Publicado em 30-01-2019
ANÁLISE
ECONÔMICA TRADICIONAL
O elemento espaço não
aparece na análise econômica tradicional: a teoria clássica e neoclássica
fundamenta-se em um mundo estático e sem dimensões, onde o fator tempo é a
variável essencial. Somente na análise das trocas internacionais é que se tem a
inserção do elemento espaço, apoiada, contudo, por uma hipótese irrealista de
custo de transporte nulo.
No interior da economia
nacional, em verdade, não poderia haver motivo para estudos espaciais, em
virtude da suposição da perfeita mobilidade dos fatores de produção, dos bens e
serviços e das pessoas. Ela conduziria o sistema econômico ao equilíbrio, uma
vez que se observassem desigualdades marginais e transitórias nos custos de
produção, nos salários e nos preços dos bens. Havendo, pois, uma diferença nesses
elementos, os fatores deslocar-se-iam instantaneamente, em resposta e ganhos
marginais, restaurando o equilíbrio em todas as regiões (Souza, 1981).
Dessa forma, não haveria
necessidade da intervenção do Estado na economia. As forças de mercado eram
tidas como suficientes para conduzir o sistema econômico ao equilíbrio.
Elementos vitais da análise regional, como a localização das atividades
econômicas, os custos de localização e de transporte, quando não considerados
nulos, eram medidos pelo ganho ou perda de tempo. Uma vez mais o elemento tempo
tomava o lugar de uma possível inserção da variável espaço na análise econômica
(Souza, 1981).
As considerações dinâmicas e
o papel do tempo na economia, tornada a variável relevante da análise, pelo
desenvolvimento da Escola histórica alemã, proporcionavam bons aportes à
análise econômica, contribuindo para o completo esquecimento do elemento
espaço. Por outro lado, os elementos temporais prestavam-se mais facilmente à
análise matemática rigorosa, a construção de curvas suaves e contínuas,
enquanto a variável espaço nunca se inseriu bem nos modelos tradicionais.
Acreditava-se, além disso, que a distribuição espacial das atividades
econômicas tinha somente causas não econômicas, que os fenômenos econômicos
ocorriam em um mundo sem dimensões e sem custos de transporte (Souza, 1981).
1.1
Influência do pensamento neoclássico
A longa tradição da escola
neoclássica na teoria econômica impediu que se considerasse efetivamente o
elemento espaço na análise. As hipóteses marginalistas não são aplicáveis à
dimensão espacial por que pressupõem continuidades. O território não possui,
entretanto, elementos distribuídos de maneira uniforme; a heterogeneidade e a
descontinuidade constituem a regra mais frequente. Constituem prova disso os
centros nodais, a ausência de vias de transportes em todas as direções e a
existência de concentração demográfica e industrial. Por outro lado, caso
houvesse perfeita flexibilidade dos preços e perfeita mobilidade dos fatores de
produção, dentro de um mesmo país, não haveria desigualdades regionais e o
problema da Economia Regional deixaria de existir. As diferenças nos preços,
custos, salários e rendas entre as regiões persistem já pelo simples fato da
presença de custo de transporte significativo (Souza, 1981).
A distância restringe a
interação espacial e concede proteção monopolista às firmas, de modo que as
forças de mercado não são suficientes para igualar as rendas regionais e para
proporcionar alocação ótima dos recursos no espaço. Existem resistências
econômicas e não-econômicas à mobilidade dos fatores de produção. As forças de
mercado não levam inevitavelmente à igualdade das rendas per capita regionais
ou à alocação ótima dos recursos. Em certas circunstâncias, podem até atuar de
forma desestabilizadora. A economia de mercado, em verdade, proporciona o
deslocamento de populações para as regiões centrais, ocasionando a concentração
urbana em um reduzido número de centros (Souza, 1981).
1.2
Críticas ao pensamento neoclássico
As condições do equilíbrio
neoclássico são as seguintes:
a) igualdade dos preços dos
fatores em todas as regiões;
b) igualdade da
produtividade marginal dos fatores em todo o espaço nacional (mesma tecnologia
e mesma produtividade da mão-de-obra em todas as regiões);
c) igualdade do preço de
produtos idênticos em todo o espaço (inexistência de custo de transporte e de
outros custos originados pela fricção da distância);
d) no equilíbrio, supõe-se a
igualdade entre a produtividade marginal de um dado fator com o seu preço, em
cada região (Souza, 1981).
Tendo em vista que as
produtividades marginais e os preços são os mesmos em todas as regiões, o
equilíbrio inter-regional é visto de uma ótica paretiana; em outras palavras, o
equilíbrio do sistema é tido como o conjunto dos equilíbrios regionais
(somatório das quantidades de equilíbrio de um dado bem a um mesmo preço).
Essas condições implicam que o nível de equilíbrio varia exclusivamente por
modificações tecnológicas e por alterações da demanda (Souza, 1981).
Existe convergência
inter-regional do preço dos fatores e das rendas de maneira instantânea e sem
custos. Toda mobilidade espacial de fatores cessaria uma vez atingido o
equilíbrio, isto é, quando houvesse a convergência do preço dos fatores e dos
bens em todas as regiões; dessa forma, não haveria outros motivos para a
mobilidade dos recursos. Nesse sentido, a alocação ótima dos recursos de uma
região coincidiria com o ótimo do sistema nacional de regiões.
