao que se obteve no município (ou escola) frente ao que foi estabelecido como meta e, neste aspecto, os resultados podem ser considerados satisfatórios.

E no passado era ‘melhor’?

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes - Portalegre – RN
IDHM e componentes
1991
2000
2010
IDHM Educação
0,168
0,292
0,547
% de 18 anos ou mais com ensino fundamental completo
11,39
17,46
35,31
% de 5 a 6 anos frequentando a escola
62,07
82,27
100,00
% de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental
16,22
42,10
84,60
% de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo
2,43
14,16
51,98
% de 18 a 20 anos com ensino médio completo
0,96
12,26
35,27

A tese de que no passado a educação era melhor também carece de sustentação em dados. Pode-se dizer que os professores ganhavam menos e nunca fizeram uma greve, que eram acomodados com a situação, que não existia uma lei que lhes garantissem um piso salarial, etc. pode-se até dizer que alguns alunos lograram êxito em suas profissões, mas a ideia de que a educação era melhor do que hoje é, como direi para não magoar os espíritos mais sensíveis, estapafúrdia.

E olha que os ‘progressistas’ têm verdadeira fixação para apontar as gestões de décadas passadas como responsáveis por todas as mazelas da atualidade, mas quando se encontram na situação de justificarem algum absurdo, não se fazem de rogados, sacrificam o blábláblá.

Suposições a parte e, felizmente, vivemos numa democracia para que se suponha qualquer coisa (até mesmo tolices, caro anônimo), vale destacar que, a luta empreendida pelos docentes portalegrenses não pode ser desprezada, muito menos quando o propósito do analista é apenas servir aos caprichos do mandachuva de plantão.

A luta é justa (direito adquirido) e pedagógica, pois ensina aos diversos segmentos da sociedade que o exercício da cidadania só é possível quando não se abre mão de direitos.

Os indicadores da educação municipal dão razão aos professores. Vocês têm feito o que é possível, apesar da gestão municipal teimar em não reconhecer o mérito de todos.

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