quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

SEGURANÇA PÚBLICA: o simplismo e a burrice

Já escrevi que a situação da Segurança Pública no RN é uma espécie de "barata voa" (sem rumo, foco, objetivo...) e isso já faz tempo.

O assunto ganhou relevo por obra e graça das promessas e falas do próprio governo. Foi Robinson quem declarou que pretende ser o governador da Segurança Pública. Também pode ser colocado na conta das autoridades, sem muita coisa para mostrar, a realização de 'operações espetaculosas', com abordagens nas estradas, comboios de carros de polícia, helicóptero para, ao final, apresentarem resultados muito modestos.

Ficou cada vez mais perceptível que o governo recém eleito continua na mesma toada dos anteriores, apenas 'reagindo' as ações cada vez mais audaciosas e violentas dos criminosos e com as mesmas respostas: culpando os governos passados, pirotecnia, muita 'fumaça', falação...

O governo repete até o ponto de causar "náusea" as medidas adotadas: promoções de policiais e pagamento de diárias operacionais e um incipiente projeto piloto de policiamento ostensivo em dois bairros de Natal e pelo que se percebe acreditou que as polícias não atuavam com mais 'firmeza' por falta de incentivo financeiro.

É evidente que não existe crítica ao cumprimento das obrigações do governo em relação aos policiais, mas também é nítido que tais 'medidas' não são suficientes. Aliás, é desalentador que o 'governo da segurança' tenha visão tão simplista do problema.

"simplismo é um vício de raciocínio que consiste em se desprezarem elementos necessários na solução de um problema."

Foram vários alertas sobre o descontrole no Sistema Penitenciário, mas o governo preferiu menosprezá-los e os acontecimentos, como as sucessivas rebeliões, destruição de cadeias e as fugas,  demonstraram que as vozes críticas tinham razão.

Tardou, mas recentemente uma integrante da cúpula da segurança reconheceu que a 'porosidade' do Sistema Penitenciário, com as fugas constantes, é uma das prováveis causas da escalada da violência.

Algumas medidas foram anunciadas: bloqueio de celulares nos presídios, contratação de Agentes Penitenciários temporários, ajuda federal, ativação de guaritas de vigilância e foi levantada até a possibilidade de privatização de presídios.

Para o bem do RN é indispensável que o governo faça muito pelo Sistema Penitenciário. Quem comete crime tem que ser preso. Bandido 'bom' é bandido preso, numa cadeia que assegure condições dignas e que permita a reinserção social daqueles que não são psicopatas.

Para prender a Polícia Civil tem que investigar mais, a área de inteligência tem que ser valorizada, reunir provas e instruir adequadamente os Inquéritos. O crime se 'organizou' e é cada vez mais sofisticado e a prisão de pequenos traficantes (embora necessária - tolerância zero) é como enxugar gelo. É cada vez mais consensual que se deve atingir o núcleo financeiro das quadrilhas e ir atrás dos 'peixes graúdos'.

Frases de efeito como: "bandidos vão ficar inseguros no RN", "vamos prender toda a bandidagem" servem apenas para os títulos das matérias, mas o reconhecimento da centralidade das drogas na escalada da violência permite a implantação de estratégias mais eficazes.

O ambiente de "barata voa" tem que acabar. O diagnóstico e as medidas simplistas têm que ficar no passado e o planejamento e o profissionalismo têm que pautar o trabalho do governo da segurança, pois "pior do que tá ainda pode ficar" e o caminho mais curto é trocar o simplismo pela burrice.

Parte da população pode até embarcar na máxima de que "bandido bom é bandido morto" ou que a solução é entulhar pessoas em masmorras do século XIX, mas quem é responsável pela Segurança Pública não pode embarcar nessas "ideias", nem que seja apenas para criar factoides.

A "Lei e a Ordem" têm que prevalecer. Vão prevalecer. As forças de segurança servem ao Estado Democrático, servem a população e quem tem responsabilidade não pode transigir com o crime, mas aproxima-se de apologia ao crime quem defende soluções extremas e basta uma vítima inocente de um "julgamento precipitado" de um policial que se contamine pelo clima de guerra que não valerá à pena.

Temo a violência e espero mudanças, mas lamento o clima de saudosismo que, estupidamente, busca alguma virtude onde não existe.

Temo a violência, mas temo também a burrice e é burrice acreditar que uma reação violenta das forças de segurança melhorará a situação.

Bandidos podem ser mortos em confronto? É claro. Os policiais têm o direito e o dever de preservarem suas vidas e de terceiros em risco, mas não têm licença para sair matando, baseando-se apenas em avaliações superficiais e aleatórias de que A ou B possam ser bandidos e mesmo que sejam criminosos, caso não ameacem a vida de inocentes, têm que ser presos.

Não quero guerra, violência, barbárie!

Desejo paz, segurança, civilidade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário