terça-feira, 24 de abril de 2012

A criatividade como provocação


Enquanto continuam pensando que a criatividade é um dom pessoal, as empresas ignoram milhares de idéias que existem na cabeça de seus funcionários. Esse é um dos leit motiv de Edward de Bono, o criador do pensamento lateral. Durante o seminário organizado pela HSM em Buenos Aires, o especialista deu algumas pistas para o futuro das corporações.

Os três elementos-chave no futuro serão a criatividade, a competência e o capital, prognosticou. A eficiência e a solução de problemas não mais serão suficientes, na opinião do especialista, porque a linha econômica de base já não se mantém em constante crescimento, inclusive podendo diminuir; e cada vez existem mais pessoas que geram bens.

Muitas organizações operam sobre a base da manutenção e a solução de problemas. Incluir a criatividade nos negócios é uma tarefa mais complexa. Geralmente, continua-se fazendo o mesmo de antes; e, ocasionalmente, a continuidade se interrompe por fusões, aquisições ou cópia de idéias de terceiros. Hoje, criatividade, estratégia e conceitos fazem falta.

A criatividade no poder

Um tipo de criatividade é a que utilizamos quando sabemos aonde vamos, mas queremos encontrar uma melhor forma de cumprir este objetivo: menos custos de um modo mais eficiente. Em resumo, procura-se melhorar. No mundo ocidental, considera-se melhoria a solução de problemas.

Também é necessária a criatividade ao analisar as informações. Às vezes, acreditamos que as informações vão pensar por nós, mas não é assim. Pensar é passar de uma configuração das informações para outra. No futuro, será essencial combinar a informação para gerar valor. Não é verdade que da simples análise das informações se obtêm idéias. O cérebro só pode ver o que está preparado para ver; por isso, é necessário que a idéia tenha sido gerada antes na mente. A informação sem a inclusão de possibilidades não gera idéias. A informação sem idéias é fraca, explicou o professor.

No mundo dos negócios, três elementos estão se transformando em commodities: competência, informação e tecnologia de ponta. A diferença – assinalou – está em como tomamos esses elementos para transformá-los em valor. Além de um certo ponto, a tecnologia não gera valor. A tecnologia pode transmitir conceitos de valor, mas não é, por si mesma, um valor. As empresas classificadas como ponto.com que vão à falência não fracassam por falta de tecnologia, mas porque a idéia comercial não era boa.

Um dos motivos pelos quais a criatividade é necessária é que o mundo muda constantemente e apresenta novos desafios e novas ameaças. A criatividade pode ser empregada também para gerar um uso superior dos ativos.

A solução de problemas é outra das tarefas da criatividade...
·        o método tradicional, neste caso, é a análise: averiguar a causa e solucionar o problema. Não se soluciona com mais análise, mas, em muitos casos, também faz falta o projeto;
·        a imaginação criativa pode nos ajudar a prever o futuro, indicando possibilidades;
·        uma extrapolação em linha reta do passado a respeito do futuro não é suficiente. A criatividade também é uma necessidade matemática. Qualquer sistema com um aporte de informação ao longo do tempo não será adequado;
·        sem que exista o conhecimento completo do futuro, não existe forma de retroceder e corrigir, disse De Bono.

O mito do bom pensador


É um mito acreditar que, se você é inteligente, será um bom pensador. A relação entre inteligência e pensamento é potencial, como a existente entre a potência de um carro e a habilidade do motorista. Por si só, a inteligência não implica capacidade de raciocínio.

Muitas pessoas são pegas na armadilha da inteligência: ficam presas nas idéias pobres porque não podem defendê-las corretamente ou utilizam sua inteligência só para comprovar que os demais estão equivocados.

Os seis chapéus


Na sua análise do pensamento, De Bono utiliza o conceito dos chapéus de distintas cores. Cada um destes representa uma das fases da inteligência...
·        o branco representa a informação: aquela a que temos acesso e aquela a que não temos acesso, perguntas que queremos fazer;
·        o vermelho representa o fogo: sentimentos, intuição e emoções. Dá-nos permissão para expressar sentimentos, emoções e intuições sem ter de justificá-los;
·        o preto é como a toga do juiz. Está relacionado com a cautela, a avaliação de risco e crítica. É o mais utilizado;
·        o chapéu amarelo é associado ao sol: otimismo, valores, como fazer com que as coisas aconteçam. Não é natural para o cérebro. Temos dificuldades para perceber o valor. Sem a noção de valor, a criatividade é uma perda de tempo;
·        o verde é como a vegetação: simboliza o crescimento e a energia. É a criatividade. Todos devem fazer um esforço para ser criativos, para procurar modificações, possibilidades. Estabelecer hipóteses é fundamental. Na tecnologia, a possibilidade é visão. Na educação, não se dá a atenção devida às hipóteses que são a base da ciência;
·        o azul simboliza o céu: é o controle da organização, dos processos e da supervisão.

