terça-feira, 24 de abril de 2012

A cauda longa


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A expressão mais falada no mundo da nova mídia é “The Long Tail”, A Cauda Longa. Ela apareceu há dois anos em artigo que falava da longa cauda de links de referência inseridos em blogs e virou conceito econômico na Wired, cunhado pelo editor Chris Anderson.

O livro de Chris, publicado este ano, “The Long Tail: Why the Future of Business is Selling Less of More” (a tradução do subtítulo pode ser “por que o futuro dos negócios é vender menos de mais”), foi religiosamente distribuído aos participantes do Zeitgeist, o evento no qual o Google reuniu boa parte da nata da nova e da velha mídia, em outubro, na sua sede, na Califórnia.

A Cauda Longa define a cada vez mais infindável cadeia de produtos à venda, seja na forma de bits ou em forma física. Anderson conta que a maioria dos 50 top álbuns de música que mais venderam em todos os tempos foram gravados nos anos setenta ou oitenta. Nenhum campeão mundial com o velho porte de vendas de um Michael Jackson, por exemplo, foi gravado nos últimos cinco anos, porque agora se consome menos de mais. A cauda longa significa vender muito mais produtos em vez de vender muito de um único produto. As novas lojas de música na internet se fundam neste modelo.

Ainda no mesmo evento, o presidente da Motorola, Ed Zander, disse que “o gigabyte é o novo Gutenberg”. Composição da cauda longa, tudo o que é escrito, falado, cantado ou visto vai virar bit. Para ele, o protocolo da internet é ubíquo. A mobilidade é a energia social. Se já existem dois bilhões de celulares em funcionamento no planeta, as outras mídias contam menos: 1,5 bilhão de televisores, 820 milhões de computadores pessoais, 190 milhões de game boys, 50 milhões de computadores de mão. Tudo isso é conexão pessoal. A sua mídia vai acompanhar você onde você estiver com aparelhos distintos, ferramentas diferentes, preços variados, um produto para cada perfil, um jeitão para cada estilo de vida.

Para o Yahoo, “o mundo está mudando dramaticamente”, conforme disse Cammie Dunaway, a mulher de marketing do maior concorrente do Google. Se o Google se vê como uma empresa de publicidade, carregador de anúncios, o Yahoo se vê como uma empresa fundada em quatro pilares: Busca, Conteúdo, Comunidades e Personalização. Personalização é sinônimo de cauda longa. Ambos se fundam na venda de links patrocinados, que é a reinvenção na internet do velho classificado de jornal, vovô da cauda longa.

“É preciso permitir ao consumidor fazer as escolhas”, reconheceu Andrew House, da Sony, no mesmo painel que o reuniu com as marcas Yahoo e Nike. “O consumidor decide”, definiu em coro o marketólogo da Nike, Trevor Edwards. A brutal renovação de modelos Nike à disposição nas prateleiras em todo o mundo mostra o quão extensa pode ser a cauda.

Chuck Porter é uma lenda nos EUA e veio ao evento na contramão da cauda longa e das mudanças. Publicitário, sócio da Crispin Porter + Bogusky, é um dos criadores da campanha da Coca-Cola Zero e de um anúncio hilariante para o Burger King, cuja mensagem é: “macho come hambúrguer”. Para ele, cultura popular é moeda, o mito número um é aquele que diz que tudo está mudando, e o de número dois aquele que diz que o consumidor está no controle. Como dizia Platão, ele repete, não há aprendizado sem emoção. Ou então, numa paródia de Sócrates, ninguém sabe nada. Por tudo isso, ele provoca: “seja um farol”.

Para destoar, o farol Sergei Brin, fundador do Google, fez um apelo à economia de energia e a favor da unificação de conectores elétricos. Mostrando dezenas de conectores distintos usados para ligar os diferentes aparelhos com os quais o homem convive diariamente, ele se perguntou nada filosoficamente: “Nós precisamos de tantos conectores diferentes? E Larry page, o outro criador do Google, falou muito de mal-entendidos e desinformações, elogiou a Wikipedia – enciclopédia aberta e em permanente construção por internautas de todo o mundo – e clamou por “melhor informação para todos, quem sabe no futuro”. Quem sabe?

Fonte
COSTA, Caio Túlio. A cauda longa. Disponível em: <www.facasper.com.br/jo/notas.php?id_nota=29>.

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