Coordenação: Prof. Dr. Wallace Wagner Rodrigues Pantoja
(SEDUC-PA; em estágio pós-doc PPGEO-UFPA)
O contexto pandêmico, vivido no Brasil e no Mundo, exige seu enfrentamento em múltiplas perspectivas geográficas. Ainda que as gestões quantitativa e macroescalar sejam centrais para compreender e solucionar a problemática, não se pode esquecer dos impactos e das alternativas de caráter lugarizado e corporal, além das organizações comunitárias, percebidas como “minorias” ou que expressam diferencialidade geocultural e identitária, articulando de diferentes modos o fenômeno espacial da pandemia por COVID-19.
É nesta direção da experiência vivida que nos orientamos no atual momento traumático de asfixias simbólicas, físicas, materiais, políticas, econômicas e culturais, de modo a questionar, existencialmente, nossa visão geográfica/cartográfica de sobrevoo e de medusa (porque paralisa o espaço vivido para fria avaliação). Contra este binômico do olhar geográfico é que propomos como questões norteadoras dos ensaios/artigos para o dossiê:
- Como a relação entre nós e os lugares se modificou no contexto pandêmico? Refletir sobre questões emocionais, perceptivas e de sentidos mobilizadas neste ambiente de pressão sobre os corpos. Tentar esclarecer reações e reorientações de mundo no plano das subjetividades pessoal e coletiva, bem como os impactos da experiência de confinamento, distanciamento socioespacial e suspeita permanente de contaminação. Nosso habitar – não restrito à casa – sofreu alterações e renegociações diante deste fenômeno pandêmico, inclusive (mas não só) pela virtualização da vida.
- As paisagens se reconfiguram no plano da existência em um mundo assolado pela COVID-19? As marcas espaciais na cidade, no campo, nos territórios indígenas, quilombolas ou outros grupos culturais são alteradas, reelaboradas, reafirmadas. As imagens do país e do mundo doente, em luto, (d)esperançoso ou de renovação de conexões se impuseram. Ser mulher em meio à pandemia nos exige mudança de olhar, sentir, pensar e dizer o espaço geográfico. Além disso, o que podemos saber dos fundamentos e das fraturas da existência geográfica de idosos e idosas no país (e em outros países) que aceitam com naturalidade a sua morte? Que ambiência vaza entre nós e o espaço geográfico, atirados/as à solidão/solitude? Talvez, até as artes sejam provocadas a produzir alternativas de sentido e de aconchego/visceralidade simbólico-emocional.
- O território, o lugar e a geohistória dos diferentes povos e coletivos identitários “equipa-os” para enfrentar o fenômeno espacial da pandemia por COVID-19? É flagrante a necessidade da cartografia ou do mapeamento das topologias centradas na diferencialidade/diversidade da compreensão; na relação e na finitude da vida e do viver. Há pistas de como as geograficidades indígena, ribeirinha, varzeira, cigana, quilombola – e dos afro-brasileiros em sentido amplo que não constituem minoria – de Pessoas com Deficiência (PCDs) e de LGBTQI+ articulam formas de fazer-sentir Geografia em termos pluriversais; sobretudo em um país brutalizado não só pela doença em si, mas pelo descaso das esferas oficiais no trato da saúde das ditas “minorias”. E, apesar disso – ou justamente por isso –, ações político-culturais localizadas se reticulam, exigentes de uma geografia que pensa na escala não só como categoria da prática ou da análise, mas também emocional.
Embora essas questões não esgotem o tema ou as possibilidades dos ensaios/artigos, convidam à esperançosa reunião de textos que contextualizem dinâmicas em escalas variadas e pronunciam a existência, o subjetivo e a criatividade que alteram ou interferem nas relações que instituem lugares, paisagens e territórios. A especificidade, não exclusividade, é a atmosfera fenomenológica-existencial, hermenêutica e das humanidades (literatura, poética, performance etc.) para interpretar e compreender sentidos singulares dos enfrentamentos da pandemia que é global, mas carnalmente vivenciada desde o lugar.
Trabalhos de pesquisadoras/es/xs nacionais e internacionais serão acolhidos e avaliados seguindo o escopo e as diretrizes da Revista Geografares (cf. Submissões – Diretrizes para autores), acolheremos artigos em língua portuguesa, espanhola e inglesa. Os ensaios/artigos podem ser enviados até 31 de março de 2021. A publicação do Dossiê “Geografizando a pandemia – entrelugares do adoecimento existencial” será em agosto de 2021.
Saiba mais sobre GEOGRAFIZANDO A PANDEMIA – ENTRELUGARES DO ADOECIMENTO EXISTENCIAL
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