terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cidades: crescimento para cima ou para os lados?


Por Marcelo Eduardo A. Silva

A edição de dezembro da prestigiosa revista National Geographic em sua matéria de capa traz uma interessante discussão sobre o papel das cidades num mundo cada vez mais populoso. Afinal, já somos mais de sete bilhões de habitantes e a pergunta natural é, portanto, como será possível administrar isto. Sem dúvidas a resposta passa pelo papel das cidades.

São nelas que a maior parte destes sete bilhões de habitantes vive e, certamente, continuará a viver. (No Brasil, já somos cerca de 160 milhões de pessoas vivendo em áreas urbanas, ou seja, 84% da população total). Como morador de uma cidade com carências enormes de infraestrutura urbana e onde as autoridades “competentes” são pouco afeitas ao planejamento de longo prazo (ou de qualquer prazo!) fico me perguntando até quando ignoraremos a urgência de se pensar o papel de nossas cidades.

Uma coisa que me parece certa é que não poderemos esperar muito de nossas autoridades, afinal elas estão muito ocupadas discutindo coisas importantes como auxílio-moradia, auxílio paletó, auxílio disto ou daquilo outro, ou com quem ficará o poder se com Dom João I ou Dom João II, etc.


Embora existam certos movimentos iniciais nesta direção, como a recente e atual discussão sobre a questão da mobilidade urbana, que me parece ter sido fruto da pressão popular, existem diversas outras questões que considero serem tão ou mais urgentes do que isto. Uma delas diz respeito à direção do crescimento das cidades se para os lados (expansão lateral) ou se para cima (expansão vertical).

Um dos argumentos que a revista apresenta é que o crescimento vertical parece ser mais interessante. As pessoas migram para as cidades em busca dos benefícios que elas aglutinam (e.g. mais opções de serviços, lazer, hospitais, escolas, infraestrutura, etc.) a despeito de todos os males possíveis (e.g. congestionamentos, violência urbana, etc.) e esta tendência (gostemos ou não) parece ser inevitável. Portanto, se é verdade que as pessoas continuarão a migrar para as cidades, então a discussão sobre para onde crescem as cidades me parece crucial.


Crescer para os lados (i.e. espraiar a cidade) me parece interessante, mas como aponta a revista põe uma pressão talvez desnecessária sobre os recursos naturais e cria a necessidade de maiores investimentos na oferta de serviços (e.g. transporte, infraestrutura urbana, saneamento básico, etc.).

Por outro lado, o crescimento vertical atenuaria a pressão sobre os recursos naturais (afinal o espaço a ser ocupado por moradias, pelos negócios, etc. seria concentrado horizontalmente) ao mesmo tempo em que exigiria menores investimentos na oferta de serviços. Embora não goste dos arranha-céus que tomaram conta de nossa cidade, usando um “economês” mais de perto, entre os arranha-céus com a manutenção de nossos bolsões verdes no entorno da cidade e uma cidade espraiada horizontalmente, mas com crescente pressão sobre as áreas verdes, prefiro a primeira opção.

Há quem argumente que seria possível crescer horizontalmente sem pressionar os recursos naturais. Isto até seria possível, mas apenas por algum tempo se de fato as duas tendências que mencionei anteriormente se mantiverem. Para quem pensa o contrário sugiro analisar o que está acontecendo com a cidade da copa, ou então com as novas áreas de expansão urbana na região metropolitana do Recife onde áreas verdes (e.g. praia do Paiva), que poderiam ser transformadas em parques ou áreas de preservação, estão dando espaço a condomínios residenciais e empresariais.

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