Essa identidade de
maximização da renda regional com a renda nacional implica na hipótese de
concorrência perfeita e de continuidades espaciais. Entretanto, havendo custo
de transporte significativo, o preço dos fatores e o preço dos bens serão
diferentes entre as regiões, uma vez que a zona de produção não é necessariamente
a mesma zona de consumo. A presença de economias de escala nas empresas e
economias externas nas indústrias haveria indução a movimentos de fatores de
produção em sentido oposto ao do equilíbrio. Com isso, aumentariam as
diferenças regionais no preço dos fatores, em vez de diminuir (Souza, 1981).
Igualmente, o grau de
urbanização e as diferenças na produtividade do trabalho acarretam divergências
na taxa de salários, implicando desigualdades regionais nas condições de
equilíbrio entre as regiões (Souza, 1981).
Por outro lado, a distância
e as preferências de residência das pessoas limitam a migração da mão-de-obra
de uma área para outra em resposta à variações marginais na taxa de salários.
Esse imobilismo natural verifica-se em relação aos demais fatores de produção.
Tendo em vista que a dotação inicial dos recursos naturais é diferente entre as
regiões, a regra do desequilíbrio é mais aceitável do que a do equilíbrio
(Souza, 1981).
1.3
Outras razões do abandono da análise espacial
Outros motivos do atraso da
análise espacial resultaram principalmente da atuação das políticas econômicas
dos governos centrais, que tinham sua atenção concentrada nos grandes problemas
nacionais, como pleno emprego, inflação e desigual repartição da renda entre as
classes sociais. Ademais, os problemas regionais quando não são muito
acentuados mostram-se com menor evidência, face às dificuldades estatísticas
regionais (Souza, 1981).
Outro motivo do atraso da
análise espacial prendeu-se ao fato de que as indústrias tinham sua localização
imposta, na maioria dos casos, pela localização das fontes de matérias primas
(jazidas de carvão mineral em particular). Com o surgimento da eletricidade e
da redução do índice de material dos produtos, a localização das firmas ficou
mais orientada ao mercado consumidor, ou, em certos casos, em pontos
intermediários (Souza, 1981).
A relação entre
industrialização e urbanização tornou-se mais evidente pela dependência
crescente das firmas em relação ao mercado consumidor e ao mercado da
mão-de-obra. Este fator contribuiu para o crescente interesse pela análise
regional. Pode-se, hoje em dia, moldar a distribuição geográfica das atividades
econômicas e das populações influenciando a rede dos transportes, a dotação de
infraestruturas industriais e a concentração urbana através da criação de novos
centros urbanos planejados (Souza, 1981).
II.
SURGIMENTO DA ECONOMIA REGIONAL
2.1
Razões do surgimento da Economia Regional
Como foi dito, o modelo
neoclássico do equilíbrio parcial da firma e do equilíbrio geral dos mercados
não necessita do elemento espaço para se construir. O ajustamento instantâneo
dos preços e das quantidades implica na imobilidade de fatores, bens e serviços
e populações, bem como na inexistência da Economia Regional (Souza, 1981).
Entretanto, as crescentes
desigualdades regionais na renda per capita são uma prova de que os postulados
da abordagem neoclássica não se verificam e de que o fator espaço é um elemento
importante a ser levado em consideração nos modelos econômicos (Souza, 1981).
Ao lado das deficiências
teóricas da abordagem neoclássica, da existência de custos de transporte
significativos, do fator distância que concede proteção monopolista às
empresas, constatou-se que a industrialização e a urbanização das regiões
ocorreram de maneira desigual no espaço; isso acentuou a defasagem entre
regiões ricas e regiões pobres dentro de um mesmo país (Souza, 1981).
As mudanças nos padrões
locacionais, a intensa industrialização e a revolução agrícola proporcionaram
rápida expansão urbana nos principais centros metropolitanos dos Países. O
crescimento desses mercados urbanos atraiu sobremaneira a concentração
industrial; Esses fatores contribuíram para a criação de economias de
aglomeração mais do que proporcionalmente no centro principal nacional do que
nas regiões periféricas, acentuando ainda mais as desigualdades regionais
(Souza, 1981).
No nível internacional,
certos acontecimentos como a crise de 1929, a crise urbana nos Estados Unidos e
o surto rodoviário nesse país contribuíram de maneira decisiva para a
multiplicação dos estudos empíricos nos níveis regional e urbano. Com a crise
de 1929, encarou-se o problema da concentração industrial como nociva, uma vez
que o desemprego e demais efeitos da crise não se difundiram de maneira
uniforme no espaço, gerando maiores problemas sociais em certas regiões do que
em outras (Souza, 1981).
Em certas cidades inglesas,
por exemplo, o desemprego atingiu a cifra de 50% nas regiões mais ricas. Os
programas de recuperação econômica foram obrigados, consequentemente, a
considerar o elemento espaço na sua elaboração. Os investimentos foram
naturalmente maiores nas regiões mais atingidas pela crise e estudos laterais
foram efetuados para avaliar seu impacto multiplicador nos demais setores de
atividade (Souza, 1981).
A crise urbana nos Estados
Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, intensificou os estudos econômicos
urbanos. O meio urbano era uma área até então monopolizada pelos sociólogos. A
crise urbana decorreu do abandono das zonas urbanas centrais pelas atividades
econômicas e pelas pessoas de alta renda, que buscavam na periferia urbana
maior espaço para habitação e lazer (Souza, 1981).
Esse deslocamento foi
motivado pelo desenvolvimento dos meios de transportes, que proporcionavam
gradativamente fácil acesso ao centro das cidades. A migração para a periferia
urbana e, mesmo, para outras cidades, atingiu também as camadas pobres da
população, pela redução da oferta de empregos no centro das cidades. Esse
abandono do centro das cidades pelas atividades e pelas pessoas ocasionou uma
séria crise financeira para as subprefeituras centrais e provocou a
deterioração do meio ambiente urbano. Tudo isso contribuiu para afugentar os
contribuintes de mais alta renda, vindo em seu lugar as pessoas mais pobres,
sobretudo a população negra, atraídas pela redução dos aluguéis nas áreas
centrais (Souza, 1981).
Nas demais zonas urbanas, os
problemas de poluição e de renovação urbana e a necessidade de desenvolver os
transportes públicos e demais infraestruturas, contribuíram para o surgimento
de planos urbanos e regionais de desenvolvimento. As disparidades regionais,
que se tornaram mais evidentes com a industrialização das regiões centrais dos
países, foram outro dos elementos a induzir maior atenção aos estudos regionais
(Souza, 1981).
Na França, até fim dos anos
de 1970, eram altamente industrializadas apenas as regiões de Paris, Lyon e
Norte; enquanto a Bretanha, no Oeste, era uma região agrícola com problema de
baixa renda na campanha e desemprego nas cidades (Souza, 1981).
Na Itália, também por essa
época, havia uma dicotomia bastante nítida entre o Norte industrializado e o
Sul agrícola. No Sul, a região do Mezzogiorno apresentava problemas mais graves
do que os da Bretanha francesa (Souza, 1981).
O dualismo do
desenvolvimento está representado no Brasil pelo Nordeste e por São Paulo; os
focos de pobreza na Venezuela acentuam-se na zona da Guiana, na Argentina na da
Patagônia, na Inglaterra na de Glasgow, nos Estados Unidos na região da Virgínia
Oeste (Souza, 1981).
Nas últimas décadas,
principalmente nos países desenvolvidos, tem havido grande colaboração oficial
visando transferir renda para as regiões com problemas de desemprego e pobreza.
A ideia é deslocar o capital ou mesmo criar cidades novas nessas áreas. Foi o
caso da Inglaterra, que implantou uma série de cidades novas visando
descentralizar a indústria nacional (Souza, 1981).
Por último, a expansão
rodoviária nos Estados Unidos, um verdadeiro surto, proporcionou a destinação
de massa considerável de recursos para pesquisas regionais. Os Bancos da
Reserva Federal, que constituem uma organização regionalizada, deram muito
apoio a projetos regionais. Até 1930, as políticas regionais eram eventuais e
parciais, de caráter local. Criou-se mais tarde divisões regionais na
Inglaterra; nos Estados Unidos, fundou-se o Planejamento do Tennessee Valley,
visando o desenvolvimento de sua bacia hidrográfica (Souza, 1981).
Sinteticamente, pode-se
afirmar que os problemas regionais nascem de disparidades engendradas pela
difusão desigual do processo de crescimento no conjunto do espaço econômico
nacional. Economias externas nas regiões mais ricas drenam fatores das regiões
mais pobres (Souza, 1981).
As políticas públicas podem
visar, seja a frenagem do crescimento das regiões de expansão muito rápida,
seja o estímulo ao crescimento das regiões onde o desenvolvimento é
insuficiente. A primeira política é impraticável porque as próprias regiões
centrais têm desemprego; a segunda é a mais praticada em todos os países.
Certos programas de investimento, destinados a manter o equilíbrio no nível
nacional, podem exercer efeitos desestabilizadores em certas regiões; tais
desequilíbrios podem, mais tarde, se estender às demais regiões do sistema
nacional, prejudicando o crescimento da economia nacional em seu conjunto
(Souza, 1981).
O crescente interesse
despertado pela Economia Regional deriva, em parte, do crescimento explosivo
das cidades, das migrações rurais/urbanas e intraurbana, bem como da
concentração da atividade econômica e dos desequilíbrios regionais daí
resultantes. As cidades constituem um foco de concentração da atividade e de
irradiação das inovações. A concentração urbana está associada aos conceitos de
localização das atividades econômicas, de economia de escala, de mercado de
consumo e de reserva de mão-de-obra. A irradiação das inovações associa-se a
hierarquização e o espaçamento dos centros urbanos e a capacidade
multiplicadora dos mesmos. O sistema de cidades articula a economia das regiões
e do País; seu desenvolvimento é um problema de integração nacional (Souza,
1981).
