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No cenário da Nova Ordem Mundial,
as questões se tornam cada vez mais mundiais e cada vez menos estritamente
locais. Destaca-se, entre essas questões de interesse global, o meio-ambiente e
a consciência de que a destruição ambiental não traz conseqüências, apenas, a
um determinado ecossistema de um país ou de um continente, mas para todos os
que moram no que se convencionou denominar de "Aldeia Global".
Esse cenário foi construído a
partir de modificações filosóficas, genericamente denominadas de
"Globalização" (entrelaçamento das economias, maior interdependência
e intercâmbio entre as nações) ou "Modernização", as quais produziram
novos paradigmas em, praticamente, todos os aspectos da vida moderna. Entre
esses paradigmas, criou-se uma nova visão e tratamento ao "Cliente"
externo e interno de uma instituição, redirigindo todos os esforços da
organização para a busca de sua total satisfação (Deming, 1987 , Tofler 1992).
Além do tradicional consumidor, esses paradigmas consideram como cliente
externo, o meio-ambiente, ao qual deve ser dispensado o mesmo tratamento dado
aos demais clientes.
Por outro lado, e devido ao
progressivo crescimento populacional, tornou-se necessário o aumento da
produção de alimentos, minérios e demais bens de consumo essenciais à
manutenção da espécie humana. É evidente que, o atendimento desta demanda, gera
obrigatoriamente, impactos ambientais negativos, quer pelo desmatamento de
florestas nativas para o plantio, quer pela emissão de resíduos das fábricas,
ou ainda, pela movimentação da terra para a extração de minérios entre outros.
A maior circulação de mercadorias
- como matéria-prima, máquinas, bens industrializados, semi-industrializados,
etc. - leva também à circulação e, até mesmo, à imposição de idéias.
Assim sendo, a consciência
ecológica que chegou primeiro aos países desenvolvidos, alcançou, também,
principalmente por imposição, os países subdesenvolvidos.
Nesses países em processo de
desenvolvimento econômico que ainda se utilizam da Vantagem Competitiva de seus
recursos naturais (Adam Smith, 1723 in Toffler 1980), há necessidade de
explorá-los, uma vez que esses recursos representam uma das poucas alternativas
de obtenção de recursos financeiros e fonte de renda para a população,
comumente pobre (o Brasil, mais particularmente o Nordeste brasileiro e
especialmente o Estado do Rio Grande do Norte, está inserido nesse contexto
mencionado). Tais países, tradicionalmente, exportadores de matéria-prima para as
chamadas nações desenvolvidas (aquelas que já esgotaram seus recursos naturais,
e que produziram uma consciência de preservação ambiental através de uma
legislação impeditiva de maior degradação da natureza) necessitam de mudanças
nos programas de política ambiental.
Entretanto, os países
desenvolvidos conseguiram avanços acerca das políticas ambientais, através de
reivindicações populacionais, desde a década de 60. Os Estados Unidos da
América foram pioneiro desse movimento, criando a National Environmental Policy
Act (NEPA) em 1969, que tornou obrigatório a elaboração de Relatórios de EIA
(Estudo de Impactos Ambientais). A partir de então, os projetos, programas,
atividades e propostas de legislações do Governo Federal só poderiam ser
executados a partir da aprovação do EIA/RIMA (Estudo de Impactos Ambientais e
Relatório de Impacto Ambiental) que seriam elaborados por uma equipe
interdisciplinar.
Nesses relatórios, elaboram-se
diagnósticos do meio-ambiente, envolvendo os meios físicos, biológicos e antrópicos
e se definem os impactos, positivos e negativos, considerando os casos de
instalação e não-instalação do empreendimento. Os Relatórios de EIA/RIMA devem,
ainda, considerar as medidas de controle, mitigação e recuperação ambiental,
caso o empreendimento em consideração venha a ser instalado.
Ainda na Conferência das Nações
Unidas para o Meio-Ambiente, em Estocolmo no ano de 1972, a questão ambiental,
realmente, torna-se problema planetário. Os países desenvolvidos apresentam as
implicações da questão ambiental para a questão econômica-social e propõem,
também, maior participação do cidadão, demonstrando a necessidade da
implementação da educação ambiental para uma maior consciência ecológica.
Porém, só na década de 80 é que se discute mais sobre o assunto e a EIA
torna-se implementada a nível mundial.
Já o final da década de 80 traz
consigo grandes mudanças sócio-político e econômicas, tais como: a queda do
Muro de Berlim, mudanças e fim da URSS, fim da guerra fria e da bipolarização
mundial (Bloco dos países comunistas x Bloco dos países capitalistas), entre
outras. Dessa forma, o mundo tornou-se Multipolar e as preocupações mundiais
tornam-se globalizadas e voltadas, também, para o meio-ambiente e a questão
ambiental toma um novo rumo e um grande avanço.
