segunda-feira, 20 de junho de 2022

Comunidade de Remanescentes Quilombolas - Sítio Pêga em Portalegre/RN: Territorialidades, Identidades e Resistência Cultural

Introdução

A Comunidade de Remanescentes Quilombolas do Sítio Pêga, localizada no município de Portalegre, no estado do Rio Grande do Norte, representa um caso emblemático das formas de resistência e permanência das populações tradicionais rurais no Brasil. Sua existência está marcada por um processo histórico de luta pela liberdade, construção de identidades coletivas e pela afirmação de territorialidades baseadas em saberes e práticas tradicionais. Este texto tem como objetivo analisar os principais aspectos históricos, sociais e políticos que envolvem a constituição e a atualidade da comunidade do Pêga, dialogando com produções acadêmicas.

Histórico e Constituição do Território Quilombola do Pêga

O Sítio Pêga remonta ao período colonial, sendo formado por pessoas que fugiram da opressão e buscaram no isolamento geográfico da região serrana de Portalegre um espaço de refúgio, liberdade e reconfiguração de formas de vida. Conforme Pereira (2013), a territorialização da comunidade ocorreu com base em laços de parentesco, relações de solidariedade e na ocupação produtiva da terra, com a prática de agricultura familiar e criação de pequenos animais.

A formação do Pêga como comunidade quilombola não foi imediata nem linear, mas resultado de um processo de resistência cotidiana e permanente, onde o "ser quilombola" é construído e reatualizado nas relações sociais e nas práticas culturais compartilhadas.

Territorialidades e Identidades Coletivas

O conceito de territorialidade, aplicado ao contexto quilombola, extrapola a posse legal da terra, compreendendo os sentidos simbólicos e culturais atribuídos ao espaço. Pereira (2013) ressalta que o território é um elemento estruturante da identidade coletiva da comunidade, sendo atravessado por práticas religiosas, memórias ancestrais, organização familiar e modos de produção tradicionais.

A etnografia realizada por Morais (2008) permite compreender a centralidade da oralidade, da religião e da relação com a terra na conformação da identidade do Pêga. A autora destaca a importância das festas religiosas e das formas comunitárias de trabalho, que reforçam os vínculos sociais e a continuidade dos valores ancestrais.

Políticas de Regularização Fundiária e Desafios Estruturais

Apesar do reconhecimento constitucional dos direitos territoriais das comunidades quilombolas (Art. 68 do ADCT), o processo de regularização fundiária do Pêga tem sido marcado por morosidade e entraves burocráticos. Pereira (2013) evidencia como a ausência de vontade política, a lentidão dos órgãos responsáveis e as pressões de setores locais dificultam o avanço na titulação do território.

Mesmo quando há avanços legais, persistem desafios relacionados à infraestrutura, ao acesso a serviços básicos e à valorização da cultura afro-brasileira. Esses obstáculos reiteram a necessidade de uma abordagem intersetorial e de um compromisso efetivo com a solução dos problemas que afetam a comunidade.

Conclusão

A Comunidade Quilombola do Sítio Pêga representa um exemplo concreto das múltiplas formas de resistência no Brasil. Sua trajetória evidencia a importância da territorialidade como eixo estruturante da identidade e da sobrevivência cultural, e denuncia as limitações das políticas públicas na efetiva garantia de direitos.

O reconhecimento pleno dessa comunidade exige mais do que titulação legal: é necessário investir na valorização da cultura local, na educação antirracista, e na promoção de condições dignas de vida. O Pêga é, assim, um território de memória e futuro, cuja existência reafirma a urgência de uma sociedade mais justa e plural.

Referências

UMA ANÁLISE SOBRE AS TERRITORIALIDADES E SOCIABILIDADES NO TERRITÓRIO QUILOMBOLA DO PÊGA EM PORTALEGRE - RN
Camila da Silva PEREIRA

PARA UMA POSSÍVEL ETNOGRAFIA DA COMUNIDADE DO PÊGA (PORTALEGRE/RN)
Glória Cristiana de Oliveira Morais

Política de regularização de terras quilombolas: identidades e territorialidades negras em Portalegre - RN
Camila da Silva PEREIRA

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