2.2
Definição e abordagens da Economia Regional
A Economia Regional
compreende o estudo da diferenciação espacial, das inter-relações entre as
áreas dentro de um sistema nacional de regiões, enfrentando um universo de
recursos escassos, desigualmente distribuídos no espaço e imperfeitamente
móveis (cfe. Dubey, 1977). Há separação espacial entre os mercados de consumo,
entre as fontes de recursos e os locais de produção; os mercados, os recursos e
as produções não se distribuem igualmente no espaço não só pela sua imperfeita
imobilidade, mas também pela desigual dotação de recursos e estoques iniciais
(Souza, 1981).
Nem todas as áreas são
exploradas com a mesma intensidade e ao mesmo tempo; as que são valorizadas em
primeiro lugar tendem a adquirir uma vantagem adicional sobre as demais.
A Economia Regional
compreende: a introdução do elemento espaço na análise econômica; o estudo de
problemas localizados e que envolvem separação espacial, tais como: a estrutura
dos parques industriais locais e regionais; os meios de comunicação entre dois
ou mais centros urbanos; o problema do emprego rural e urbano; as finanças
municipais e regionais; o aproveitamento racional dos recursos naturais locais;
os impactos de investimentos em determinadas indústrias sobre o emprego, as
demais atividades industriais, as finanças públicas, etc. (Souza, 1981).
Segundo Walter Isard, a
Economia Regional depara-se com cinco problemas principais:
a) identificar as indústrias
a implantar com prioridade em cada região, para maximizar o crescimento
regional e assegurar rentabilidade satisfatória para o empreendimento;
b) aumentar a renda per
capita e os níveis de emprego regionais;
c) proporcionar a integração
interna do parque industrial regional, bem como sua diversificação;
d) proporcionar o
planejamento nacional com base na agregação dos planejamentos regionais, de
sorte a obter-se a alocação racional dos recursos escassos;
e) ocupar mais racionalmente
o espaço nacional, repartindo da melhor forma possível os homens e as
atividades econômicas (Souza, 1981).
Existem três maneiras de se
analisar as implicações econômicas da dimensão espacial:
a) a primeira delas é a abordagem
linear, que consiste em serem considerados fixos: o sistema de transporte e
a localização das atividades econômicas e dos recursos produtivos; por essa
abordagem, concebe-se o espaço como um fator de atrito no fluxo de bens,
serviços e fatores entre dois pontos fixos. Esse atrito espacial é medido pelos
custos de transporte, que limita a interação espacial, reduzindo os fluxos. Dentro
dessa abordagem, o problema da Economia Regional consistiria em minimizar o
atrito entre dois pontos, que são medidos pelos custos de transportes;
estes se apresentam como função linear da distância;
b) a segunda é a abordagem
locacional, que estuda os fatores de localização dos agentes econômicos e
maximizar os lucros no espaço; ela procura explicar porque as atividades
localizam-se em certos locais específicos e não em outros. O espaço é
descontínuo, formado por uma matriz de localizações possíveis para as
atividades econômicas;
c) terceira abordagem é a da
macroeconomia regional, na qual se estuda as interrelações entre as
regiões e a economia nacional; as regiões integram-se no sistema nacional;
desagregam-se modelos nacionais para o nível regional. Nessa abordagem,
entretanto, a região torna-se um ponto e não se considera, efetivamente, o
elemento espaço na análise (Souza, 1981).
Os defensores da Ciência
Regional, como Perloff (1960), negam a possibilidade de isolar-se a Economia
Regional do contexto interdisciplinar da análise espacial. Outros julgam que a
economia estuda apenas aspectos da atividade humana, podendo ser isolada da
Ciência Regional (Souza, 1981).
Pode-se, inclusive
distinguir-se um grupo de problemas que forma o campo de atuação da Economia
Regional, mas eles não serão os únicos que a Economia aborda. Por exemplo, a
Economia Regional não é simplesmente uma disciplina que trata exclusivamente
dos problemas locacionais ou da imobilidade dos fatores. Ela trata igualmente
da distribuição desigual dos recursos, de sua mobilidade; mesmo havendo
mobilidade perfeita dos recursos haverá sempre Economia Regional, pois persistirão
os problemas das desigualdades regionais e da má alocação dos recursos
(desigualdade na repartição dos recursos naturais e humanos) (Souza, 1981).
2.3
Conteúdo e métodos da Economia Regional
O conteúdo da Economia
Regional enriqueceu consideravelmente após a revisão efetuada por Meyer em 1963
(Souza, 1981).
Meyer (1973) arrola como
conteúdo unicamente quatro itens:
a) teoria da Localização
(Lösh);
b) teoria do multiplicador
(base econômica);
c) análise interindustrial
de insumo-produto (Leontief);
d) e programação matemática.
De 1960 para cá, tornou-se
necessário acrescentar, ainda:
a) teoria do crescimento
regional (Richardson);
b) teoria dos pólos de
crescimento (Perroux);
c) contabilidade regional
(Stone);
d) modelos gravitacionais;
e) análise espacial dos
preços (microeconomia espacial);
f) teoria da difusão
espacial de inovações, de tecnologia, de bens e serviços e de fatores de
produção (Souza, 1981).
Além desses itens, a
Economia Regional pode desenvolver-se ainda mais enfatizando-se a estrutura de
mercado, organização financeira, capacidade empresarial, decisão de
investimento, política fiscal, além do tema "efeitos da separação
espacial" (Souza, 1981).
