Na quinta-feira (2), o Supremo Tribunal Federal (STF) vai iniciar o julgamento da Ação Penal 470,
o mensalão. Esperado há cinco anos, o caso é considerado um dos maiores
e mais importantes julgamentos da história do Supremo e o maior
escândalo de corrupção do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (2003-2010). Calcula-se que a ação vai ocupar o tempo integral dos
11 ministros que compõem a Corte, uma vez que eles vão julgar 38
acusados, em 2005, de integrar um esquema ilegal de financiamento
político que teria sido organizado para comprar apoio parlamentar no
Congresso Nacional.
De acordo com informações do portal de notícias UOL, “é a primeira
vez que um único julgamento no STF reúne tantos réus e testemunhas,
causa tanta controvérsia e alimenta tantas pressões sobre os integrantes
do tribunal”. O processo gerou 50 mil páginas desde que a denúncia foi
apresentada, em 2006, e mais de 600 testemunhas foram ouvidas. É a
primeira vez também que o tribunal organiza um esquema com envolvimento
da Polícia Federal para garantir a segurança das pessoas e a do próprio
tribunal e elabora um calendário especial para julgamento que, embora
não haja prazo para terminar, deverá levar mais de um mês para ser
concluído.
O STF analisará se os réus cometeram sete crimes: formação de
quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, evasão de divisas,
lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Se houver condenações e os
réus receberem as penas mais brandas previstas pela lei, muitos poderão
ficar livres de punição por causa da prescrição de alguns crimes. Se o
tribunal optar por penas mais rigorosas, isso não ocorrerá.
Uma das novidades é que ninguém sairá preso do tribunal se for
condenado porque apenas os advogados dos réus deverão participar das
sessões. Depois da decisão, ainda será preciso aguardar a publicação da
sentença e o exame de eventuais recursos dos réus. Segundo informações
da Folha de S. Paulo, primeiro jornal que denunciou o esquema em 2006,
“o julgamento afetou as relações entre os ministros do Supremo, que
começaram a se atacar nos corredores e até publicamente, em declarações à
imprensa, assim que o processo chegou ao tribunal”.
Em 2007, numa das sessões em que a Corte discutiu se aceitava a
denúncia do Ministério Público Federal que deu origem ao processo, os
ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski foram fotografados em uma
troca de mensagens eletrônicas visualizada pelo sistema interno do
tribunal em que discutiam seus votos e criticavam os colegas. Segundo a
Folha de S. Paulo, “pouco depois de a Corte acatar a denúncia e de dar
início à ação penal, Lewandowski foi flagrado pela Folha desabafando com
um amigo num restaurante”. E informa que, segundo Lewandowski, “o
Supremo havia analisado o caso com ‘a faca no pescoço’”.
"É
'legítimo' e 'normal' que o ex-presidente Lula manifeste sua opinião
sobre a data que considera mais conveniente para o julgamento do
mensalão", disse Mello
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, inicia o mês
de agosto deste ano com uma clara obsessão: provar que o mensalão foi
“uma farsa” montada para tirá-lo do poder. “Até agora, não conseguiu.
Mesmo depois de eleger a desconhecida Dilma Rousseff como sucessora,
Lula trava uma guerra para defender seu legado. Sem nunca dizer quem o
traiu, ele comprou brigas e perdeu batalhas. Nos últimos meses, seus
movimentos foram criticados nos bastidores até por réus do PT no
processo, que temem uma resposta dura do STF às pressões políticas”,
analisa o Estadão.
Em entrevista à TV Folha na quarta-feira (30), o ministro do STF,
Marco Aurélio de Mello, disse que é “legítimo” e “normal” que o
ex-presidente Lula manifeste sua opinião sobre a data que considera mais
conveniente para o julgamento do mensalão. “Primeiro porque é um leigo.
Leigo na área do direito. Na área da política, não. Segundo, porque ele
integra o partido, o PT”, disse o magistrado. De acordo com o UOL, dos
38 réus do mensalão, dez são acusados de corrupção ativa, 12 de
corrupção passiva.
Contudo, independentemente da opinião da grande imprensa e dos
setores políticos envolvidos no mensalão, a Procuradoria-Geral da
República tem a própria avaliação do caso e entende que “o PT organizou
um esquema clandestino de financiamento político para comprar apoio
parlamentar no Congresso Nacional nos anos de 2003 e 2004”, informa a
Folha em matéria publicada no UOL.
E complementa: “os parlamentares beneficiados pelo esquema asseguram
que o dinheiro era destinado a pagar dívidas de campanhas eleitorais e
não um suborno para que votassem a favor do governo”. É exatamente com
esse argumento que a defesa dos acusados vai pôr sua estratégia em curso
para provar que o crime foi meramente eleitoral, assim, a punição seria
mais amena para os réus e o escândalo que envolve integrantes do
partido político que mais criticou outros políticos por causa da
corrupção.
Fonte: Folha e Agência Estado
Com edição para Lei dos Homens de Carla Lisboa
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