A tendência natural do capitalismo desregulado é a crescente polarização e a
divergência entre taxas de crescimento do produto e níveis de renda per capita dos diferentes
países. Esta tendência ao desenvolvimento desigual decorre dos efeitos cumulativos das
enormes assimetrias entre os países centrais e os periféricos. Estas assimetrias dizem respeito
fundamentalmente a três aspectos , a saber:
a) o poder militar, b) o controle da moeda e finanças internacionais e c) o controle sobre a
tecnologia e progresso técnico (Cardoso de Mello (1997)).
Tais assimetrias, que também se reproduzem, ainda que em menor grau, entre os países
desenvolvidos, podem gerar fortes efeitos cumulativos como a facilidade de forjar alianças e
expandir o poder político e diplomático que vêm do poderio militar; a maior “liquidez” e
“segurança” que a moeda e os ativos financeiros do centro (principalmente os do país que
emite a moeda internacional) naturalmente proporcionam aos detentores de capital de todos os
países; e os “retornos crescentes” de escala e aprendizado que decorrem do controle da
tecnologia e dos mercados internacionais.
Desta forma tanto a ampliação ou mudança na hierarquia dos países do centro quanto o
crescimento acelerado e mesmo a diminuição significativa do atraso relativo dos países da
periferia são processos que pouco ou nada tem de automáticos ou naturais e dependem,
fundamentalmente, de estratégias internas de desenvolvimento dos Estados Nacionais.
Por outro lado, precisamente pelas assimetrias mencionadas acima, o resultado final de
tais projetos esta fortemente associado, em cada período histórico, às condições externas.
Nosso ponto de partida é o de que em cada momento da evolução do sistema monetário
internacional, com a exceção (dentro de certos limites) do país central que emite a moeda
dominante, em todos os demais países que tentam se desenvolver o papel dos condicionantes
externos aparece de forma objetiva no fato de que estes tem sempre que enfrentar e resolver
seu problema de balanço de pagamentos.
Nossa hipótese central é a de que a amplitude dos espaços e oportunidades para o crescimento
destes países em cada período histórico estão ligados a dois determinantes fundamentais da
natureza da restrição externa por eles enfrentada: i) as características gerais do regime
monetário internacional e em particular a forma pela qual o país central opera o padrão
monetário internacional ii) a orientação geopolítica da(s) potência(s) dominante(s).
O país que emite a moeda de curso internacional, por não estar diretamente sujeito à
restrição de balança de pagamentos, cumpre um papel fundamental no controle da expansão da
demanda efetiva e da liquidez internacional (Triffin, 1972), influenciando a divisão
internacional do trabalho de forma decisiva, tanto pela criação e expansão dos mercados
internacionais quanto pela viabilização de seu financiamento (Prebisch, 1949).
Por outro lado, a forma e a direção que a criação de mercados e a expansão da
integração financeira comandada pelo país central assumirá será influenciada pela situação
geopolítica internacional, principalmente no que diz respeito às rivalidades e à natureza dos
conflitos entre as principais potências internacionais.
Vamos usar a seguinte cronologia de regimes monetários internacionais:
1. O padrão ouro-libra, de 1819 até 1914
2. A tentativa de retorno ao padrão ouro-libra do fim da Primeira Guerra até os anos 30
3. O padrão ouro-dólar do fim da Segunda Guerra até 1971
4. O período de crise, entre 1971 e 1979
5. O padrão dólar flexível, de 1980 até os dias de hoje.
Na seção II resumimos brevemente algumas das características principais de cada um
destes regimes . Na seção III discutimos esquematicamente a relação entre o centro e a
restrição externa da periferia no padrão ouro-libra e em sua crise (regimes 1 e 2 acima).
Fazemos o mesmo para o ouro-dólar e sua crise (regimes 3 e 4) na seção IV e para o atual
padrão dólar flexível (regime 5) na seção V. A seção V apresenta breves observações finais.
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