As
grandes empresas brasileiras estão desperdiçando muitos recursos na promoção de
seus produtos, e, ao mesmo tempo, perdendo inúmeras oportunidades de negócios,
por desconhecerem a dinâmica dos mercados regionais do Brasil. Essa dinâmica
depende de como evoluem, no médio e no longo prazo, três vetores fundamentais
para cada região: o tamanho da população; o nível de produtividade geral; o
padrão de distribuição de renda e de riqueza.
Usualmente,
quando têm de alocar seus escassos recursos em publicidade ou em investimentos
entre os diferentes municípios e regiões do país, as empresas são influenciadas
por fatores casuísticos e aleatórios, tais como: o marketing político de
estados e municípios, que muitas vezes vendem uma imagem distorcida de suas
realidades econômicas e sociais; indicadores econômicos macrorregionais, que
não espelham as diversidades locais e microrregionais; sinalizações da eventual
expansão fortuita de mercados, que se realizam apenas no curto prazo, etc.
Ficam, pois, expostas a quatro armadilhas: regionalizações desfocalizadas;
ciclos de negócios regionais não sustentáveis; vulnerabilidades crônicas diante
dos impactos da globalização econômica e financeira; políticas redistributivas
de expansão limitada.
Em
primeiro lugar, constata-se que, lado a lado com a vigorosa redução dos
desequilíbrios de desenvolvimento entre as cinco macrorregiões brasileiras
desde o início dos anos 1970, ocorreu também um aprofundamento dos
desequilíbrios dentro de cada macrorregião e da maioria dos estados. Um
exemplo: o Centro-Oeste participava, em 1975, com 3,6% do PIB brasileiro,
pulando para 7,4%, em 2003. Grande parte desta expansão vem ocorrendo em
atividades do agronegócio em
Mato Grosso , onde, entretanto, dos 141 municípios, cerca de
100 tinham um PIB per capita inferior à média do PIB per capita brasileiro.
Assim, um olhar microscópico para o interior da realidade do Centro-Oeste, como
de qualquer macrorregião ou estado, poderá identificar áreas ou mercados em
expansão, áreas em decadência, áreas economicamente deprimidas. Essa
diversificação passa a exigir maior focalização sobre quais seriam as áreas de
mercado mais apropriadas para definir as estratégias de marketing e de
investimentos em cada macrorregião ou estado.
Em
seguida, observa-se que cada base econômica dominante em diferentes regiões do
país tem capacidade de gerar ciclos de negócios com características específicas
e diferenciadas. Exemplos ilustrativos são as atividades de uso predatório dos
recursos naturais não-renováveis em municípios onde um ciclo curto de
prosperidade pode gerar ilusões sobre a emergência de novos mercados. Esses
ciclos curtos ocorreram, por exemplo, nos municípios do Leste do Brasil com a
exploração predatória da Mata Atlântica nos anos 1960 e 1970, e estão
ocorrendo, atualmente, num grande número de áreas da Amazônia cuja prosperidade
se faz à custa da destruição de sua biodiversidade.
Em
terceiro lugar, registram-se os rebatimentos espaciais das políticas
macroeconômicas que acabam distribuindo custos e benefícios diferenciados entre
municípios e regiões do país em função, principalmente, das características
estruturais de seus subsistemas econômicos. Neste sentido, a desregulamentação
do comércio exterior brasileiro vem gerando custos sociais, em termos de
redução de emprego e renda, nas localidades onde predominavam atividades de
baixo nível de competitividade sistêmica, e benefícios líquidos para aquelas
com maior potencial exportador que absorveram adequadamente os choques do
processo de globalização.
Finalmente,
áreas de mercado ilusórias podem emergir de políticas sociais compensatórias,
cuja expansão pode não se sustentar do ponto de vista fiscal no longo prazo,
por causa de seu custo de oportunidade econômica em termos do sacrifício dos
indispensáveis investimentos públicos em infra-estrutura econômica, ou por
causa de seu conflito político com os poderosos interesses do sistema
financeiro em busca de incessantes ganhos reais sobre a rolagem da dívida
pública mobiliária do governo federal. É, por exemplo, a situação da recente
expansão de mercados regionais do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, que se
apóia em volumosas e crescentes transferências governamentais de recursos para
as famílias de baixa renda, com limitadas perspectivas de crescimento no longo
prazo.
Ora,
nesta multiplicidade de experiências da dinâmica regional, as empresas que
distribuírem seus escassos recursos materiais, humanos e institucionais entre
municípios e regiões do país num quase vôo cego, certamente tornar-se-ão
vulneráveis e instáveis numa economia que se tem tornado cada vez mais exposta
à concorrência internacional.
Fonte
HADDAD, PAULO R. Os mercados regionais. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=323726>.
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