RETRATO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Rio Grande do Sul ocupa o último lugar no ranking nacional de investimentos em educação
Relatório aponta que a proporção das receitas do Estado destinadas à área está abaixo do determinado em lei
O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro que menos investe em educação
no país em comparação ao que arrecada, conforme indica um levantamento
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Os gaúchos aplicaram, na média de 2005 a 2010, o menor índice de
receitas próprias no sistema de ensino. Enquanto o governo federal
determina a aplicação de pelo menos 25% desses recursos para educar a
população, descontados gastos com inativos, os rio-grandenses investiram
um percentual médio de 18,79% no período.
O relatório comparativo, elaborado pelo Sistema de Informações Sobre
Orçamentos Públicos em Educação (Siope) do FNDE, mostra que a proporção
das receitas do Rio Grande do Sul destinadas à educação foi a menor do
Brasil em 2007, 2008, 2009 e 2010 – ano em que apenas o Estado e o Rio
Grande do Norte ficaram abaixo do patamar de 25%. Em 2005 e 2006, os
gaúchos ficaram na penúltima posição, à frente apenas do Distrito
Federal, que, posteriormente, quase dobrou o seu índice.
Em página especial, veja o detalhamento dos investimentos:
Para especialistas e trabalhadores da educação, o baixo índice das
receitas gaúchas direcionado para melhorar a aprendizagem tem reflexo
negativo na qualidade das escolas do Rio Grande do Sul.
– Nós temos diagnosticado vários problemas na educação, como altos
índices de repetência e evasão, o baixo rendimento dos alunos no Ensino
Fundamental, violência nas escolas, e, mesmo assim, não conseguimos
encaminhar soluções consistentes. A educação tem sido relegada ao
segundo plano no Estado – interpreta Helena Sporleder Côrtes, professora
da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS).
Aposentadorias entram na conta
Pesquisador e professor da Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Juca Gil acredita que, se os
gastos com os inativos e pensionistas fossem transferidos para educação,
seria possível investir em reformas das escolas, aquisição de
equipamentos, contratação de novos professores.
– A gestão dos recursos também é importante, mas, neste momento, é
secundária. No Estado, para se ter ideia, pais que querem escolas
privadas de qualidade para os seus filhos no Ensino Médio gastam quatro
vezes mais que o governo investe por aluno nas escolas públicas –
complementa o pesquisador.
A diretora do Cpers Neiva Lazzarotto acredita que a escassez de
recursos explica por que o Rio Grande do Sul estaria perdendo posições
para outros Estados, recentemente, na comparação da qualidade de ensino.
– Nos últimos anos nós lideramos a reprovação no Ensino Médio, temos o
pior piso salarial do país. Estamos ficando para trás nos rankings da
educação. Isso tem relação direta com o baixo investimento – afirma.
O secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, reconhece
que o Estado não consegue investir o que seria ideal, mas sustenta que o
percentual acanhado de verbas em comparação ao praticado pelos demais
Estados não é sinônimo de decadência da qualidade de ensino.
– É preciso que os investimentos sejam dirigidos para a melhoria da
qualidade pedagógica, da capacidade de ensinar dos professores. Também
temos tido aportes importantes do governo federal em áreas físicas, como
bibliotecas, que não são do nosso orçamento – observa Jose Clovis.
A avaliação sobre se o Rio Grande do Sul cumpre ou não a Constituição
– que determina a aplicação de 25% das receitas em educação – não é
unânime. Ocorre que o Siope, sistema ligado ao Ministério da Educação,
entende que nesse percentual não devem ser computados os gastos com
servidores inativos. Porém, alguns tribunais de contas, como o
rio-grandense, tendem a aceitar a inclusão dos valores aplicados em
aposentadorias e pensões na rubrica “manutenção e desenvolvimento da
educação”.
Dessa forma, embora as contas estaduais sejam legalmente aprovadas,
não atendem aos patamares de investimento mínimos estabelecidos pelo
governo federal.
Zero hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário