domingo, 3 de março de 2013

PIB AGROPECUÁRIO POTIGUAR DESPENCOU EM 2012


DO NOVO JORNAL
A seca severa de 2012, além dos problemas sociais causados pela falta de água, provocou queda de 50% no PIB agropecuário potiguar. O resultado disso é que o Produto Interno Bruto da pecuária no ano passado foi de R$ 1,2 bilhão e da agricultura R$ 1,75 bilhão.

Contabilizado o prejuízo econômico para o Estado, o secretário interino da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape), José Simplício de Holanda, disse que agora, o Governo vai trabalhar na recuperação das perdas. E conta com os prognósticos dos institutos de meteorologia que apontam inverno moderado para 2013. Mesmo com as previsões de chuvas irregulares, o importante é que a chuva venha, avalia o secretário.


Foto: Ney Douglas/NJ.
Ney Douglas/NJ
A falta de alimentação já provocou a morte de quase um terço do rebanho, gerando uma cadeia de consequências negativas que encolheram o setor agropecuário à metade
O PIB pecuário é de R$ 2,4 bilhões e a queda de 50% em 2012, em razão da estiagem, atingiu a cifra de R$ 1,2 bilhão causada não somente pela redução do rebanho bovino de 950 mil cabeças estimado em 30%. A perda geral relativa ao rebanho contabiliza variantes como redução do peso do gado, a morte animal e o leite. Considerando apenas o rebanho, a redução foi de R$ 1,07 bilhão. Um quarto disso, R$ 267,5 milhões, foi com venda e morte dos animais. Somente o leite teve queda de produção entre 30% e 35% no ano passado.

Na agricultura, em anos de boas chuvas, a produção de grãos de milho e feijão, além da castanha, contribui com R$ 3,5 bilhões no PIB que chega à margem de queda de 50%. Por produtos, as somas das perdas são mais estarrecedoras. A produção de milho baixou 92%, do feijão 90%, mandioca 50% e da castanha 75%. Até a cana-de-açúcar, no litoral, sofreu os revezes da estiagem com queda de 30%, explica o secretário. Ele cita o caso de uma grande usina que produzia 1,8 milhão de toneladas/ano e que em 2012 reduziu em 30% a safra que foi para 1,2 milhão de tonelada com antecipação da colheita este ano para janeiro.

Otimista, José Simplício de Holanda aposta em boas chuvas baseado nos prognósticos meteorológicos que apontam precipitação pluviométricas moderadas de até 600 mm. Em ano de bom inverno, como são consideradas as quadras chuvosas no RN por regiões, as precipitações médias chegam a 800 mm anuais. As chuvas, anualmente, começam pelo Oeste em meados de fevereiros e no litoral, em maio.

Quebra na safra de caju e de castanha chega a 75% 


Uma das primeiras plantações a sofrer os efeitos da seca no Rio Grande do Norte foi a do caju, afetando também a criação de abelhas, que é feita de forma consorciada. Em 2012, em números estimados, a queda geral na produção de castanha e caju deve ficar entre 70% e 75%.

Sem água, o cajueiro não floresce e sem flor, as abelhas debandam das áreas de plantio. As duas situações causam prejuízos na produção de castanha, caju e mel de abelha. Na seca severa de 1993, a produção caiu 80% por isso, o secretário de Agricultura do RN, José Simplício de Holanda, espera os mesmos índices para 2013 como reflexo da falta de chuvas em 2012. “O sensor do caju é a água na folha”, frisou o secretário. Ele acredita que a queda seja maior do que apontam as estimativas.

O Rio Grande do Norte, com 120 mil hectares, é o terceiro no Brasil em cajueiral, área plantada com produção de caju e castanha. Fica atrás do Ceará (400 mil hectares) e do Piauí (180 mil hectares). É uma atividade que depende essencialmente do regime de chuvas, explicou o secretário.

Em 2009, o bom inverno com chuvas médias de 800 mm anuais, produziu a boa safra de 50 mil toneladas da castanha, em 2010 não foi boa e chegou perto de 30 mil em 2011. O Estado, é o segundo produtor nacional de castanha. De acordo com o secretário, em 2012, auge da atual estiagem, a safra de castanha não ultrapassou as 15 mil toneladas.

