Dia desses passou na TV o filme 2012,
uma bobajada dirigida por Roland Emmerich. Todo filme-catástrofe é
igual, né? Sempre há alguns doidos sem credibilidade que percebem o
risco primeiro (é o mito da Cassandra: ela está certa, mas ninguém
acredita em suas previsões), os crédulos de bom coração, que têm a
certeza de que nada vai acontecer (é a massa ignara, que nunca se dá
conta da verdade verdadeira) e os que sabem de tudo. Se o filme é
americano, este terceiro grupo se divide, invariavelmente, em duas
caricaturas: a dos democratas (no filme 2012, o homem de estado
generoso é negro, entenderam?) e a dos republicanos, que são
pragmáticos, cínicos e egoístas, como nos comentários de Arnaldo Jabor…
Eita! Comecei a falar sobre o filme, e o ponto deste texto nem é esse.
Quando sentei aqui para escrever, pensava em outra coisa.
Em 2012,
os governos sabiam do fim do mundo. Por isso financiaram secretamente a
construção de arcas de Noé para dar início a uma nova civilização tão
logo o planeta se estabilizasse. Até a rainha da Inglaterra está lá
dentro — uma nova ordem não pode prescindir da monarquia. Estava aqui a
pensar… Se o mundo fosse acabar, quem a gente enviaria para a arca? Quem
iria carregar as tradições do nosso povo, sua elevada moral, seu jeito
único de fazer as coisas, as tradições, o caráter altivo, o coração
generoso, a bondade, o espírito destemido, o faro empreendedor, o
heroísmo dedicado, a coragem? Eu tenho uma resposta: OS RÉUS DO
MENSALÃO!
Isto
mesmo: se o mundo for acabar, eu e Lewandowski (vamos ver mais quantos)
estamos convencidos de que nunca antes na história da humanidade houve
tal conspiração de probos. José Dirceu tem de estar nessa arca. José
Luís de Oliveira Lima, no STF, afirmou que “pedir a condenação de José
Dirceu é a mais atrevida e escandalosa afronta à Constituição”. Entendi
que o deputado cassado por corrupção é uma espécie, sei lá, de protótipo
do “sujeito constitucional”. E um homem assim, com essa experiência,
tem contribuição a dar à nova civilização.
Também
há de estar lá José Genoino — mesmo que fosse José Jesuíno, como o
chamou às vezes seu advogado, Luiz Fernando Pacheco. Aprendi com ele que
o petista, por sua honradez e caráter, é “um verdadeiro homem de
esquerda” — e é claro que uma nova aurora, com os continentes
redesenhados, não pode prescindir de um verdadeiro homem de esquerda e
do impressionante senso de justiça dos esquerdistas.
Marcos
Valério tem lugar garantido. Quem, afinal, vai cuidar, sei lá como
chamar, da licitude dos negócios no Novo Mundo? Foi Marcelo Leonardo,
seu advogado, quem garantiu sua passagem ao afirmar as qualidades
empreendedoras de Valério, lembrando ainda que suas empresas jamais se
envolveram em ilegalidade. Eu sei que a nova civilização fatalmente
acabará criando “mídia”, essa coisa perniciosa, que persegue os
honestos. Leonardo mandou ver: “Marcos Valério não é troféu ou
personagem para ser sacrificado em altar midiático”. É isto: um novo
amanhã precisa de alguém que carregue essa memória de resistência à
canalhice jornalística para que não se caia na tola tentação de criar,
de novo, uma imprensa livre. É verdade que o advogado admitiu que o
empresário lidou com dinheiro de caixa dois, coisa menor. Quem sabe os
homens do porvir percebam que dinheiro é sempre uma coisa… legal!
Que
arca pobre seria essa sem um outro inocente, Delúbio Soares! Destaco
este trecho da defesa de seu advogado, Arnaldo Malheiros: “O PT não
podia fazer transferência bancária porque o dinheiro era ilícito mesmo.
Delúbio não se furta a responder ao que é responsável. Ele operou caixa
dois? Operou. É ilícito? É. Ele não nega. Mas ele não corrompeu
ninguém”. Como um defensor fala pelo réu, Delúbio tem de estar no arca
dos bons porque é, antes de mais nada, um homem sincero. A nova
humanidade precisará de figuras que, diante da rigidez legal, conseguem
saídas criativas, que tornam a sociedade mais funcional e maleável. Mas
corromper? Isso nunca!
Os
amanhãs que cantam precisam de razão e sensibilidade. Precisam de arte.
Por isso José Carlos Dias garantiu a presença de Kátia Rabello, dona do
Banco Rural, na arca dos sem-mácula. Uma frase sua me marcou: “Ela é uma
mineira séria”. E eu não posso imaginar uma nova civilização sem a
experiência de mineiras sérias — já que dois mineiros sérios, até aqui,
têm assentos reservados: José Dirceu e Marcos Valério. Não podemos
deixar a arte de lado. O advogado lembrou que ela é “uma bailarina, uma
artista”. O novo homem, que nascerá dos escombros do velho, tem de
acolher, além do bom e do justo, também o belo.
Destaco
apenas alguns, mas espero que aqueles que não foram citados aqui não
fiquem chateados. Todos merecem estar na arca porque estou convencido de
que não são apenas inocentes… Isso é muito pouco. Seria só uma
qualidade que se evidencia pela negação. Eu quero afirmar a qualidade
positiva de todos eles: são verdadeiras referências morais; são
exemplares do que a civilização brasileira produziu de melhor. Tanto é
assim que a conspiração da maldade, da inveja e da maledicência os fez
réus. Mas, para estes maus, não haverá lugar na arca! Não pensem que
haverá jornalistas da imprensa independente dividindo lugar com girafas,
rinocerontes e serpentes. Na galeria dos animais, só entrarão
representantes do JEG. O poder que há de se instalar precisará de
áulicos para reportar “a” verdade. Como só haverá uma, terá fim o
conflito de opiniões, um dos males que corroem o sistema democrático —
que vai acabar, é claro! Chega de bagunça!
Espero
que os 11 ministros do Supremo tenham clareza da grande obra realizada
por esses heróis. Mais do que a absolvição, eles merecem ser tratados
como os fundadores de uma nova civilização. E, é claro, assentos serão
reservados para os ministros que forem justos com essas grandes almas.
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