A sequidão provocada pela falta de chuvas contribuiu para um aumento substancial na quantidade de queimadas nos estados do Nordeste. Na comparação com o ano anterior, 2015 registrou um avanço de quase 50% na ocorrência de queimadas no Nordeste contra 28% no país como um todo.
Jose Cruz/Agência Brasil.
O fogo nas áreas de cerrados é uma constante no Nordeste.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou os números relativos às queimadas ocorridas no Brasil ano passado. A quantidade de focos no Nordeste aumentou 48% na comparação com 2014, passando de 47,1 mil para 69,7 mil, o equivalente a um terço de todo o Brasil.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou os números relativos às queimadas ocorridas no Brasil ano passado. A quantidade de focos no Nordeste aumentou 48% na comparação com 2014, passando de 47,1 mil para 69,7 mil, o equivalente a um terço de todo o Brasil.
De acordo com o INPE, o total de queimadas no país, em 2015, alcançou 236,3 mil, 28% a mais que no ano anterior quando somou 183,6 mil. Foi o maior quantitativo desde 2010.
Os dados do INPE mostram que as maiores ocorrências de incêndios no Nordeste, no ano passado, foram registradas em municípios do Maranhão e da Bahia. Nesses dois estados, que são os maiores polos do agronegócio regional, os focos somaram 48,5 mil.
Isoladamente, o Maranhão respondeu por quase metade (43,2%) de todos os incêndios ocorridos no Nordeste, totalizando 30,1 mil focos detectados.
Todos em alta
Na comparação com o período janeiro a dezembro de 2014, nenhum estado nordestino conseguiu reduzir o número de incêndios florestais. Em todos eles, houve crescimento substantivo em termos relativos com destaque para os estados de Alagoas (+210%), Sergipe (+187%) e Bahia (135%).
Em termos absolutos, os avanços mais representativos foram na Bahia (de 7,8 mil para 18,4 mil focos), Piauí (de 9,5 mil para 14,7 mil) e Maranhão (de 25,4 mil para 30,1 mil).
Em âmbito nacional, os destaques foram para os estados do Pará, com 44 mil focos, e Mato Grosso, com 32 mil.
A tabela abaixo indica o cenário dos focos de queimadas no Nordeste entre 2014 e abril deste ano, a partir do monitoramento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
ESTADO
|
QTDE.2016*
|
QTDE.2015
|
QTDE.2014
|
VAR.% 2015/14
| |
Maranhão
|
909
|
30.137
|
25.435
|
18,4
| |
Piauí
|
263
|
14.730
|
9.584
|
53,6
| |
Ceará
|
121
|
3.420
|
2.512
|
36,1
| |
Rio Grandedo Norte
|
18
|
439
|
353
|
24,3
| |
Paraíba
|
24
|
586
|
442
|
32,5
| |
Pernambuco
|
52
|
1.082
|
660
|
63,9
| |
Alagoas
|
56
|
590
|
190
|
210,5
| |
Sergipe
|
68
|
299
|
104
|
187,5
| |
Bahia
|
1.130
|
18.397
|
7.819
|
135,2
| |
NORDESTE
|
2.641
|
69.680
|
47.099
|
47,9
| |
BRASIL
|
16.699
|
236.371
|
183.693
|
28,6
| |
Fonte: INPE. (*) Até 21abr.
Repeteco em 2016
A quantidade de focos de queimadas nos estados do Nordeste entre janeiro e abril deste ano é semelhante àquela observada no mesmo período de 2015. Na posição de 21 de abril, o INPE indicava um total de 2.641 incêndios ante 2.791 no primeiro quadrimestre do ano passado.
Este ano, o maior número de focos ocorreu na Bahia. Foram 1.130 incêndios de janeiro até 21 de abril contra 818 nos primeiros quatro meses de 2015. Em seguida aparecem: Maranhão (909 x 761), Piauí (263 x 215), Ceará (121 x 255), Sergipe (68 x 168), Alagoas (56 x 222), Pernambuco (52 x 210), Paraíba (24 x 75) e Rio Grande do Norte (18 x 67 incêndios).
No Nordeste de queimadas é mais acentuada entre outubro e janeiro quando a vegetação se apresenta mais seca, a umidade relativa do ar baixa, a temperatura se eleva e os ventos sopram com maior intensidade. l.
El Niño e esperança
Vale salientar que no ano passado, foi divulgado um estudo feito por cientistas da NASA e da Universidade da Califórnia indicando o risco de aumento das queimadas na região Nordeste e na parte oriental da Amazônia, em consequência do El Niño, fenômeno associado à elevação da temperatura das águas superficiais do oceano Pacífico.
Segundo os cientistas, o Maranhão, cujo território abrange parte da Amazônia Legal e parte do Nordeste, era o estado com maior risco de queimadas em 2015, ao lado de Mato Grosso e Pará, o que, de fato, se confirmou.
Um outro estudo, feito na Universidade Estadual Paulista (UNESP), traz um certo alívio para as áreas constantemente afetadas pelos incêndios. A bióloga Alessandra Fidelis e suas colegas Betânia Santos Fichino, Julia R. G. Dombroski e Vânia R. Pivello, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, mostraram que a vegetação do cerrado - que ocupa grande parte dos estudos do Piauí, Maranhão e Bahia – apresenta resistência às queimadas.
Conforme os pesquisadores, ao contrário do que seria esperado, não foram encontradas evidências de que a exposição à fumaça e altas temperaturas favoreça a quebra da dormência e a germinação das sementes do cerrado. Ao mesmo tempo, o estudo comprovou que a maioria das sementes resiste às altas temperaturas, ou seja, resiste à passagem do fogo.
As experiências focaram algumas espécies, em particular: Chamaecrista sp. (Fabaceae), Hyptis velutina e H. Crenata (Lamiaceae), Vellozia glauca(Velloziaceae), e Abolboda poarchon e Xyris hymenachne (Xyridaceae), todas elas comuns no cerrado e sujeitas às queimdas freuentes que ocorrem nesse tipo de vegetação.
Para Alessandra Fidelis, os resultados sugerem que, pelo menos quanto às espécies estudadas, a exposição ao fogo não propicia a aceleração da germinação. A constatação mais importante do trabalho foi verificar que a maioria delas resistiu à exposição acima de 100ºC não sendo afetada, portanto, pela passagem do fogo no cerrado.
Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos no site da Fapesp e no site onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/btp.12276/abstract
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