Quando utilizamos os seis chapéus, temos mais poder porque todos utilizam seu pensamento e sua inteligência na mesma direção e não discutem com os demais. A discussão é um sistema extremamente ineficiente. Com este método, todos olham o objetivo, não consideram o que outra pessoa falou, afirma De Bono.

Além disso, esta técnica elimina a questão do ego, o problema mais importante relacionado ao pensamento.
 
Outro motivo para usar os chapéus é a separação. Quando pensamos, fazemos tudo ao mesmo tempo. Com os chapéus, fazemos uma coisa por vez. Isso é melhor para otimizar o uso do cérebro, uma vez que o pré-sensibilizamos para cada uma das tarefas. Existe uma razão fisiológica, assegurou De Bono, remetendo aos seus estudos iniciais de medicina.

[...]

Percepções erradas


De Bono também rebateu as percepções erradas acerca da criatividade e assegurou que não se trata de um privilegio de poucos, mas que todos têm a possibilidade de desenvolvê-la.

Algumas das falsas idéias que rebateu o pai do pensamento lateral...
·        a criatividade só tem a ver com a arte. Porém, De Bono assegura que a arte é só uma parte da criatividade;
·        a criatividade é um talento que só alguns poucos têm. É preciso se capacitar para aumentar o potencial, explicou o especialista.

De acordo com o guru, cada idéia criativa sempre é lógica quando se olha retrospectivamente. A menos que compreendamos os sistemas de padrões assimétricos, não entenderemos a criatividade, já que ela consiste em organizar a informação neste tipo de padrões.

Como desenvolver o pensamento lateral

Entre as distintas técnicas para se chegar ao pensamento lateral, o especialista mencionou o desafio, as alternativas e a provocação, o mais poderoso dos mecanismos que, por sua vez, é o mais distanciado do pensamento padrão.

1.     Desafio

O desafio implica o abandono do enfoque usual, do modo habitual de se fazerem as coisas. É uma atitude mental, uma disposição a questionar as coisas. A questão implícita é: Existe outra forma de se fazerem as coisas?

2.     Alternativas

Esta técnica determina que por trás de toda alternativa, existe um conceito. O conceito brinda a flexibilidade, é uma parte-chave do pensamento. Este enfoque do pensamento lateral é como um efeito cascata. Temos um objetivo, direções possíveis para abordá-lo; conceitos para cada direção e idéias para cada conceito. O aspecto específico é a idéia, o conceito é a raiz, e a direção é o caminho. Mas isso é considerado de trás para a frente: direção, conceito, idéias, explicou o guru.

   3. Provocação

É a forma mais poderosa do pensamento lateral. Significa colocar uma idéia intermediária distinta das demais. O pensamento sai do caminho tradicional para encontrar distintas alternativas, a fim de chegar ao destino. Logo, visto em retrospectiva, o caminho alternativo resulta em ser completamente lógico. A técnica implica em passar de uma posição estável por meio de uma instável para outra estável. A provocação permite sejamos loucos, mas de uma forma controlada, acrescentou.

Existem duas etapas: preparar a provocação e utilizá-la. Para este segundo passo, trabalha-se com o movimento. O movimento é um processo diferente da razão. Na razão, quando chegamos a uma idéia, se esta não é correta, a descartamos. A razão se ocupa do que é ou não é. Porém, o movimento se ocupa de aonde nos levam as coisas. Chegamos a uma idéia e, caso ela não seja correta, igualmente vemos aonde ela conduz e seguimos em frente, esclareceu o especialista.

Fontes de provocação


A provocação pode nascer de duas origens diferentes...
·        surgimento: surge de forma espontânea. Não procura deliberadamente ser uma provocação, mas é tratada como se fosse;
·        deliberada: é uma forma sistemática e formal de demonstrar provocações.

Muitas pessoas acreditam que a criatividade é somente um brainstorming. Também se pensa que é somente uma tarefa realizada em grupo. Porém, ela pode ser utilizada por uma só pessoa.

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Apesar da grande ênfase que é atribuída hoje à criatividade dentro das empresas, já não se duvida de que seja uma vantagem competitiva; o guru reconheceu que, em muitos casos, levar essas técnicas na prática não é fácil. Estar a favor da criatividade não é suficiente. A tarefa de todos é tarefa de ninguém.
 
A criatividade no tempo
 
De acordo com o especialista, existem dois tipos de criatividade...
·        a cotidiana se refere à disposição natural para procurar alternativas e questionar as coisas;
·        a específica, por outro lado, implica um desejo explícito de criar.

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Fonte

A CRIATIVIDADE como provocação. Disponível em: <http://administracao.virtual.vilabol.uol.com.br/artigos/art19.html>.

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