
Gurgel cumprimenta Demóstenes após aprovação de sua recondução ao cargo
 
O PT realiza nesta segunda-feira (14) uma reunião para definir a 
estratégia que vai adotar na CPI do Cachoeira após a inquirição dos 
delegados da Polícia Federal que conduziram as operações Vegas e Monte 
Carlo. Participarão os representantes do partido na comissão e seus 
líderes no Congresso.
Uma das deliberações que o PT tomará nesse encontro diz respeito ao 
procurador-geral da República Roberto Gurgel. Pretende-se reiterar a 
cobrança para que o chefe do Ministério Público Federal explique o fato 
de ter paralisado o inquérito da Operação Vegas, que lhe chegou às mãos 
em 15 de setembro de 2009. Porém…
O PT já não faz questão de aprovar o requerimento de convocação para 
que Gurgel se explique na CPI. Líder do partido no Senado, Walter 
Pinheiro (BA) disse ao blog: “Nós tínhamos definido que a primeira fase,
 até o dia 17 de maio, seria de coleta de informações. Agora é a hora de
 cruzar os dados.”
Pinheiro
 prosseguiu: “De posse das informações, temos condições de responder às 
perguntas. Os dados foram coletados? Chegaram à Procuradoria? Quem 
recebeu deu prosseguimento à investigação? Se os elementos forem tão 
fortes que evidenciem um caso de negligência, nem precisamos ouvir o 
procurador-geral.”
Nessa hipótese, disse Pinheiro, “não cabe à CPI fazer um julgamento 
político” de Gurgel. A comissão tampouco está credenciada para “fazer um
 julgamento jurídico”. A providência a ser adotada, na opinião do líder 
petista, é submeter o caso à apreciação do Conselho Nacional do 
Ministério Público.”
Ex-líder do PT e um dos representantes do partido na CPI, o senador 
Humberto Costa (PE) resumiu numa frase o mote que deve ser encampado 
pela legenda: “Não vamos transformar a CPI na CPI do procurador-geral. É
 a CPI do Cachoeira.”
Relator da comissão de inquérito, o deputado Odair Cunha (PT-MG) 
passou a defender como alternativa à convocação de Gurgel a requisição 
de explicações por escrito. Um pedido que, se vier a ser formalizado, o 
procurador-geral não cogita atender.
Em privado, Gurgel diz que, no limite, não hesitará em recorrer ao 
STF para resguardar sua autoridade, abstendo-se de prestar 
esclarecimentos à CPI. Sustenta que não deve fazê-lo sob pena de ficar 
impedido de atuar como acusador nos processos que correm no Supremo 
contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e os deputados Carlos Leréia 
(PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Necerssian (PPS-RJ).
O
 deputado Cândido Vaccarezza, outra voz do PT na CPI, antecipou ao blog a
 posição que vai levar à reunião de segunda-feira: “Entendo que a CPI 
tem poderes para convocar qualquer pessoa. Está previsto na Constituição
 e no regimento. Insisto em que o procurador-geral deve explicações. Mas
 nunca defendi a convocação dele na CPI. Quando o [Fernando] Collor 
apresentou o requerimento eu me posicionei contra. Minha tendência é a 
de defender a convocação da mulher do procurador.”
Chama-se Cláudia Sampaio Marques a mulher de Gurgel. É 
subprocuradora-geral da República. Coube a ela informar à Polícia 
Federal que a Procuradoria não enxergara nas páginas do inquérito da 
Operação Vegas indícios suficientes para requerer ao STF providências 
contra os detentores de privilégio de foro acusados de envolvimento com a
 quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Entre eles Demóstenes.
A comunicação de Cláudia foi feita, em outubro de 2009, ao delegado 
da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza, que presidia a 
investigação. Ouvido pela CPI, ele disse que a mulher de Gurgel ficara 
de formalizar a posição da Procuradoria nos autos. Algo que jamais 
ocorreu. O inquérito foi paralisado, disse o delegado aos congressistas.
 A idéia de convocar Cláudia não é consensual no PT.
E quanto aos governadores? Consolida-se na bancada do PT a tendência 
de protelar a votação dos requerimentos de convocação do tucano Marconi 
Perillo (GO), do petê Agnelo Queiroz (DF) e do pemedebê Sérgio Cabral 
(RJ).
“Agora
 não é hora de convocar governadores”, diz Vaccarezza. “Nesse momento, 
temos de convocar os bandidos que estão presos e que têm peso na 
quadrilha. O Cachoeira já está convocado. Faltam os outros. Por exemplo:
 o Cláudio Abreu [ex-diretor da Delta Construções na região 
Centro-Oeste]”.
Walter Pinheiro chega mesmo a considerar a hipótese de a CPI 
simplesmente não chamar os governadores. “Não podemos cair numa 
pirotecnica convocatória. Essa é uma CPI atípica. Nas outras, o 
Congresso foi atrás das informações. Nessa, recebemos investigações 
prontas ou em estágio avançado.”
E daí? “Temos que cruzar as informações”, disse Pinheiro. “Se no dia 
17 concluirmos que temos material suficiente para mandar para a Justiça 
ou para o Ministério Público, talvez não seja preciso nem ouvir ninguém.