A
TEORIA DA LOCALIZAÇÃO é o mais velho ramo da Economia Regional;
ela enfatiza o papel dos custos de transporte. Trabalhos mais recentes
tentam construir uma teoria geral da localização; outras ênfases são dadas
sobre o efeito de aglomeração e a maximização de lucros, a minimização dos
custos totais (embora os custos de transportes não sejam mínimos) (Souza,
1981).
O problema da localização
ótima é que não se pode ter a certeza de que os padrões de custo do presente
vão se manter no futuro. Por outro lado, há um conflito entre a maximização de
lucros e a maximização da utilidade daquele que toma a decisão de localizar-se
em determinada certa área. A escolha da localização com base na satisfação
tende a ocorrer em uma grande cidade, com alto grau de acessibilidade
rodoviária e, se possível, perto das fontes de matérias primas, onde a firma,
mesmo não maximizando lucros, maximiza a satisfação por lazer dos proprietários
e minimiza os riscos (Souza, 1981).
A concentração tende a
efetuar-se em mesma indústria, na forma de complexos industriais. A teoria da
localização esbarra nas dificuldades da suposição de concorrência perfeita
(coeficientes de produção constantes, ou preços fixos, padrões de consumo
constantes). Economias de escala, externalidades, indivisibilidades, são
exemplos de que o equilíbrio competitivo não se realiza (Souza, 1981).
A TEORIA DO MULTIPLICADOR, como modelo empírico, está associada à
teoria da base econômica. Seu conceito é similar ao da macroeconomia
tradicional; há necessidade de definir-se as atividades exógenas situadas fora
da economia regional ou que dependem de forças externas, como as exportações;
determina-se o multiplicador observando o desenvolvimento histórico da base
econômica; esse multiplicador e é aplicado para projeções da atividade total ou
para medir impactos de variações na base exportadora sobre a economia regional
(Souza, 1981).
A ANÁLISE DE INSUMO-PRODUTO tem como base uma matriz de coeficientes
técnicos de produção que se identificam por indústria e/ou por áreas de
atividade econômica. A consideração das relações interindustriais e
inter-regionais, ao mesmo tempo, depara-se com o problema da multiplicidade dos
dados estatísticos necessários.
Uma solução seria considerar
unicamente a matriz das relações interindustriais, como no caso da matriz
nacional, globalizando-se as relações com as demais áreas unicamente em duas
contas de importação e exportação; a outra solução consiste em considerar
somente as relações inter-regionais, agregando-se o valor da produção das
indústrias de cada região.
As matrizes de relações
interindustriais são bastante úteis para a análise da integração interna dos
parques industriais regionais (Souza, 1981).
A PROGRAMAÇÃO MATEMÁTICA apresenta duas dificuldades. A primeira diz
respeito à obtenção de dados, que são mais amplos dos que os da matriz
insumo-produto. A segunda deriva do fato de a racionalidade econômica ser muito
complexa, para que ela possa ser incorporada nos modelos atuais de programação
operativa.
TEORIA
ESPACIAL DOS PREÇOS - A introdução do espaço na teoria dos
preços muda a ênfase porque o preço para um bem homogêneo não será mais o
mesmo, no nível de equilíbrio, e variará entre localizações diferentes. A mais
simples solução é empregar programação linear para minimizar os custos totais
de transporte, sujeito às restrições localização do mercado e das fontes de
matéria prima.
O resultado final: na
localização ótima, o diferencial de preços para o preço de equilíbrio é igual
ao custo de transporte. Também a discriminação de preço pelo monopolista pode
ser examinada no contexto espacial. O monopolista discrimina contra os
compradores próximos se a taxa de variação da elasticidade da demanda for maior
do que a taxa de variação no preço (Souza, 1981).
DIFUSÃO
ESPACIAL DAS INOVAÇÕES - Para o economista neoclássico, a
difusão espacial das inovações é um tópico sem sentido. O progresso técnico, em
condições de concorrência, acentua os efeitos dos investimentos e do
crescimento da força de trabalho.
Alguns economistas
consideram o progresso técnico como o fator que explica o crescimento econômico
residual; outros o consideram como o principal fator do crescimento
(Schumpeter); embora se reconheça que as inovações e o progresso técnico sejam
importantes para explicar o crescimento econômico, o problema é que elas se
difundem desigualmente no espaço (Souza, 1981).
Pesquisas empíricas
indicaram dois tipos de difusão espacial:
a) difusão radial geral,
sendo descrita por uma distância exponencial negativa, que decresce em função
da distância;
b) difusão hierárquica, que
decresce com a distribuição espacial do tamanho das cidades e combina economias
de escala num modelo gravitacional com a distribuição classe-dimensão das
cidades.
A hipótese geral é que a
difusão radial é mais relevante nos países desenvolvidos; mas, à medida que
aumenta o número de inovações nos transportes, encurtando as distâncias, a
difusão hierárquica tende a predominar; porém, na maioria dos países
urbanizados, a difusão radial e a difusão hierárquica tendem a ocorrer
simultaneamente.
