Que ótimo localizar esta matéria da VEJA - página 66 - num site do governo. O texto tem muito a ver com o que discutimos neste blog. Leitura imperdível para todos, especialmente para quem faz parte do governo.
Nenhum outro sistema da história humana foi mais revolucionário e tirou mais gente da miséria do que o capitalismo, mas o bacana é posar de crítico engajado em alternativas que ninguém sabe quais, para que ou como implementá-las
Alguns entrevistados
ouvidos por VEJA para a reportagem de capa desta edição disseram que a
presidente Dilma Rousseff foi corajosa em recorrer à iniciativa privada
em busca de soluções técnicas e recursos para desatar nós que há décadas
impedem a economia brasileira de crescer com todo o seu potencial.
Corajosa por quê? Primeiro, porque ela e seu antecessor, mesmo governando com pragmatismo, foram eleitos com a
retórica antimercado, e, portanto, não cai politicamente bem recorrer à
iniciativa privada em busca de soluções para grandes problemas do país.
Segundo, porque o capitalismo nunca venceria uma competição
de popularidade em nenhum segmento mais expressivo da população
brasileira e mundial. Sua imagem é especialmente ruim agora que o
sistema de livre mercado vem sofrendo inevitáveis condenações por
seu papel decisivo na eclosão da crise financeira de 2008 em Wall Street
e pelo resultante desarranjo produtivo que desestabilizou as economias
reais de virtualmente todos os países.
Desde que foram
criadas as condições materiais, tecnológicas, culturais, políticas e
legais para sua instalação na Inglaterra, há menos de 200 anos, o
capitalismo é criticado. Como
a matéria e a antimatéria na teoria física, o surgimento do primeiro
capitalista gerou o primeiro anticapitalista. Tem sido assim.
Provavelmente, sempre será assim. Em todos os tempos da era industrial e
pós-industrial, o bacana mesmo foi ser uma pessoa engajada em uma
alternativa ao capitalismo. Antes foram o anarquismo e o marxismo e suas
representações reais catastróficas, os governos comunistas.
Agora é um certo ambientalismo extremista, que prega a volta da
humanidade aos tempos das cavernas, algo tão impraticável quanto
empurrar a pasta de dentes de volta para o tubo.
Não é de hoje que a
crítica justa e necessária aos excessos do capitalismo é apenas um
aperitivo para a negação total e utópica do sistema. Sob esse ponto de
vista, tem razão quem acha que a presidente Dilma precisou de coragem
para anunciar a adoção de práticas do livre mercado em seu governo, por meio de associação com empresas privadas dentro da regra do jogo de mercado.
Hoje em dia, governantes
de qualquer país têm quase de pedir desculpas quando, a exemplo de
Dilma, recorrem às virtudes da livre-iniciativa – eficiência, gestão,
controle de gastos e compromisso comresultados. Na Inglaterra, berço do capitalismo, também é assim.
O show de abertura da Olimpíada de Londres foi um exemplo recente.
O
ator Kenneth Branagh interpretou Isambard Kingdom Brunel, engenheiro do
século XIX, ícone do capitalismo clássico: construtor de pontes,
estradas de ferro, túneis e navios a vapor. Mostrado de fraque e charuto
na mão, como os capitalistas
de caricatura, Brunel teve suas realizações esquecidas no show olímpico
em favor de chaminés fumarentas e operários explorados. É preciso
ter coragem para celebrar o capitalismo, sistema econômico que está
longe de ser perfeito, mas, a exemplo da democracia na política, é
melhor do que todos os demais.
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