sexta-feira, 7 de junho de 2019

Padrões Monetários Internacionais e Crescimento

PUBLICADO EM: 07-06-2019


A tendência natural do capitalismo desregulado é a crescente polarização e a divergência entre taxas de crescimento do produto e níveis de renda per capita dos diferentes países. Esta tendência ao desenvolvimento desigual decorre dos efeitos cumulativos das enormes assimetrias entre os países centrais e os periféricos. Estas assimetrias dizem respeito fundamentalmente a três aspectos , a saber: 

a) o poder militar, b) o controle da moeda e finanças internacionais e c) o controle sobre a tecnologia e progresso técnico (Cardoso de Mello (1997)). 

Tais assimetrias, que também se reproduzem, ainda que em menor grau, entre os países desenvolvidos, podem gerar fortes efeitos cumulativos como a facilidade de forjar alianças e expandir o poder político e diplomático que vêm do poderio militar; a maior “liquidez” e “segurança” que a moeda e os ativos financeiros do centro (principalmente os do país que emite a moeda internacional) naturalmente proporcionam aos detentores de capital de todos os países; e os “retornos crescentes” de escala e aprendizado que decorrem do controle da tecnologia e dos mercados internacionais. 

Desta forma tanto a ampliação ou mudança na hierarquia dos países do centro quanto o crescimento acelerado e mesmo a diminuição significativa do atraso relativo dos países da periferia são processos que pouco ou nada tem de automáticos ou naturais e dependem, fundamentalmente, de estratégias internas de desenvolvimento dos Estados Nacionais. 

Por outro lado, precisamente pelas assimetrias mencionadas acima, o resultado final de tais projetos esta fortemente associado, em cada período histórico, às condições externas. 

Nosso ponto de partida é o de que em cada momento da evolução do sistema monetário internacional, com a exceção (dentro de certos limites) do país central que emite a moeda dominante, em todos os demais países que tentam se desenvolver o papel dos condicionantes externos aparece de forma objetiva no fato de que estes tem sempre que enfrentar e resolver seu problema de balanço de pagamentos. 

Nossa hipótese central é a de que a amplitude dos espaços e oportunidades para o crescimento destes países em cada período histórico estão ligados a dois determinantes fundamentais da natureza da restrição externa por eles enfrentada: i) as características gerais do regime monetário internacional e em particular a forma pela qual o país central opera o padrão monetário internacional ii) a orientação geopolítica da(s) potência(s) dominante(s).  

O país que emite a moeda de curso internacional, por não estar diretamente sujeito à restrição de balança de pagamentos, cumpre um papel fundamental no controle da expansão da demanda efetiva e da liquidez internacional (Triffin, 1972), influenciando a divisão internacional do trabalho de forma decisiva, tanto pela criação e expansão dos mercados internacionais quanto pela viabilização de seu financiamento (Prebisch, 1949). 

Por outro lado, a forma e a direção que a criação de mercados e a expansão da integração financeira comandada pelo país central assumirá será influenciada pela situação geopolítica internacional, principalmente no que diz respeito às rivalidades e à natureza dos conflitos entre as principais potências internacionais. 

Vamos usar a seguinte cronologia de regimes monetários internacionais: 
1. O padrão ouro-libra, de 1819 até 1914 
2. A tentativa de retorno ao padrão ouro-libra do fim da Primeira Guerra até os anos 30 
3. O padrão ouro-dólar do fim da Segunda Guerra até 1971 4. O período de crise, entre 1971 e 1979 
5. O padrão dólar flexível, de 1980 até os dias de hoje. 

Na seção II resumimos brevemente algumas das características principais de cada um destes regimes . Na seção III discutimos esquematicamente a relação entre o centro e a restrição externa da periferia no padrão ouro-libra e em sua crise (regimes 1 e 2 acima). Fazemos o mesmo para o ouro-dólar e sua crise (regimes 3 e 4) na seção IV e para o atual padrão dólar flexível (regime 5) na seção V. A seção V apresenta breves observações finais.  

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