A produção de pedúnculo, o fruto, é sempre 9 vezes ao da castanha. Ou seja, não deve chegar às 135 mil toneladas de caju. Muito diferente de épocas com boas chuvas que chega a 450 mil toneladas/ano. Um problema grave é que mais de 75% da fruta é desperdiçada por causa da alta perecibilidade. Em 24 horas, o caju que cai do pé se não for colhido e utilizado é considerado perdido. Há 30 anos a situação era mais crítica. Se perdia 94% da produção do caju.

Em 1994 os produtores reagiram ao desperdício com a introdução de novas tecnologias e o grau de utilização aumentou desde então, 1% ao ano. José Simplício de Holanda, que também é plantador de caju, disse que o setor trabalha para que o desperdício chegue a 50%.

A indústria aproveita somente 6% da produção do pedúnculo para sucos. Por ano, a indústria no Nordeste processa 120 mil toneladas de caju para suco in natura. No RN, a concentração dessa produção se concentra principalmente nos municípios de Portalegre, Apodi, Itaú, Serra de Santana, Lagoa Nova, Jacanã.

O caju de mesa, como é chamada a venda para consumo doméstico, chega a apenas 2%. Para esse setor são destinadas as frutas maiores e mais bonitas e entre 15% e 17% da produção vai para ração animal. “O filão está aí”, comentou o secretário. De acordo com ele, o aproveitamento do bagaço pode servir de complemento na alimentação do gado. Por experiência própria, ele disse que desde 1995 utiliza o caju como ração animal e, mesmo com a seca do ano passado, ainda tem 100 toneladas de caju para ração de seu rebanho.

A estiagem de 2012 fez aflorar um problema grave do cajueiral no Rio Grande do Norte: a idade das plantações, que chegam a ter 40 a 45 anos em média. Em Serra do Mel, no Oeste, onde há pés com mais de 70 anos, a área plantada de caju é de 30 mil hectares, um quarto de todo o RN. Essa é a média de idade das plantas que sofrem os efeitos da estiagem com maior rapidez e o cajueiro velho é o que mais morre em época de seca severa. Um dos projetos do Governo, anunciou o secretário, é a renovação da área plantada de cajueiro.
MEL
De fácil cultura e alta resposta na produção, o mel de abelha italiana, a mais comum no RN, está em baixa por causa da seca. Em 2009, a produção chegou a 1.950 toneladas e 2012 caiu para entre 100 e 150 toneladas.

“O enxame (as abelhas) terminou indo embora”, constatou José Simplício de Holanda. Sem flor e sem água não tem abelha e, consequentemente, mel some. Por isso, explica, são necessárias cada vez mais medidas de convivência porque a estiagem é um fenômeno cíclico.

Pelos dados meteorológicos, em 8% dos anos há seca e em 10%, a quantidade de chuvas é excessiva. Se não houver um preparo para as duas situações sempre haverá um descompasso entre os fenômenos naturais e a produção no campo, situa o secretário.
Sem cajueiros, apicultores não podem produzir

No Sítio Largo II, a 6 km da área urbana de Apodi, no Alto Oeste, o produtor Francisco Sobrinho de Souza, 57, conta prejuízos. Perdeu 20% do rebanho bovino e o verde da plantação de caju virou cinza apagando a produção de mel e castanha. 
Francisco Sobrinho de Souza tem 6 mil pés de caju em 40 hectares. Perdeu 40% por causa da seca mas disse que o restante vai dar para recuperar se começar a chover agora em março. Sua produção anual de castanha era de 300 sacas de 60kg cada. Este ano, só conseguiu tirar dois sacos.

Por causa da falta de chuvas o apicultor no ano passado, em maio e junho, viu as abelhas sumirem de suas colmeias. Produzia 10 mil quilos de mel por ano que vendia a R$ 2,50 o quilo. Em 2012 foram 400 quilos e este ano, não tirou nada de suas colmeias.

Perto dali, no Sítio Largo, o apicultor Raimundo Torres da Silva, 48, também lamenta sua sorte. O tempo seco e sem água desde 2011 espantou as abelhas de seu apiário. Naquele ano, sua produção foi de 3 mil quilos de mel, em 2012 de 1.027 quilos e este ano, zero. “A abelha italiana vai embora porque não tem floração (no cajueiro)”, disse o apicultor que mostrou suas 46 colmeias.

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