sábado, 5 de maio de 2012

RN: Crise de gestão

A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) discutiu ontem, em Brasília, com lideranças que integram o Conselho Político, alternativas para superar o atual momento da administração estadual. O encontro foi no gabinete do senador José Agripino Maia (DEM) e além da própria chefe do Executivo e do presidente do DEM, estiveram presentes o ministro da Previdência, Garibaldi Filho (PMDB), o deputado federal Henrique Alves (PMDB) e o ex-deputado estadual Carlos Augusto, marido da governadora.

Durante a conversa, os aliados reconheceram a situação crítica no que diz respeito à gestão e relacionamento político do governo. Os integrantes do Conselho analisaram possíveis saídas para dar um novo rumo à administração estadual. 

Uma alternativa cogitada foi a oficialização da participação do ex-deputado Carlos Augusto Rosado (DEM) no governo. Para isso, está em análise a possibilidade de ele assumir o cargo de secretário-chefe do Gabinete Civil. Carlos Augusto teria demonstrado certo entusiasmo com essa possibilidade.

Os aliados da governadora consideram que outras medidas devem ser tomadas. O objetivo é ter um nome para gerenciar os principais programas em execução e os que passarem a ser desenvolvidos a partir de agora. O escolhido para essa missão foi o atual secretário de Políticas de Previdência Complementar, Jaime Mariz, auxiliar próximo do ministro Garibaldi Alves. Jaime Mariz assumiria a Secretaria de Estado do Planejamento e das Finanças (Seplan), no lugar de Obery Rodrigues. O atual titular da Seplan seria aproveitado em uma outra pasta.

Jaime Mariz foi procurado ontem pela TRIBUNA DO NORTE, mas não se encontrava em Brasília e também não estava com o telefone disponível para receber ligações.

Mas já se sabe que a Seplan não está nos planos do auxiliar de Garibaldi Filho. Ele teve uma participação reconhecida nas iniciativas e articulações para a aprovação do Fundo de Previdência do Servidor Público, que tem o objetivo, em longo prazo, de acabar com o déficit no pagamento das aposentadorias do funcionalismo.

O senador José Agripino Maia admitiu que, durante a reunião, foram abordados problemas pontuais e se procurou encontrar soluções para as dificuldades enfrentadas pelo Governo. "Abordamos alguns problemas, tratamos de soluções e avançamos", disse.

Ele acrescentou que outras questões foram discutidas, como o enfrentamento dos efeitos da seca no Rio Grande do Norte, que se configura como uma das mais graves dos últimos anos. Outro assunto tratado, afirmou José Agripino, foi a busca por recursos para investimentos em outras estruturantes, como a barragem de Oiticica. "Claro que também tratamos das secretarias de Saúde, Turismo e Justiça (que estão com interinos). Mas são conversas que esse Conselho terá sempre que houver necessidade. Enquanto tiver alguma coisa para discutir, vamos discutir", acrescentou o parlamentar.

Cargos estão com secretários interinos

O Governo do Estado contabiliza pelo menos cinco cargos importantes da administração que estão atualmente sem os respectivos titulares, alguns deles sem  perspectivas de ocupação rapidamente. Os motivos são variados. Ou por causa da saída recente do secretário - como é o caso de Domício Arruda, da Saúde, que deixou a gestão na última quarta-feira (2) - ou em virtude da dificuldade do próprio Governo de convencer alguém a assumir a pasta. Neste caso, o cenário mais emblemático é o da Secretaria de Justiça e da Cidadania (Sejuc), cujo último titular, o advogado Fábio Holanda, não permaneceu três meses. Ele saiu de cena no dia 17 de março, deixando para trás um clima animoso com o grupo comandado pela governadora Rosalba Ciarlini (DEM) e sob o argumento de que não dispunha de condições de realizar um bom trabalho.

A Sejuc acabou sendo ocupada emergencialmente pelo também secretário de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), Aldair da Rocha, e a partir daí o que se viu foi um verdadeiro engajamento por parte da administração estadual para encontrar um titular para a pasta que é responsável, entre outras coisas, pela administração do sistema penitenciário e também por coordenar a Defesa Civil no Estado. Mas não tem sido fácil. Por indicação do deputado João Maia (PR), a governadora Rosalba Ciarlini fez um convite oficial ao promotor de Defesa do Consumidor, José Augusto Péres, para comandar a Sejuc. O projeto esbarrou no Conselho Superior do Ministério Público, que considerou inadequada a saída do promotor neste momento de fragilidade do Governo.

Rosalba Ciarlini enfrenta problemas ainda na Secretaria de Turismo (Setur), que está ocupada pelo secretário em exercício, Luiz Eduardo Bulhões, desde 17 de março; o Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (Idiarn), cuja diretora geral em exercício, Vera Lúcia de Paiva, era a antiga adjunta. O Governo enfrenta problemas também na administração do Hospital Walfredo Gurgel. Há um mês, o maior hospital de urgência e emergência do Estado está sem diretor geral, desde que o médico Mozar Dias pediu exoneração do cargo.

Deputados comentam saída de Domício

A crise que abala o Governo do Estado também repercutiu ontem na Assembleia Legislativa. Os deputados lamentaram a exoneração de Domício Arruda da Secretaria de Saúde e observaram que a escassez de recursos e condições desfavoráveis de ação descarrilharam na queda do ex-auxiliar de Rosalba Ciarlini. Para o deputado Vivaldo Costa (PR) não houve crise política. "A Secretaria de Saúde não deu resposta e Domício não conseguiu resolver os problemas porque faltou dinheiro", declarou o seridoense.

Ele assinalou que os recursos enviados pelo Governo Federal para serem aplicados na saúde pública são insuficientes e que Domício Arruda foi uma vítima desse caos ramificado no país. "Os hospitais do Brasil inteiro sofrem desse mal. Sempre vemos reportagens mostrando pessoas sendo atendidas nos corredores. Falta médico em toda parte. Domício foi vítima disso tudo. Ele é um homem honrado e comprometido. Nunca se negou a atender um telefonema de ninguém. Se não fez um grande trabalho foi por falta de recursos. Esse modelo econômico centralizador, onde os recursos estão todos com o Governo Federal e quase nada para os Estados, precisa ser mudado", disse Vivaldo.

 A deputada Márcia Maia (PSB) também se pronunciou, assim como o parlamentar do PR, tecendo elogios ao ex-secretário. "Sei que Domício sempre teve boa intenção. Eu o convidei para uma audiência pública sobre a dengue e ele veio, ficou até o final. Sei que como médico e como ser humano sempre teve boa intenção. Infelizmente não teve apoio do próprio Estado. Não é só a falta de recursos federais, mas do estado também. Sabemos que o RN tem arrecadado cada vez mais. A grande vítima dessa crise na saúde é a população", declarou Márcia.

 Para o deputado Fernando Mineiro (PT), o problema da saúde não é de nomes nem da falta de repasse de recursos do governo federal. O problema é do modelo de gestão que foi implantado pelo governo estadual. "O modelo é terceirizado. Até a demissão de secretário é terceirizada, o que deixa bem claro esse modelo", afirmou.

A crise do Governo e especialmente na área da Saúde também encontrou eco na Câmara Federal. A deputada Fátima Bezerra (PT) lembrou que no período em que Domício Arruda permaneceu a frente da Sesap, pouco mais de um ano e cinco meses, o Governo do DEM enfrentou críticas por não resolver o "caos" nas unidades hospitalares do Rio Grande do Norte.


Tribuna do norte - Aldemar Freire e Maria da Guia Dantas - Editoria de Política

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