Privatizar ou não privatizar, eis a questão!
Por Fernando Dias
Dentre os muitos temas que envolvem política e economia no Brasil, o das
privatizações é, com certeza, um dos mais dogmáticos. Ao longo dos anos
o debate se polarizou entre os que são totalmente contra e os que são
totalmente a favor, cada um com seu arsenal de argumentos e a certeza de
que o outro lado quer destruir o país. No meio do debate estão
atualmente muitos dos agentes que ajudaram a polarizá-lo, mais
especificamente as alas da esquerda brasileira que quando oposição, na
década de 1990, defenestraram qualquer argumento favorável, e hoje,
enquanto Governo, se vê diante da necessidade de fazê-lo sem largar o
discurso.
Tome-se, por exemplo, a última ação neste sentido, que é a intenção do
Governo Federal preparar a concessão de mais quatro mil quilômetros, em
sete rodovias. Esta não é primeira privatização de rodovia do atual
governo Dilma, e outras privatizações do tipo ocorreram também no
governo Lula. A principal diferença desta é que irá se rever o modelo
atual de menor preço de tarifa, retornando discretamente ao modelo
anterior que foi implantado à luz da experiência internacional. A
tentativa de reinventar a roda nas rodovias privatizadas não vem dando
certo, e não tem verba pública para tocar as obras de infraestrutura
necessárias.
Este é mais um episódio da intrincada relação entre os governos ditos de
esquerda e os setores que foram privatizados, regulados ou não. As
agências reguladoras vêm sendo um capítulo à parte, como foi o caso da
ANAC com os apagões e a subavaliação das concessões dos aeroportos
paulistas, bem como o caso da Anatel que de tão esvaziada acabou
capturada pelas operadoras e mais recentemente resolveu virar o jogo.
A combinação da falta de um modelo geral para regular os setores
privatizados quando necessário, bem como a falta de uma lógica geral
sobre as privatizações cobra seu preço na forma de elevada ineficiência
do sistema como um todo. O governo percebe cada vez mais claramente que
precisa do setor privado, que ele não é nada daquilo da campanha
eleitoral, mas a ideia não é comprada por suas bases. Tanto pior para
quem precisa de mais infraestrutura, como é o caso do Nordeste.
Ao que parece, o dilema do príncipe Hamlet tem uma versão para a presidente Dilma na forma “privatizar ou não privatizar, eis a questão”. Difícil antecipar a resposta.
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