A difusão das inovações é
máxima no meio urbano, porque a concentração das firmas e das populações cria
um ambiente favorável. Se a concentração urbana (hierárquica) favorece a
criação de inovações, uma alta taxa de inovações promove uma posterior
concentração espacial. Os modelos de inovação hierárquica complementam o modelo
de causação cumulativa do desenvolvimento regional (Myrdal, 1968), mesmo quando
inserirem tendências à difusão e à dispersão (Souza, 1981).
MODELOS
GRAVITACIONAIS - Desenvolveram-se em estudos relacionados
com os transportes e problemas urbanos (distribuição da população, fluxos de
tráfico).
O modelo básico consiste em
supor que os fluxos entre dois pontos são diretamente proporcionais à população
de cada centro e inversamente proporcionais à distância entre eles, ou seja:
Onde: k é um parâmetro e a é a
elasticidade de transação e varia de acordo com o bem considerado.
A variável população P de
cada centro (i e j) pode ser substituída, com vantagens, por variáveis econômicas de
comportamento como renda, emprego, custo etc. (Souza, 1981).
CONTABILIDADE
REGIONAL - é análoga à contabilidade nacional com a diferença
básica de que as regiões são economias mais abertas do que a nação. A
contabilidade regional é um instrumento bastante útil para a aplicação de
modelos macroeconômicos a nível subnacional.
As dificuldades do
estabelecimento de uma contabilidade regional são os custos de obtenção das
diferentes contas, porque é bastante difícil e oneroso a obtenção de dados a
níveis desagregados (Souza, 1981).
POLOS
DE CRESCIMENTO - A teoria da polarização deriva da
observação de que o crescimento não se distribui de maneira homogênea no
espaço, mas se concentra em pontos ou polos de crescimento, podendo difundir-se
a partir daí no conjunto da economia. A matriz de insumo-produto é um
instrumento indispensável para a análise da polarização técnica, isto é, para a
constatação de polos de indústrias dentro de subconjuntos da matriz (complexos
industriais fortemente conectados).
A polarização é também
geográfica, podendo ser analisada em termos de uma matriz de relações
inter-regionais; a polarização humana pode ser detectada com uma matriz dos
movimentos alternantes domicílio-trabalho (migrações diárias urbanas ou interurbanas).
Os diversos métodos de
análise da polarização têm como objetivo determinar os pontos fortes de
relações (polos) e os pontos de estrangulamento que dificultam os contatos
entre os pontos (ausência de certas atividades, falta de algumas estradas, ou
transportes coletivos) (Souza, 1981).
TEORIA
DO CRESCIMENTO REGIONAL - os métodos abordados apenas afloram o
problema do crescimento regional. Foi após o trabalho de Myrdal (1968), sobre a
teoria da causação cumulativa (de 1957), que o problema do crescimento regional
foi amplamente pesquisado.
Após 1960, multiplicaram-se
os trabalhos teóricos e empíricos sobre o crescimento regional nos Estados
Unidos (Perloff et al., 1960). Mas esses trabalhos eram todos efetuados dentro
da senda neoclássica e preocupavam-se particularmente com a convergência da
renda per capita.
Por outro lado, eram simples
transposição, ao nível regional, da análise macroeconômica nacional, tratando a
região como se fosse uma nação em miniatura, descurando-se dos aspectos
espaciais, que devem caracterizar mais particularmente a Economia Regional.
Embora esses modelos possam mencionar fatores relacionados com a concentração
geográfica da população e da atividade econômica, sintetizados no termo
externalidade, eles continuam ignorando a natureza do processo do crescimento
regional.
Os pontos não inseridos
dentro de um modelo global de crescimento regional são os seguintes, conforme
Richardson (1977, p. 20):
a) que dimensão deve ter uma
aglomeração urbana para atrair a indústria de outras áreas?
b) qual a distribuição mais
conveniente da população regional?
c) a distância entre as
regiões é um fator relevante para explicar as diferenças do crescimento
regional?
d) qual a importância das
economias de aglomeração para explicar o crescimento regional?
e) os investimentos públicos
serão suficientes para dotar as regiões atrasadas das condições necessárias
para crescerem mais rapidamente?
f) qual é o grau de
influência da estrutura espacial da economia nacional na mobilidade interregional
dos fatores e na difusão das inovações e, assim, sobre os índices do
crescimento regional? Como se verifica essa influência?
g) qual é o papel da
urbanização no crescimento regional?
h) qual é a influência de
fatores não-econômicos nos índices de crescimento regional, como preferências
de localização, comportamento da comunidade e restrições e/ou atuações
políticas?
A teoria da polarização ou
dos polos de crescimento trouxe nova abordagem à Economia Regional quando
afirma que as regiões têm em seu seio as fontes de seu próprio crescimento;
essas fontes são as interdependências técnicas entre as firmas, a ação das
unidades motrizes e as atividades criadoras de economias externas como a ação
do setor público. É uma abordagem que sai um pouco da ótica neoclássica;
abordagens similares são as do modelo estrutural-diferencial que procura
detectar na região as atividades mais dinâmicas, comparadas com as mesmas
atividades no nível nacional (Souza, 1981).
