sábado, 11 de fevereiro de 2012

Os professores que queremos


Por Marcelo Eduardo A. Silva


Semana passada escrevi sobre a importância de repensarmos o modelo de gestão de nossas escolas públicas tradicionais como forma de impulsionar o ensino público neste país. Defendi a ideia de que se faz necessário mudar o modelo atual, permitindo mais autonomia e flexibilidade em todos os níveis da gestão escolar (e.g. contratação e demissão de funcionários, definição de remunerações e premiações, definição de currículo e atividades extracurriculares, etc.).

Além disto, vejo com bons olhos a ideia de escolas do tipo “charter”, as quais possuem gestão privada, mas oferecem ensino público.

Como disse na semana passada, citando um ditado popular, “quem engorda o boi é o olho do dono” e as evidências sugerem que uma melhor gestão pode trazer benefícios para a educação. Na minha coluna desta semana, gostaria de falar sobre outro aspecto, que tem merecido pouca ou nenhuma atenção. Melhorar a gestão, investir em infraestrutura, dar mais acesso aos avanços tecnológicos, etc. tudo isto é importante, mas o que dizer sobre um dos elementos primordiais em sala de aula: o professor.

Em minha opinião temos um problema de oferta de professores. E quando me refiro a isto, tenho em mente a questão da qualidade de nossos professores de ensino fundamental e médio. Neste aspecto o problema tem duas dimensões: uma de curto prazo e outra de longo prazo.

No curto prazo, nosso problema é que a maior parte de nossos professores tem formação deficiente ou inadequada. Muitos de nossos professores tiveram eles mesmos formação ruim, frequentaram universidades e faculdades de baixa qualidade, tantos outros ensinam  matérias para os quais não tiveram formação adequada, e um percentual importante sequer tiveram formação superior. Infelizmente, em um curto espaço de tempo, não seremos capazes de mudar esta questão da qualidade de maneira satisfatória.

Os esforços recentes de “formar” professores com cursos de educação superior de qualidade duvidosa não trarão o efeito desejado, apenas engrossarão a propaganda oficial de que temos mais professores com formação superior. O certo é que, no curto prazo, será difícil modificar este cenário de baixa qualidade de nossos professores, até porque nem mesmo as universidades e faculdades de formação de professores fornecem uma formação adequada.  Isto me lembra uma experiência recente que tive.

Fui convocado para fazer um desses cursos de atualização didático pedagógica na UFPE e a única conclusão que cheguei naquele curso foi de ter perdido um dia de trabalho útil para ficar discutindo um bando de teorias que em nada melhorariam a minha capacidade de dar melhores aulas. Ou seja, em resumo, nossas faculdades de pedagogia gastam muito tempo discutindo filosofia da educação, teorias sobre nada, e na prática pouco ensinam como dar melhores aulas e ser mais efetivo em sala de aula. 

Por outro lado, no longo prazo, o problema é que muitos daqueles que escolhem a carreira de professor, com as devidas exceções, não estão entre nossos melhores “cérebros”. Infelizmente, outras carreiras, particularmente aquelas ligadas ao setor público atraem mais os nossos jovens.

E isto por razões óbvias: os salários, benefícios e condições de trabalho são substancialmente melhores. Basta comparar um salário numa dessas tantas carreiras no setor público com os salários de um professor, e isto mesmo entre os professores das universidades federais.

Parece piada, mas, por exemplo, um salário de entrada na Receita Federal para alguém que tem curso superior é aproximadamente 3,7 vezes maior  do que o salário de um professor com doutorado no ensino básico, técnico e tecnológico no serviço público federal.

Se fosse comparar com os salários dos professores dos estados e municípios, o resultado seria ainda mais desanimador. Ou seja, para o Brasil mais vale um burocrata a carimbar papel do que um professor com PhD em sala de aula. E é ai que me parece estar o ponto chave da questão. Não conseguiremos formar melhores alunos, sem que a qualidade dos nossos professores melhore substancialmente. E para isto não tem solução fácil, ou os salários melhoram, ou continuaremos com o mesmo quadro atual. Na propaganda oficial, o Brasil nunca esteve tão bem, na realidade, o Brasil continua indo mal, como mostra o resultado do PISA onde o Brasil ficou na 54º  posição num ranking de 65 países.

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