sábado, 28 de abril de 2012

Unesco aponta deficiências no ensino fundamental brasileiro

Por Lei dos Homens – Alzimar Ramalho


Uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco), demostra a baixa qualidade do ensino fundamental oferecido no Brasil. Os dados constam do livro “Exclusão intra-escolar nas escolas públicas brasileiras: um estudo com dados da prova Brasil 2005, 2007 e 2009”, escrito por José Francisco Soares, Izabel Costa da Fonseca, Raquel Pereira Álvares e Raquel Rangel de Meireles Guimarães.

A pesquisa conclui que há margem para a melhoria da qualidade de escolas e professores, sobretudo para os estudantes menos favorecidos, e que os estudantes excluídos do direito de aprender são aqueles expostos a professores menos qualificados e mais sobrecarregados, e os que têm acesso às piores escolas.

O coordenador de Educação da Unesco no Brasil, Paolo Fontani, destaca que o estudo aponta três fatores que devem ser levados em consideração quando se pensam em políticas públicas: justiça social, equidade e inclusão. “Essa falha é uma responsabilidade do sistema, e não da criança, que está perdendo a oportunidade de aprender”.

Leitura e Matemática

De acordo com o estudo, em 2005 a parcela dos estudantes das escolas públicas brasileiras que chegou ao fim do ensino fundamental sem adquirir capacidades cognitivas elementares em leitura era de 30%, e esse índice baixou para 22% em 2009.

Na matemática, a parcela de estudantes que termina o ensino fundamental com desempenho insatisfatório na resolução de problemas permaneceu estável nos últimos anos: aproximadamente 39% dos estudantes do 9° ano do ensino fundamental que fizeram a Prova Brasil entre 2005 e 2009 não tinham o nível básico de competência que se espera de alunos nessa etapa de ensino.

Excluídos

Os pesquisadores definem que o conceito de “exclusão” parte da definição de níveis de competência. Para eles, um estudante é considerado excluído educacionalmente se não aprendeu, de maneira compatível com seu nível de ensino, as competências em leitura e matemática cuja aquisição caracteriza hoje o direito à educação.

Foi utilizada uma escala de proficiência que leva em conta critérios pedagógicos e normativos para distinguir quatro níveis de aprendizado: abaixo do básico, básico, proficiente e avançado. No estudo, os alunos que se encontram no nível abaixo do básico são de interesse especial, já que são considerados excluídos do direito de aprender.

O aluno classificado no nível proficiente é aquele que demonstra ter as competências esperadas para o seu estágio escolar. Aqueles que atingiram o nível avançado demonstram mais habilidades e competências do que se espera, em média, de alunos da sua etapa de ensino. O nível básico congrega os alunos que demonstram domínio apenas parcial das competências esperadas. E, finalmente, os alunos do nível abaixo do básico mostram domínio rudimentar das competências medidas.

Critérios da pesquisa

A pesquisa apresenta o perfil dos alunos considerados excluídos do aprendizado considerando o nível socioeconômico, ambiente cultural e envolvimento dos pais no processo de formação. Traça, ainda, um paralelo entre as realidades de cada unidade da Federação.

De acordo com os resultados, “o Sudeste, o Sul e o Centro-Oeste (em especial o Distrito Federal e Mato Grosso do Sul) são mais favorecidos. O Norte se divide: a distribuição de proficiência é melhor no Tocantins e nos estados do oeste (Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima) e pior nos estados do leste (Pará e Amapá). 

O Nordeste encontra-se em pior situação, sendo especialmente crítico o aprendizado dos estudantes das redes públicas de Alagoas, do Maranhão e do Rio Grande do Norte. Apesar de a média de desempenho ter melhorado nas avaliações das Provas Brasil de 2005, 2007 e 2009, as desigualdades regionais em relação à proficiência permaneceram estáveis.

Competências por sexo

Na avaliação das competências por sexo, o estudo aponta que, entre os alunos do 5° ano do ensino fundamental, a maioria dos estudantes que apresentaram nível abaixo do básico em leitura era do sexo masculino (aproximadamente 55%, em 2005, e cerca de 58%, em 2007 e 2009). As meninas são maioria entre os alunos que tiveram desempenho proficiente e avançado em leitura.

Já na matemática, não foi verificada uma dominância de sexo entre a parcela de excluídos do aprendizado (nível abaixo do básico), e essa característica persiste razoavelmente nos níveis básico e proficiente. Contudo, no nível de aprendizado avançado em matemática, os pesquisadores observaram que a maioria dos alunos é de meninos.