III
- NOÇÃO DE ESPAÇO E DE REGIÃO
3.1
Noção de espaço
3.2
Noção de região
Não existe uma definição de
região segundo o tamanho; supõem se que a região seja um subsistema do sistema
nacional. Porém não é evidente como uma economia nacional possa ser subdividida
em regiões.
O espaço regional deve,
entretanto, ser contíguo e todo o espaço nacional deve ficar contido em uma ou
em outra região. A definição etimológica significa governar, pois a palavra
região vem do latim regere (Souza, 1981).
Do ponto de vista
geográfico, a região é uma entidade natural e humana elementar; do ponto de
vista sociológico, é um conjunto de traços culturais semelhantes; do ponto de
vista econômico há várias definições de região, sendo a divisão ternária a mais
conhecida:
a) região homogênea;
b) região polarizada ou
nodal;
c) região de planejamento
(Souza, 1981).
Na concepção de região homogênea, as unidades espaciais
são reunidas quando mostram características tão uniformes quanto possíveis. As
características de homogeneidade podem ser estruturas de produção e de consumo
semelhantes, uniformidade da renda per
capita, espécie de recursos naturais existentes, tipo predominante de
agricultura, topografia, clima e traços culturais semelhantes (Souza, 1981).
A macroeconomia regional
supõe uniformidade da região, pois a reduz a um ponto. As diferenças
inter-regionais (cidade/campo) podem invalidar a suposição de homogeneidade
(diferença na renda e nos hábitos de consumo).
Além disso, há diferenças de
densidade no interior da região, de sorte que ela nunca será perfeitamente
homogênea e nem isso seria desejável do ponto de vista econômico. Os centros
urbanos e a aglomeração industrial introduzem heterogeneidade no sistema
espacial.
Na concepção de região polarizada, por suas
características de heterogeneidade, a ênfase é colocada na dependência ou
interdependência dos diferentes componentes dentro da região. Os modelos
gravitacionais consideram a variável distância como inibidora dos fluxos de
transação.
O conceito nodal acentua
igualmente o fator distância, o papel de pontos nodais menores dentro da região
e que gravitam em torno do centro de um centro predominante. Os centros nodais
menores são interdependentes. Com o auxílio dos modelos gravitacionais, pode-se
medir o grau dessa interdependência dos fluxos de pessoas, bens e serviços e
comunicações.
Uma cidade será incluída ou
excluída de uma região em função de seus vínculos de interdependência; se ela
possuir um grau maior de relações com o centro dominante de uma região vizinha
do que com o centro que polariza a região em questão, ela será incluída na
outra região.
As transações dentro da
região são mais intensas no interior do nódulo central, decrescendo para a
periferia; chega-se a um ponto, nas fronteiras regionais, que as transações
atingem um mínimo, decrescendo, a seguir, pela influência de outros nódulos.
A terceira concepção de
região, região de planejamento, como
uma área administrativa e política, constitui uma unidade no sentido dos
instrumentos políticos e tributários. A vantagem desse método deriva da
disponibilidade de dados que se poderá contar; a desvantagem consiste na
possível incompatibilidade entre os limites administrativos e os limites
econômicos.
O conceito de região como
uma unidade natural, capaz de ser definida com precisão no espaço, tende a ser
abandonado. O conceito de região tem sido tomado pela noção mais neutra de
espaço. A região de planejamento é definida em termos de coerência e unidade do
processo decisório. As unidades da região-plano religam-se a um centro de
decisão normalmente localizado fora da área. A sua fronteira é delimitada em
função dos problemas a enfrentar ou pelas fronteiras administrativas.
Uma região pode ser também
definida quanto ao tamanho, em função das necessidades do planejamento. Um
conglomerado de municípios pode formar uma região muito pequena se o objetivo
for assegurar o desenvolvimento harmônico de todas as partes do território
nacional; pode formar uma região muito grande se o objetivo for estudar
problemas de localização muito precisa, como zonas a urbanizar com prioridade,
ou estudo de sistemas de estradas rurais.
Quanto ao tamanho, poderemos
ter as regiões cidade, região urbana ou região metropolitana, quando o objetivo
for o planejamento urbano ou metropolitano. Este é um tipo particular de região
polarizada; é uma área densamente povoada. No centro, a densidade populacional
é máxima, assim como a acessibilidade aos locais de trabalho, aos locais de
compra e de lazer; consequentemente, o aluguel aí é mais elevado.
Esses fatores decrescem do
centro para a periferia; na periferia pode-se, entretanto, criar centros
menores com o objetivo de reestruturar os arrabaldes, criando empregos, centros
de compras, áreas de lazer, para reduzir os movimentos alternantes urbanos
centro-periferia.
Acima da região cidade
podem-se ter as microrregiões, que formam um conglomerado de municípios (tal
como uma região metropolitana), porém menor do que uma região. Em países como o
Brasil e os Estados Unidos, os Estados constituem as regiões típicas. As
macrorregiões são formadas por conjuntos de Estados (Nordeste, Centro-Oeste,
por exemplo).
A microrregião teria a
função de organizar um sistema de pequenas cidades em torno de uma cidade
relativamente importante, para servir de apoio entre a zona rural e a capital
regional. Quando uma microrregião tiver vários centros do mesmo porte, a
capital será escolhida (para receber investimentos em prioridade) entre os
centros com maior potencialidade de crescimento.