Na década seguinte (90),
realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio-Ambiente e
Desenvolvimento (20 anos depois da Conferência de Estocolmo). A citada
conferência, a ECO 92, foi realizada no Rio de Janeiro de 3 a 4 de junho, onde
se reuniram pessoas de várias nações, níveis sociais e intelectuais, como
chefes de Estado, cientistas, ambientalistas, ONGs, jovens, adultos, crianças,
índios, etc. Segundo afirma Magnolli & Scalzaretto (1994: p. 133): A
Conferência do Rio de Janeiro discutiu uma vasta temática, ligada aos climas
globais, às florestas e a biodiversidade. Entretanto, poucos acordos práticos
foram alcançados, em virtude dos múltiplos interesses divergentes entre as
dezenas de países participantes."
A referida conferência conseguiu
chamar a atenção do mundo para os desmandos contra o meio ambiente, pois
objetivava os estudos referentes aos problemas ambientais e humanos do planeta
além de encontrar soluções e tomar decisões.
Contudo, depois de várias
discussões, alguns pontos foram "amarrados" como a elaboração da
agenda 21 segundo a qual afirma Poloni (1996:p.2):
"...estabeleceu as metas e as estratégias para o equacionamento
dos grandes problemas ecológicos e para o desenvolvimento harmonioso das
sociedades no próximo século. (...) Esses são os grandes desafios da humanidade
na busca de uma ordem ambiental planetária que supere as divergências entre
países e blocos de nações."
Mais tarde, outro evento veio
acrescentar ao que tinha sido decidido na ECO-92. Esse evento, conhecido como
"Rio + 5", realizado no Rio de Janeiro em 1997, teve como objetivo
pôr em prática projetos, anteriormente, estabelecidos na conferência de 1992.
Porém, os países subdesenvolvidos,
marcados pela sua herança histórico-colonial, trouxeram uma carga de
dependência político-econômica, traduzida no comércio e na Divisão
Internacional do Trabalho (DIT), que refletiu nas relações econômicas dos dias
atuais.
Assim, para ingressarem na
economia global, os países subdesenvolvidos tinham que submeter-se às
exigências do mercado externo, onde, muitas vezes, exportavam parte de sua
produção de matérias-primas. Essa exploração causa a degradação ambiental,
tornando-se mais acentuadas nos dias atuais.
Atualmente, além da dependência em
relação ao comércio internacional, outra forma de dependência - que está
intimamente ligada a anterior - são os vultuosos empréstimos internacionais,
que se transformam em gigantescas dívidas externas dos Países Subdesenvolvidos.
Esses Empréstimos Internacionais
ocorreram concomitante à crise do Petróleo na década de 70, culminando em
elevadas dívidas com o aumento das taxas de juros. Assim, muitos países,
inclusive o Brasil, viram-se "presos" às dívidas e aos juros, que,
muitas vezes, buscavam novos empréstimos na tentativa de amortecer parte da
dívida. Conseqüentemente, na década de 80, os credores, como o Banco Mundial e
o FMI, começaram a pressionar os países devedores no intuito de que estes
redefinissem suas políticas nas áreas econômicas e sociais, recaindo o ônus, principalmente,
na área social - inclusive no meio ambiente - na tentativa de pagar a dívida ou
parte dela. Porém, esta prática, além de gerar um caos econômico, aumentou
ainda mais as desigualdades sociais - as quais poderiam ser uma ameaça à
estabilidade financeira internacional - e que, muitas vezes, provocavam ainda
mais a degradação ambiental.
Surgiu, assim, um conceito a
partir do que propunha Thomas Lovejoy, de que fala o Manual Global de Ecologia
(l993:p.47):
"Um plano inovador para aliviar a dívida e as pressões ambientais
nas nações em desenvolvimento é 'Trocar Dívida por Natureza', usado com sucesso
na Bolívia, Equador, Costa Rica e nas Filipinas".
Essa proposta implicava em trocar
a dívida externa dos países do Terceiro Mundo por natureza, ou seja, áreas de
floresta, com suas espécies vegetais e animais, passariam ao controle de
organizações como o "Conservação Internacional ( CI ) "e o
"Fundo Mundial para a Vida Selvagem" .
Com isso, muitos países se viram
"obrigados" a promover ações mais eficazes de proteção à natureza,
surgindo, então, leis que tornavam obrigatórios os relatórios de EIA/RIMA para
ações de particulares e de Governo. Explica-se, dessa forma, porque muitos
países, como o Brasil, começaram a "se preocupar" mais com a questão
ambiental.
Outro grande passo para a proteção
ambiental, na década de 90, foi a criação da ISO l4000 , que é uma norma de
gerenciamento do meio ambiente. Como afirma D'Avignon (1995: p. 14):
"Uma norma ambiental é a tentativa de homogeneizar conceitos, ordenar
atividades e criar padrões e procedimentos que sejam reconhecidos por aqueles
que estejam envolvidos com alguma atividade produtiva que gere impactos
ambientais. Servem para garantir que os serviços ou processos produtivos de uma
organização sejam compatíveis com o meio-ambiente, ou seja, sustentáveis."