 Nosso problema é decidir sobre o decoro de parlamentares. Governadores 
devem ser processados no STJ. O que nos cabe fazer é dar 
encaminhamento.”
Nesse ponto, a posição de Pinheiro não orna com a dos demais. A 
maioria pende para o adiamento da convocação dos governadores por razões
 táticas. Avalia-se que, antes, convém esmiuçar os dados disponíveis na 
CPI e aguardar por informações que a Polícia Federal ainda não digeriu. 
“Não podemos e não devemos passar a idéia de que a CPI já acabou”, 
pondera Vaccarezza. “A investigaçãoo está apenas começando.”
O
 delegado federal Matheus Mella Rodrigues (à esquerda), que também depôs
 na CPI nesta semana, informou aos parlamentares que a Polícia Federal 
recolheu nas batidas de busca e apreensão da Operação Monte Carlo 
material suficiente para encher 82 malotes. Desses, cerca de 30 foram 
abertos.
Portanto, mais da metade do papelório e dos computadores recolhidos 
pela PF nas casas de Cachoeira e de oito dezenas de comparsas ainda não 
foram manuseados. “Temos de assegurar que esses dados sejam enviados 
para a CPI à medida que for sendo processados”, disse Vaccarezza.
Guiando-se pelo que foi dito pelo delegado Matheus Mella, o petismo 
trabalha com a perspectiva de que os vínculos de Marconi Perillo com a 
turma de Cachoeira, já insinuados, serão adensados quando vierem à luz 
todos os detalhes da investigação. Imagina-se que ocorrerá o oposto com 
Agnello Queiroz e Sérgio Cabral.
Nessa linha, o partido defenderia mais adiante apenas a convocação do
 tucano. Farejando o cheiro de queimado, o líder do PSDB Alvaro Dias 
(PR) afirma: “Os requerimentos dos governadores têm que ser votados em 
bloco.” Confirmando-se o adiamento das convocações, outros governadores 
podem ser levados à grelha.
Os grampos da PF revelam, por exemplo, que Cachoeira aparelhava-se 
para levar seus negócios ilícitos ao Paraná, Estado governado por Beto 
Richa (PSDB). Agia também no Mato Grosso, gerido por Silval Barbosa 
(PMDB). A profusão de nomes potencializa as chances de um acordo 
político que transfira a análise sobre as culpas para os Legislativos 
estaduais, o Ministério Público e o STJ, foro em que são julgados os 
governadores.
No mais, o petismo deve abandonar, ao menos temporariamente, seus 
planos de arrastar a revista ‘Veja’ para dentro da CPI. Não por falta de
 vontade, mas por ausência de matéria prima. Tentou-se arrancar dos dois
 delegados federais informações capazes de comprometer a revista e seu 
diretor em Brasília, o repórter Policarpo Júnior.
Raul,
 o delegado que presidiu a Vegas (à direita), disse que não dispunha de 
dados que desabonassem a ‘Veja’. Inquirido, Matheus, o condutor da Monte
 Carlo, declarou que a revista não foi alvo da investigação. Mais: até 
onde sua vista pôde alcançar, o repórter da revista estava atrás de 
informação. “O delegado não disse nada que pudesse comprometer o 
Policarpo”, viu-se compelido a reconhecer Vaccarezza.
Simultaneamente ao reposicionando-se em relação à convocação de 
Gurgel e à gana sobre ‘Veja’, o PT esforça-se para desvincular a CPI do 
julgamento do processo do mensalão. Um vínculo que o próprio Rui Falcão,
 presidente da legenda, cuidara de estabelecer num vídeo tóxico que veiculara há um mês.
Na peça, Falcão insinuara que o PT urilizaria a investigação 
legislativa como corneta antimensalão: “A bancada do PT na Câmara e no 
Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa 
do mensalão.” Com suas palavras, o mandachuva do petismo ofereceu a 
escada que Gurgel escalou para rebater as críticas que lhe foram 
dirigidas agora. O procurador-geral disse que seus críticos desejam, em 
verdade, proteger os réus mensaleiros.
Walter Pinheiro, que torcera o nariz para o vídeo de Falcão, rebate 
Gurgel: “Não fomos nós que decidimos que esse escândalo seria divulgado 
agora, perto do julgamento do mensalão. Se pudesse escolher, eu teria 
escolhido julho de 2010, antes da eleição. Não teria o segundo turno na 
disputa presidencial [entre José Serra e Dilma Rousseff]. Não teria 
Demóstenes. Não estaríamos discutindo a convocação do Perillo. Talvez 
não tivesse nem o Agnello. Quem sabe nem mesmo o Cabral.”
Vaccarezza ecoa Pinheiro: “Não fizemos nenhuma trama para que esses 
fatos aparecessem agora como contraponto do mensalão. Preferíamos que o 
escândalo tivesse sido denunciado pelo procurador em 2010. O debate da 
campanha presidencial não teria sido desviado para o aborto. Na verdade,
 a coincidência do escândalo com o mensalão só atrapalha, porque 
radicaliza o cenário, joga a mídia contra nós e prejudica as 
investigações.”
 
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