Seguindo em movimento de forte alta desde a abertura da sessão desta quarta-feira (21), o dólar comercial avança cotado a 1,8382 na venda, valorização de 2,65%.
Em um dia de agenda de indicadores fraca e com o front externo, leia-se Europa e EUA, ainda sem muitas definições, parte dos especialistas atribui o movimento da divisa ao cenário interno.
Além da aversão ao risco natural em momentos de crise econômica, há uma razão doméstica muito forte que pressiona a divisa (dólar) para cima: a redução da taxa básica de juros, Selic, no último dia 31 de agosto em 0,5 pontos percentuais, para os atuais 12% ao ano, apontando um divisor de águas no mercado.
“Um primeiro momento, anterior à reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que reduziu a Selic, era caracterizado pelo entendimento de que o BC (Banco Central) colocava o combate à inflação como seu objetivo principal. Portanto, as apostas no diferencial de juro interno-externo a favor do real continuavam firmes”, explica Antônio Madeira, economista da MCM Consultores Associados.
Segundo Madeira, uma evidência disso é o declínio gradual da curva que relaciona a exposição dos principais investidores nos mercados de futuros e de opções na BM&F Bovespa.
Até 31 de agosto, os investidores estrangeiros tinham US$ 17,904 bilhões em posição vendida, ou seja, apostando na valorização do real. Depois do corte da Selic, essa posição caiu para US$ 9,981.
“Note-se que, ao longo de setembro, ocorreu expressiva alteração na exposição líquida dos investidores, em especial dos investidores estrangeiros, que arbitram juro, ou mesmo mantêm posições em reais a descoberto, ou seja, especulativas, e das empresas nacionais não financeiras. Ambos reduziram fortemente suas posições vendidas em derivativos cambiais”, explica o economista.
Com a redução inesperada do juro, a visão que o mercado tinha do BC mudou. "O mercado passou a enxergar o BC como parte do esforço coordenado do governo para depreciar (em termos nominais) a moeda, mesmo que isso conflite, de alguma forma, com o objetivo de fazer a inflação convergir para o centro da meta. E, assim, passou a apostar contra o real nos mercados futuros que, por arbitragem, eleva também a taxa de câmbio spot, apesar do fluxo cambial positivo. E como o mercado futuro opera colado no mercado à vista, e a mudança de posição foi brusca, observamos este movimento de alta agora”.
O futuro também pesa
Ainda segundo o analista da MCM, a piora da política econômica brasileira, de modo geral, e as expectativas de afrouxamento da política fiscal no próximo ano, contribuem para a apreciação da divisa norte-americana por aqui.
“No campo do superávit primário, as ações do governo têm recorrentemente desmentido os discursos de austeridade, a começar pelo Projeto de Lei Orçamentária enviado ao Congresso em agosto e as notícias frequentes de aumento dos gastos, como, por exemplo, a que o governo contratará mais de cinquenta mil servidores em 2012” , diz Madeira.
Além disso, medidas como o aumento de tarifas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis importados, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre derivativos, proposta de mecanismos antidumping cambial apresentada à OMC (Organização Mundial do Comércio), têm trabalhado contra a imagem do Brasil no exterior mostrando que o governo está de fato emprenhado – agora possivelmente com a concordância do BC – em desvalorizar o real (pelo menos em termos nominais).
“Provavelmente, o único evento capaz de alterar este novo comportamento do câmbio seria uma melhora substancial de expectativas com o desenrolar da crise na Europa”, conclui o economista da MCM.
Fonte:
Comentário: é bom lembrar que a análise acima reflete o ‘sentimento do mercado’ e que a redução da taxa básica de juros impôs perdas consistentes para vários agentes financeiros que especulavam com a permanência da taxa de juros no patamar vigente e alguns até acreditavam numa elevação.
A redução da taxa de juros precipitou a realização de ganhos especulativos e a reversão de expectativas quanto a continuidade da apreciação do real.
A análise mais realista revela uma maior coordenação das políticas fiscal e monetária e até o FMI defendeu a redução da taxa de juros no Brasil.
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