Enquanto continuam pensando que a criatividade é um dom
pessoal, as empresas ignoram milhares de idéias que existem na cabeça de seus
funcionários. Esse é um dos leit motiv de Edward de Bono, o criador do
pensamento lateral. Durante o seminário organizado pela HSM em Buenos Aires, o
especialista deu algumas pistas para o futuro das corporações.
Os três elementos-chave no futuro serão a criatividade, a competência e o capital, prognosticou. A eficiência e a solução de problemas não mais serão suficientes, na opinião do especialista, porque a linha econômica de base já não se mantém em constante crescimento, inclusive podendo diminuir; e cada vez existem mais pessoas que geram bens.
Muitas organizações operam sobre a base da manutenção e a solução de problemas. Incluir a criatividade nos negócios é uma tarefa mais complexa. Geralmente, continua-se fazendo o mesmo de antes; e, ocasionalmente, a continuidade se interrompe por fusões, aquisições ou cópia de idéias de terceiros. Hoje, criatividade, estratégia e conceitos fazem falta.
A criatividade no poder
Um tipo de criatividade é a que utilizamos quando sabemos aonde vamos, mas queremos encontrar uma melhor forma de cumprir este objetivo: menos custos de um modo mais eficiente. Em resumo, procura-se melhorar. No mundo ocidental, considera-se melhoria a solução de problemas.
Também é necessária a criatividade ao analisar as informações. Às vezes, acreditamos que as informações vão pensar por nós, mas não é assim. Pensar é passar de uma configuração das informações para outra. No futuro, será essencial combinar a informação para gerar valor. Não é verdade que da simples análise das informações se obtêm idéias. O cérebro só pode ver o que está preparado para ver; por isso, é necessário que a idéia tenha sido gerada antes na mente. A informação sem a inclusão de possibilidades não gera idéias. A informação sem idéias é fraca, explicou o professor.
No mundo dos negócios, três elementos estão se transformando em commodities: competência, informação e tecnologia de ponta. A diferença – assinalou – está em como tomamos esses elementos para transformá-los em valor. Além de um certo ponto, a tecnologia não gera valor. A tecnologia pode transmitir conceitos de valor, mas não é, por si mesma, um valor. As empresas classificadas como ponto.com que vão à falência não fracassam por falta de tecnologia, mas porque a idéia comercial não era boa.
Um dos motivos pelos quais a criatividade é necessária é que o mundo muda constantemente e apresenta novos desafios e novas ameaças. A criatividade pode ser empregada também para gerar um uso superior dos ativos.
A solução de problemas é outra das
tarefas da criatividade...
·
o
método tradicional, neste caso, é a análise: averiguar a causa e solucionar o
problema. Não se soluciona com mais análise, mas, em muitos casos, também faz
falta o projeto;
·
a
imaginação criativa pode nos ajudar a prever o futuro, indicando
possibilidades;
·
uma
extrapolação em linha reta do passado a respeito do futuro não é suficiente. A
criatividade também é uma necessidade matemática. Qualquer sistema com um
aporte de informação ao longo do tempo não será adequado;
·
sem
que exista o conhecimento completo do futuro, não existe forma de retroceder e
corrigir, disse De Bono.
O mito do bom pensador
É um mito acreditar que, se você é inteligente, será um bom pensador. A relação entre inteligência e pensamento é potencial, como a existente entre a potência de um carro e a habilidade do motorista. Por si só, a inteligência não implica capacidade de raciocínio.
Muitas pessoas são pegas na
armadilha da inteligência: ficam presas nas idéias pobres porque não podem
defendê-las corretamente ou utilizam sua inteligência só para comprovar que os
demais estão equivocados.
Os seis chapéus
Na sua análise do pensamento, De Bono utiliza o conceito dos chapéus de distintas cores. Cada um destes representa uma das fases da inteligência...
·
o
branco representa a informação: aquela a que temos acesso e aquela a que não
temos acesso, perguntas que queremos fazer;
·
o
vermelho representa o fogo: sentimentos, intuição e emoções. Dá-nos permissão
para expressar sentimentos, emoções e intuições sem ter de justificá-los;
·
o
preto é como a toga do juiz. Está relacionado com a cautela, a avaliação de
risco e crítica. É o mais utilizado;
·
o
chapéu amarelo é associado ao sol: otimismo, valores, como fazer com que as
coisas aconteçam. Não é natural para o cérebro. Temos dificuldades para
perceber o valor. Sem a noção de valor, a criatividade é uma perda de tempo;
·
o
verde é como a vegetação: simboliza o crescimento e a energia. É a
criatividade. Todos devem fazer um esforço para ser criativos, para procurar
modificações, possibilidades. Estabelecer hipóteses é fundamental. Na
tecnologia, a possibilidade é visão. Na educação, não se dá a atenção devida às
hipóteses que são a base da ciência;
·
o
azul simboliza o céu: é o controle da organização, dos processos e da
supervisão.
