Uma análise realizada por pesquisadores cariocas indica que estados pobres como Ceará e Maranhão apresentam situação fiscal bem melhor que os chamados estados ricos, com desempenho superior em aspectos como dívida, despesa com pessoal, disponibilidade de caixa e investimentos.
LEIA:
Rio de Janeiro – A situação fiscal da maioria dos estados do Nordeste é melhor que a apresentada pelas grandes economias brasileiras, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O Ceará ocupa o primeiro lugar entre os estados brasileiros, conforme indica um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, seguido pelo Maranhão.
O levantamento se refere ao exercício de 2016 e considera quatro aspectos, com base em dados oficiais divulgados pelo Ministério da Fazenda: dívida, despesa com pessoal (ativo e inativo), disponibilidade de caixa e investimentos, variáveis tidas como fundamentais ao equilíbrio de um ente público.
A partir do desempenho desses pontos, o estudo traz o ranking da crise fiscal das 27 unidades da Federação. Pela ordem, os estados em pior situação fiscal são Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com São Paulo se aproximando também. Todos eles enfrentam dificuldades decorrentes de alto gasto com pessoal, dívida elevada e graves problemas de liquidez.
Na outra ponta do ranking, afirmam os técnicos, os cinco estados em melhor situação fiscal combinaram gasto com pessoal e dívida baixos, com destaque para Ceará e Maranhão, posicionados em primeiro e segundo lugares, respectivamente.
NORDESTE. RANKING DA CRISE FISCAL DOS ESTADOS. INDICADORES SELECIONADOS (%)
ESTADO
|
RANKING
|
PESSOAL/RCL
|
DÍVIDA/RCL
|
(CAIXA-RAP)/RCL
|
INVESTIMENTO/RCL
|
CE
|
27º
|
49,3
|
43,6
|
14,3
|
11,1
|
MA
|
26º
|
52,9
|
42,5
|
73,6
|
6,6
|
AL
|
22º
|
45,9
|
102,9
|
20,0
|
6,8
|
PB
|
21º
|
57,0
|
30,2
|
10,6
|
7,1
|
PI
|
17º
|
62,1
|
45,2
|
13,0
|
10,7
|
BA
|
14º
|
63,4
|
55,8
|
13,5
|
11,0
|
RN
|
09º
|
67,5
|
3,1
|
--
|
4,5
|
SE
|
08º
|
48,6
|
60,4
|
-3,4
|
5,4
|
PE
|
06º
|
65,8
|
57,9
|
6,2
|
5,4
|
BR Media
|
---
|
58,8
|
69,5
|
14,4
|
5,7
|
Fonte: Firjan.
Dívidas
Conforme o estudo da Firjan, no caso das dívidas o panorama é de heterogeneidade entre os estados, apresentando-se como grande problema apenas para Rio de Janeiro, (232% da RCL - receita corrente líquida - RCL), Rio Grande do Sul (213%), Minas Gerais (203%) e São Paulo (175%).
Dos 27 estados, 22 encerraram 2016 com dívida inferior a 100% RCL, sendo que 14 não chegaram a 50%.
Entre os estados do Nordeste, a pior situação era a de Alagoas onde as dívidas representavam 103% das receitas correntes líquidas, quase metade do limite de 200% da RCL fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Por sua vez, o Rio Grande do Norte, com apenas 3% teve o de melhor desempenho entre os estados brasileiros
.No Nordeste, apenas Alagoas apresentava uma relação dívida/receita corrente acima de 100%. Os demais se situavam abaixo desse patamar: Maranhão (42%), Piauí (45%), Ceará (44%), Rio Grande do norte (3%), Paraíba (30%), Pernambuco (58%), Alagoas (103%), Sergipe (60%) e Bahia (56%).
NORDESTE. DIVIDA CONSOLIDADA LÍQUIDA DOS ESTADOS PROPORCIONALMENTE À RECEITA CORRENTE, EM 2016.
ESTADO
|
% DA RCL
|
Ranking BR*
|
Maranhão
|
42
|
16
|
Piauí
|
45
|
14
|
Ceará
|
44
|
15
|
Rio Grande do Norte
|
3
|
27
|
Paraíba
|
30
|
22
|
Pernambuco
|
58
|
10
|
Alagoas
|
103
|
5
|
Sergipe
|
60
|
9
|
Bahia
|
56
|
11
|
Fonte: Firjan. Elaboração Agência Prodetec. (*) Quanto maior, melhor a posição.