Entre os alunos do 9° ano do ensino fundamental, o aprendizado em leitura evidencia um claro diferencial: meninos são maioria entre os excluídos (mais de 60%) enquanto as meninas são maioria entre os alunos com nível avançado em leitura (aproximadamente 60%).

“Em suma, as evidências indicam que a variável sexo é mais importante para explicar o desempenho dos alunos do 9° ano do que o desempenho dos alunos no 5° ano do ensino fundamental. Além disso, observa-se que o seu efeito é diferente para o desempenho em leitura (com grande vantagem para as meninas) ou em matemática (com uma pequena vantagem para os meninos)”, destacam os pesquisadores

Raça e cor

Segundo a raça e cor, entre os estudantes do 5° ano do ensino fundamental em cada nível de aprendizado em leitura a pesquisa observa que há mais pretos entre estudantes de escolas públicas (cerca de 12%) do que na população brasileira (7,6%).

A proporção de pretos é ainda maior entre os alunos que se encontram excluídos do aprendizado em leitura (cerca de 17%) e menor entre os estudantes com nível de aprendizado proficiente e avançado.

Um padrão semelhante ocorre com a distribuição de pardos entre os níveis de aprendizado. Já os brancos estão sub-representados entre os alunos excluídos (são pouco mais de 30%) e correspondem a aproximadamente metade dos estudantes com nível avançado de aprendizado.

O estudo esclarece que, no banco de dados de 2005, não há as categorias amarelos e indígenas, incluídas no questionário dos estudantes nas edições de 2007 e 2009. A composição segundo a raça/cor verificada no 5° ano para os níveis de aprendizado em matemática segue um comportamento razoavelmente monotônico, no qual, avaliando-se com base no pior nível de aprendizado (abaixo do básico) em direção ao melhor (avançado), aumenta-se a proporção de estudantes de raça/cor branca e reduz-se a proporção de estudantes de raça/cor preta, amarela e indígena. Para os pardos, não há um padrão linear claro.

Entre os estudantes do 9° ano do ensino fundamental segundo a raça/cor conforme níveis de aprendizado em leitura e em matemática, o comportamento monotônico observado para o 5° ano se mantém: pretos são sobrerrepresentados entre os estudantes com nível abaixo do básico e subrepresentados entre os estudantes com nível avançado, ao passo que brancos são subrepresentados entre os estudantes com nível abaixo do básico e sobrerrepresentados entre os estudantes com nível de aprendizado avançado.

O estudo adverte que a autoclassificação na categoria amarelo, usada nas pesquisas do INEP e do IBGE, é bastante problemática. “Estudos de caso sobre classificação racial já constataram que há um grande número de pessoas que não têm ascendência ou identificação com grupos étnicos asiáticos, mas reportam ser amarelas ao serem perguntadas a respeito de sua raça ou cor, por entenderem que essa é a cor que mais se aproxima da cor de sua pele.”

Atraso escolar

A disparidade entre a proporção de alunos regulares e defasados, entre os diferentes níveis de desempenho, é mais nítida entre os estudantes do 9° ano do ensino fundamental, já que o atraso escolar é um problema mais sério nas séries finais, em comparação com o 5° ano.

O estudo comprova que há mais alunos defasados no pior nível de aprendizado, tanto para leitura quanto para matemática.

Escolas, professores e diretores

Outros resultados apresentados dizem respeito ao perfil das escolas, dos professores e dos diretores dos alunos excluídos do aprendizado. Neste item, a pesquisa considerou o ambiente escolar, a avaliação do diretor pelos professores, a qualidade da biblioteca, a coesão intraescolar, as condições de funcionamento, os equipamentos, as instalações, a formação do diretor, o uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC) pelo professor, os recursos pedagógicos participativos, os recursos pedagógicos formais, a formação e as condições de trabalho do professor.

Os alunos têm menor probabilidade de exclusão educacional quando estudam em escolas com melhores indicadores de qualidade: mais equipamentos; melhores instalações, bibliotecas e condições de funcionamento; equipes de gestores e de professores mais coesas, e menos violência escolar.

A pesquisa conclui que há margem para a melhoria da qualidade de escolas e professores, sobretudo para os estudantes menos favorecidos, e que os estudantes excluídos do direito de aprender são aqueles expostos a professores menos qualificados e mais sobrecarregados, e os que têm acesso às piores escolas.

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