O Nordeste teve sua formação econômica baseada no cultivo da cana-de-açúcar, e por séculos esta vem sendo a principal atividade agrícola da Região. Embora não mais hegemônica, a produção de açúcar de álcool, por sua vez, também ainda permanecem entre as principais atividades econômicas regionais e, ainda mais importante, representam parcela significativa do emprego nos estados em que se concentra.
A questão do emprego agrícola vem se tornando cada vez mais importante no Nordeste visto que a ampla maioria dos municípios da Região são muito pobres e tem na atividade agrícola um dos principais caminhos para a formação de renda. No entanto, a agricultura no Nordeste vem passando por transformações e o caminho a seguir não é claro, como também não é claro qual o destino dos grupos que se ocupam ou se orientam por este setor.
Não há até o presente cultura comercial competitiva para o sertão e o semi-árido, e tirando iniciativas isoladas de projetos de irrigação, não há perspectivas de curto e médio prazo. Para as áreas litorâneas, onde secularmente há a presença da cana, os resultados para os últimos 20 anos mostram que destarte inúmeras políticas públicas da União e dos estados, a situação é de estagnação e o Nordeste está cada vez mais distante da coroa que outrora ocupou como maior produtor nacional. A figura abaixo ilustra a situação atual.
O Sudeste há muito se tornou o principal produtor e atualmente o Centro-Oeste assumiu a segunda posição. A produção nordestina se mantém estável, e as linhas de tendência sugerem que a situação não deve se inverter. Em verdade, atualmente a produção nordestina tem comportamento e quantum mais compatível com a da Região Sul, outrora sem qualquer tradição em cana.
Desde o início da década de 1990 outro cultura vem tomando cada vez mais destaque no Nordeste, que é a soja. No entanto, por se tratar de uma cultura que é intensiva em capital e não em mão-de-obra, e de se posicionar em áreas diferentes das ocupadas pela lavoura de cana, não se constitui em opção do ponto de vista do emprego. Embora a cana-de-açúcar ainda represente um maior valor da produção, a soja avança rapidamente.
Dentro da lógica de redução do emprego agrícola e da falta de perspectiva para o campo no Sertão e no Semi-Árido, houve recentemente uma grande iniciativa do governo federal através do programa do Biodiesel. Mesmo sendo um programa de cunho nacional as vantagens aos produtores familiares do Nordeste eram claras, incluindo preferência de compra. No entanto, mesmo sendo um programa nascido de iniciativas de nordestinos, e feito pensando no Nordeste, a lógica de mercado prevaleceu e hoje o Nordeste é um mero coadjuvante na produção.
Conforme pode ser observado, os resultados desde a implementação do programa mostram que as Regiões Centro-Oeste e Sul já abastecem o mercado, seguidos pela produção dos estados do Sudeste. Visto que a capacidade de produção já supera a demanda projetada, não é de se espantar que a tendência estimada para o Nordeste já sugere redução da produção atual. Que novos caminhos serão trilhados permanece uma questão em aberto.
Por: Fernando Dias - Datamétrica
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