O termo sustentável,
auto-sustentável ou desenvolvimento sustentável, foi incorporado à questão
ambiental e ao desenvolvimento sócio-econômico, como pré-requisito
indispensável aos países que se propunham ingressar na nova ordem mundial.
Dessa forma, o crescimento industrial atrelado às questões ambientais num mundo
globalizado e a necessidade desse desenvolvimento ser auto-sustentável tende a
tornar-se, progressivamente, num paradigma. Sobre este tema D'Avignon (op cit)
ressalta que:
"... foram surgindo no mundo
movimentos e conceitos que hoje são utilizados freqüentemente. A expressão
desenvolvimento sustentável, por exemplo foi popularizada pela Comissão Mundial
do Meio-Ambiente e Desenvolvimento, nomeada pela primeira ministra norueguesa,
Gro-Harlem Brunditand, no início da década passada."
De acordo com a citação do autor,
entende-se que o desenvolvimento sustentável tornou-se popular a partir desta
comissão mundial do meio ambiente e desenvolvimento, onde a definição citada
por D'Avignon (op cit), é:
"O processo de desenvolvimento onde os recursos naturais são
usados de forma racional para manter as condições de vida adequadas para as
gerações atuais e futuras."
Nesse caso, os países e as empresas
precisam mostrar que estão "ecologicamente corretos", utilizando as
chamadas "tecnologias limpas", modificando os processos e/ou os
produtos, a fim de se adaptarem às mudanças atuais, para se manterem
competitivos no mercado internacional.
Para a confirmação das chamadas
tecnologias limpas, a ISO 14000 fornece certificados dos sistemas de
gerenciamento ambiental que abrange seis áreas: sistemas de gerenciamento,
auditorias, avaliação do desempenho, rotulagem e análise do ciclo de vida e
aspectos ambientais relacionados a produtos.
Porém, toda problemática da
questão ambiental, questionada nos países subdesenvolvidos, tiveram precedentes
a partir da política econômica estabelecida pelos países desenvolvidos, os
quais implementam a tecnologia aplicada nas sedes de suas empresas (implantados
no mundo desenvolvido), ao passo que as filiais espalhadas pelo mundo
subdesenvolvido são desprovidos de tecnologias adequadas para uma maior
proteção ao meio ambiente.
Diante desse aspecto, a questão
ambiental ultrapassa a barreira "ecológica", para se engendrar na
política e na economia; transpondo a barreira local para a global. Como afirma
Paixão ( l981:p.215 ): "a questão ambiental não pode ser analisada como
algo à parte, desvinculada da realidade social que a encerra". Portanto,
não se pode conceber a dicotomia natureza e sociedade; não há como se fazer uma
análise ambiental fragmentada do aspecto social (relações sociais, forças
produtivas, etc. ) bem como deixar de lado os parâmetros espaço-temporal.
Mediante a problemática exposta na
Conferência de Estocolmo em l968, percebeu-se a necessidade de implementar-se a
educação ambiental como parte básica e essencial de uma estratégia para
solucionar os problemas relacionados ao meio ambiente.
É nesse contexto que a Ciência
Geográfica pode contribuir e ser de grande valia na formação de indivíduos,
como cidadãos, que possam interferir na transformação da sociedade, de tal
forma que haja um ambiente equilibrado. E, como afirma Fadini ( l996:p.320),
isso pode ocorrer "através de um maior envolvimento social e político nas
questões ambientais ".
Muitas vezes, pensa-se que
questões sociais, como a concentração de renda por exemplo, são de maior
urgência que a ambiental, porém o que não se percebe é que a concentração de
renda significa apropriação do espaço e por conseguinte da natureza.
Assim sendo, ao se fazer um
EIA/RIMA para uma indústria, deve-se ter uma visão da repercussão a nível
sócio-econômico-ambiental bem como das implicações no desenvolvimento regional,
evitando, assim, que o país entre na contra-mão da História e, por conseguinte,
fique à margem da economia global.
Por tanto, no encadeamento da Nova
Ordem Mundial, em que as ciências procuram redefinir os seus rumos, a Geografia
pode introduzir reflexões sobre a educação ambiental, contribuindo para uma
possível solução, em que os países caminhem para um desenvolvimento
sustentável, para uma gestão que atenda aos diversos interesses de forma a
preservar o meio sócio-ambiental.
Fonte
ARAÚJO, Maria Cristina Cavalcante; CAVALCANTE
NETO, Mário Tavares de O. A geografia e o
meio ambiente na nova ordem mundial. Disponível em:
<http://members.tripod.com/~aacastro/maria.htm>.
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