Quando utilizamos os seis chapéus, temos mais poder porque
todos utilizam seu pensamento e sua inteligência na mesma direção e não
discutem com os demais. A discussão é um sistema extremamente ineficiente. Com
este método, todos olham o objetivo, não consideram o que outra pessoa falou,
afirma De Bono.
Além disso, esta técnica elimina a questão do ego, o problema mais importante relacionado ao pensamento.
Além disso, esta técnica elimina a questão do ego, o problema mais importante relacionado ao pensamento.
Outro motivo para usar os chapéus é a separação. Quando pensamos, fazemos tudo ao mesmo tempo. Com os chapéus, fazemos uma coisa por vez. Isso é melhor para otimizar o uso do cérebro, uma vez que o pré-sensibilizamos para cada uma das tarefas. Existe uma razão fisiológica, assegurou De Bono, remetendo aos seus estudos iniciais de medicina.
[...]
Percepções erradas
De Bono também rebateu as percepções erradas acerca da criatividade e assegurou que não se trata de um privilegio de poucos, mas que todos têm a possibilidade de desenvolvê-la.
Algumas das falsas idéias que rebateu o pai do pensamento lateral...
·
a
criatividade só tem a ver com a arte. Porém, De Bono assegura que a arte é só
uma parte da criatividade;
·
a
criatividade é um talento que só alguns poucos têm. É preciso se capacitar para
aumentar o potencial, explicou o especialista.
De acordo com o guru, cada idéia criativa sempre é lógica
quando se olha retrospectivamente. A menos que compreendamos os sistemas de
padrões assimétricos, não entenderemos a criatividade, já que ela consiste em
organizar a informação neste tipo de padrões.
Como desenvolver o pensamento lateral
Entre as distintas técnicas para se chegar ao pensamento lateral, o especialista mencionou o desafio, as alternativas e a provocação, o mais poderoso dos mecanismos que, por sua vez, é o mais distanciado do pensamento padrão.
1.
Desafio
O desafio implica o abandono do enfoque usual, do modo habitual de se fazerem as coisas. É uma atitude mental, uma disposição a questionar as coisas. A questão implícita é: Existe outra forma de se fazerem as coisas?
2.
Alternativas
Esta
técnica determina que por trás de toda alternativa, existe um conceito. O
conceito brinda a flexibilidade, é uma parte-chave do pensamento. Este enfoque
do pensamento lateral é como um efeito cascata. Temos um objetivo, direções
possíveis para abordá-lo; conceitos para cada direção e idéias para cada
conceito. O aspecto específico é a idéia, o conceito é a raiz, e a direção é o
caminho. Mas isso é considerado de trás para a frente: direção, conceito,
idéias, explicou o guru.
3. Provocação
É a forma mais poderosa do pensamento lateral. Significa colocar uma idéia
intermediária distinta das demais. O pensamento sai do caminho tradicional para
encontrar distintas alternativas, a fim de chegar ao destino. Logo, visto em
retrospectiva, o caminho alternativo resulta em ser completamente lógico. A
técnica implica em passar de uma posição estável por meio de uma instável para
outra estável. A provocação permite sejamos loucos, mas de uma forma
controlada, acrescentou.
Existem duas etapas: preparar a provocação e utilizá-la. Para este segundo passo, trabalha-se com o movimento. O movimento é um processo diferente da razão. Na razão, quando chegamos a uma idéia, se esta não é correta, a descartamos. A razão se ocupa do que é ou não é. Porém, o movimento se ocupa de aonde nos levam as coisas. Chegamos a uma idéia e, caso ela não seja correta, igualmente vemos aonde ela conduz e seguimos em frente, esclareceu o especialista.
Existem duas etapas: preparar a provocação e utilizá-la. Para este segundo passo, trabalha-se com o movimento. O movimento é um processo diferente da razão. Na razão, quando chegamos a uma idéia, se esta não é correta, a descartamos. A razão se ocupa do que é ou não é. Porém, o movimento se ocupa de aonde nos levam as coisas. Chegamos a uma idéia e, caso ela não seja correta, igualmente vemos aonde ela conduz e seguimos em frente, esclareceu o especialista.
Fontes de provocação
A provocação pode nascer de duas origens diferentes...
·
surgimento:
surge de forma espontânea. Não procura deliberadamente ser uma provocação, mas
é tratada como se fosse;
·
deliberada:
é uma forma sistemática e formal de demonstrar provocações.
Muitas pessoas acreditam que a
criatividade é somente um brainstorming. Também se pensa que é somente
uma tarefa realizada em
grupo. Porém, ela pode ser utilizada por uma só pessoa.
[...]
Apesar da grande ênfase que é atribuída hoje à criatividade dentro das empresas, já não se duvida de que seja uma vantagem competitiva; o guru reconheceu que, em muitos casos, levar essas técnicas na prática não é fácil. Estar a favor da criatividade não é suficiente. A tarefa de todos é tarefa de ninguém.
A criatividade no tempo
De acordo com o especialista, existem dois tipos de criatividade...
·
a
cotidiana se refere à disposição natural para procurar alternativas e
questionar as coisas;
·
a
específica, por outro lado, implica um desejo explícito de criar.
[...]
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