Despesa com pessoal
De acordo com o estudo da Firjan, o maior problema das contas públicas estaduais tem natureza estrutura e está intimamente ligada aos gastos com pessoal. Segundo os técnicos, em momentos de crise econômica como o atual com reflexos negativos sobre a arrecadação tributária, não há como evitar elevados déficits.
A análise dessa variável mostra o desmantelo na maioria dos estados brasileiros, considerada a proporção das despesas com pessoal ativo e inativo/ receita corrente líquida (RCL). Tomando os 58,8% obtidos em 2016, média próxima ao teto de 60% estabelecido pela LRF, 13 estados já o ultrapassaram.
No caso do Nordeste, quatro estados já passaram do limite da LRF: Rio Grande do Norte, onde as despesas de pessoal comprometeram 67,5% das receitas (RCL), Pernambuco (65,8%), Bahia (63,4%) e Piauí (62,1%). No cálculo, os técnicos consideram as despesas brutas com pessoal descontadas as receitas previdenciárias (contribuições dos segurados e contribuição patronal).
Nessa variável, os melhores posicionamentos em âmbito nacional são dos estados de Alagoas (segunda posição no ranking), Sergipe (quarta), Ceará (quinta) e Maranhão (nona posição).
NORDESTE. DESPESA COM PESSOAL NOS ESTADOS EM 2016.
ESTADO
|
ATIVOS (A)
|
APOSENTADORIAS E PENSÕES (B)
|
OUTRAS DESPESAS (C)
|
RECEITA PREVIDENCIÁRIA (D)
|
DESPESA LIQUIDA (A+B+C-D)
|
MA
|
45,0
|
13,9
|
1,2
|
7,2
|
52,9
|
PI
|
52,0
|
21,5
|
0,4
|
11,9
|
62,1
|
CE
|
42,9
|
12,4
|
2,8
|
8,8
|
49,3
|
RN
|
54,1
|
26,0
|
0,0
|
12,7
|
67,5
|
PB
|
47,5
|
18,0
|
0,0
|
8,6
|
57,0
|
PE
|
46,4
|
30,6
|
0,0
|
11,2
|
65,8
|
AL
|
34,5
|
20,0
|
2,9
|
11,5
|
45,9
|
SE
|
37,1
|
24,1
|
0,0
|
12,6
|
48,6
|
BA
|
54,5
|
21,8
|
0,1
|
13,0
|
63,4
|
Fonte: Firjan. Elaboração Agência Prodetec.
Em relação à disponibilidade de caixa, o estudo chama a atenção para o fato de 22 estados encerrarem 2016 com recursos em caixa para cobrir as despesas postergadas, dos quais apenas cinco terão menos de 10% da RCL para fazer frente a imprevistos orçamentários em 2017.
Os técnicos destacam como positiva a situação de Maranhão e Tocantins, onde os recursos em caixa são suficientes para cobrir as despesas postergadas e ainda resultam em um crédito que supera 60% da RCL.
Pelo trabalho apresentado pela Firjan, dos estados do Nordeste apenas Sergipe enfrentou problema de liquidez, em 2016, com dificuldades para saldar compromissos com funcionalismo e fornecedores. Mas, longe da gravidade constatada no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Investimentos
Os pesquisadores afirmam que nos estados tem sobrado pouco espaço para os investimentos, tendo se observado, na comparação com 2014, declínio de R$ 34,8 bilhões, uma queda de 53,4% em termos reais, contra 5,6% de redução da receita corrente líquida.
Em 2016, o investimento médio dos estados brasileiros (5,3%) atingiu o patamar mais baixo dos últimos nove anos. Em todo o país, apenas Ceará, Piauí e Bahia investiram mais de 10% da RCL em 2016. Num patamar um pouco abaixo, situaram-se os estados da Paraíba (7,1%), Alagoas (6,8%), Maranhão (6,6%), Pernambuco (5,4%), Sergipe (5,4%) e Rio Grande do Norte (4,5%).
AGÊNCIA PRODETEC
Nenhum comentário:
Postar um comentário