A região ou a macrorregião
são espaços polarizados por uma grande cidade (capital regional); no seu
interior, entre as cidades médias e a capital regional, as trocas são intensas.
Nas capitais regionais o
setor secundário é relativamente desenvolvido, assim como o setor terciário e o
quaternário (serviços prestados à indústria). Há a localização de grandes
projetos (ou pelo menos à sua proximidade), dada a sua estrutura industrial e a
importância de seu mercado consumidor (Souza, 1981).
3.3
Diferença entre região e nação
Tendo em vista que, no
contexto da Economia Internacional, pode-se formar "regiões" pela
aglutinação de nações, a distinção entre região e nação não parece tão clara
quanto parece. Existe, contudo, diferenças entre o espaço subnacional, nacional
e supranacional. - A região, compreendendo aqui o espaço subnacional, é mais
aberta do que a nação, sendo relativamente mais intensos os fluxos de bens e
fatores do que no caso nacional e internacional. - As barreiras postas nas
fronteiras nacionais, que não existem no caso regional, dificultam essa
mobilidade: alfândegas, licenças de imigração, diferenças das moedas, dos
hábitos de consumo, das funções de produção etc. – No nível regional, os
planejadores não podem contar com os instrumentos político-econômicos que se
encontram a disposição dos governos nacionais: instrumentos cambiais,
monetários, fiscais, política de preços e gastos públicos em grande escala
(Souza, 1981).
Quanto mais centralizado for
o poder da economia nacional, menos opções de política regional terão os
governos regionais e locais. - Os objetivos da política econômica variam na
medida em que se desce do nível nacional ao nível regional. No nível nacional,
a preocupação básica poderá ser a criação de novos empregos, o controle da
inflação e o equilíbrio do balanço de pagamentos; estes últimos objetivos não
são importantes no nível regional, porque exigirem instrumentos de política
indisponíveis aos governos regionais. Em compensação, os objetivos regionais
mais focalizados são o de crescer no longo prazo, obter melhor distribuição
espacial de população e das atividades econômicas, reduzir ou ampliar as
correntes migratórias, controlar a qualidade do meio ambiente etc. (Souza,
1981).
É importante ter em mente a
distinção clara entre região e nação, porque não é possível tratar a região
como um sistema fechado; pelo contrário, é necessário identificar as variáveis
exógenas chaves do crescimento regional e os elementos desequilibradores
(Souza, 1981).
Segundo Richardson (1977, p.
20), apesar de a região contar com poucos instrumentos de política econômica,
existe uma relação mais estreita entre crescimento econômico e política
econômica pública em nível regional do que no nível nacional.
No nível regional, certos
fatores favoráveis tornam possível obter taxa de crescimento mais elevada do
que no nível nacional nas mesmas condições. A diferença básica entre a análise
regional e a nacional é a consideração pela primeira de elementos espaciais,
enquanto a segunda raramente se preocupa com o conteúdo espacial. Ao
introduzir-se o elemento espaço na análise, está-se, implicitamente, tratando
de economia regional.
A consideração do elemento
espacial, segundo Isard, tem quatro vantagens principais:
a) proporcionar a utilização
racional dos recursos naturais – os planos nacionais não devem considerar
unicamente os agregados nacionais, mas a desigual repartição espacial dos
recursos energéticos, matérias-primas, mão-de-obra e centros de consumo e
produção;
b) Proporcionar a análise
das flutuações conjunturais – as regiões podem sofrer ou provocar, de maneira
diversa, os fenômenos cíclicos, bem como podem influir diversamente sobre
certos desequilíbrios nacionais. Na França, por exemplo, acredita-se que esse
país tenha maior propensão do que a Alemanha à inflação, em parte, porque a
distribuição espacial de suas atividades e de sua população é menos uniforme do
que na Alemanha. Na França, grande parte da produção é encarecida pelos altos
salários da Região de Paris, onde se concentra 50% da atividade econômica
nacional; os maiores custos de produção dessa região tendem a influir sobre o
nível de custos das demais regiões do País;
c) Proporcionar a análise
das regiões deprimidas - há necessidade de se elaborar planos regionais de
desenvolvimento para melhorar a situação econômica das áreas mais pobres. No
Brasil. O exemplo é dado pela Sudene, Sudam, Sudesul, etc; na França, pela
reconversão das regiões de industrialização antiga, hoje decadentes (zonas
têxtil e siderúrgica);
d) Proporcionar a condução
da política econômica geral – pois não se pode conduzir a política econômica
global unicamente pela distribuição setorial dos gastos e das despesas
públicas. Os fundos públicos devem ser repartidos entre as regiões do sistema
nacional em função de suas necessidades e potencialidades. A regionalização da
política monetária e do crédito e é igualmente uma necessidade (Souza, 1981).
TEXTO DO QUAL O MATERIAL FOI
RECORTADO:
Souza, Nali de Jesus de.
ECONOMIA REGIONAL: CONCEITO E FUNDAMENTOS TEÓRICOS. Publicado originalmente na
revista Perspectiva Econômica, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Ano
XVI, v. 11, n. 32, 1981, p. 67-102.
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