TRIBUNA DO NORTE
Diego Vale - da Agência Sebrae-RN
Caicó - A seca que já dura dois anos no Rio Grande do Norte tem causado prejuízos em diversos setores da economia, principalmente agricultura e pecuária. A diminuição da oferta do leite tem afetado diretamente a produção de queijos e laticínios no Seridó, região que detém a maior bacia leiteira do estado. Ainda sem expectativa de chuvas, o sertanejo se preocupa cada vez mais com o nível dos reservatórios e a possibilidade de não criar pasto para os rebanhos, o que deve agravar mais ainda a mortandade das vacas.
Para se ter uma dimensão da situação, a baixa produtividade de leite afetou uma das maiores produtoras de laticínios da região, a Cooperativa de Energia e Desenvolvimento Rural do Seridó (Cersel). Situada em Currais Novos, a cooperativa tem sido uma das prejudicadas com a queda na produção do leite.
Segundo o secretário da Cersel, Mariano Coelho, a queda na produção de leite na região chegou a 40%, em relação à oferta de 2011. Atualmente, a Cersel está beneficiando apenas 15 mil litros de leite por dia, uma produção bem abaixo da capacidade diária do parque industrial de laticínios, que é de até 70 mil litros de leite.
Efeitos
A maior parte da matéria prima usada na cooperativa é adquirida de 130 pequenos produtores dos nove municípios do Seridó. A Cersel normalmente produz queijo de manteiga, minas frescal, minas padrão, de coalho, ricota, requeijão cremoso, bebidas lácteas, iogurte de diversos sabores e manteiga, além de pasteurizar o leite, mas agora parte das atividades está comprometida. “Com a redução da oferta de leite, a cooperativa suspendeu a produção do queijo mussarela, bem como o fornecimento para o Programa do Leite do Governo do Estado e para o Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal, que representavam uma demanda diária de 10 mil litros de leite”, explica Mariano Coelho.
A crise não afeta apenas os grandes. Pequenas queijeiras artesanais da região também passam pela escassez de leite e, consequentemente, redução da produção de queijos.
Para driblar a diminuição da oferta de leite, o produtor Jardel Dantas passou a comprar o produto também em Janduís, no médio-oeste potiguar. Antes da estiagem, o Jardel abastecia a queijeira com o leite produzido na zona rural de Caicó e São João do Sabugi. Graças aos novos fornecedores, a queijeira manteve sua produção. Atualmente, a queijeira administrada por Jardel Dantas produz uma tonelada de queijo por dia, a partir do beneficiamento diário de 10 mil litros de leite.
As alternativas para retomar a produção de derivados de leite na região serão discutidas durante o XI Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados (Enel), que começa na próxima terça-feira (4), no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim (RN).
Criação de caprinos também é afetada
Sandra Monteiro - da Agência Sebrae-RN
Mossoró - A longa estiagem que se estendeu no Semi-Árido nordestino também atingiu a criação de caprinos, reduzindo o rebanho em mais de 50%.
A criação de caprinos enfrenta ainda outras dificuldades, especialmente no que diz respeito à aceitação da carne no mercado.
Apontada como alternativa viável diante dos longos períodos de estiagem que atingem o semiárido nordestino, a atividade ainda apresenta possibilidades pouco exploradas no Rio Grande do Norte e também será discutida durante o Enel.
Na Região Oeste do estado, onde se concentra mais da metade dos cerca de 1 milhão de cabeças do rebanho estadual, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2011, a produção de derivados do leite de cabra se configura como um mercado praticamente inexplorado. Praticamente 100% da produção média diária de 12 mil litros de leite caprino potiguar é destinada ao Programa do Leite.
Para estimular criadores e pequenas cooperativas na produção de produtos derivados, o tema “Laticínios de leite de cabra” será abordado durante debate no dia 8 de junho, dentro da programação do Enel.
No Assentamento Nova Descoberta, localizado na área da chapada do município de Apodi, Natanael Almeida é um dos poucos criadores de caprinos que se dedica à produção leiteira. Mesmo assim, os cerca de 120 litros de leite produzidos diariamente são comercializados junto a pequenas indústrias de beneficiamento da região. “A gente não produz nada aqui. Todo o leite que tiramos é vendido para ser beneficiado e depois comprado pelo governo. Dá mais lucro para a gente. A gente não tem como produzir, tem que ter equipamentos e é tudo caro”, esclarece.
A explicação para falta de um melhor aproveitamento do leite de cabra como matéria prima para a composição de produtos como queijo, rapadura, iogurte, doces e até licor pode estar também na ainda baixa aceitação dos produtos derivados do leite de cabra pela população. “Além do investimento alto, a gente não fabrica nada porque as pessoas não se acostumaram a comer produto com leite de cabra. Acham que tem cheiro ruim”, diz o criador.
“O mercado governamental ainda é muito atrativo, cerca de 90% da produção é pasteurizado destinado ao Programa do Leite. Existem poucas iniciativas, como em Currais Novos, onde o leite recebido dos produtores é destinado à produção de queijos de coalho”, explica Vamberto Torres, gestor do Projeto Aprisco do Sebrae-RN, responsável pela capacitação de cerca de 120 caprinovinocultores no estado.
Encontro vai apontar soluções para atividades
As alternativas para retomar a produção de derivados de leite e a criação de caprinos serão discutidas durante o XI Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados (Enel), que acontecerá entre os dias 4 e 8 de junho, no Parque de Exposição Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. O evento é promovido pelo Sebrae no Rio Grande do Norte e Associação Norte-rio-grandense de Criadores (Anorc), com apoio de diversos parceiros. Para os interessados em participar do encontro, as inscrições estão sendo feitas pela internet, no site http://enel.rn.sebrae.com.br/.
A expectativa é que o encontro receba um público de até 16 mil pessoas em função da programação de palestras, cursos, minicursos, painéis, mesas redondas, debates, encontros e estudos de casos. Serão tratados temas, como morfologia para caprinos e ovinos leiteiros, inovação tecnológica nas propriedades rurais, fabricação de iogurte e bebidas lácteas, fabricação de queijo de minas frescal, utilização da palma forrageira, pragas e doenças que afetam a palma, melhoramento genético de ovinos e caprinos, ordenha higiênica, entre outros.
A programação técnica é um dos pontos fortes do Enel , que, pela terceira vez, é realizado no estado. Os cursos e minicursos na área de derivados do leite serão ministrados pelo corpo técnico da maior escola de laticínios do Brasil, o Instituto Cândido Tostes, situado em Minas Gerais.
Os participantes do encontro contarão também com vitrine de lácteos e concurso de queijos regionais, exposição de máquinas, equipamentos, serviços, insumos e embalagens. Além disso, será realizado também o torneio leiteiro com as raças bovinas de Girolando, Gir, Holandês, Sindi, Guzerá e Mestiça, assim como exposição, julgamento e leilão de animais, tanto bovinos quanto equinos, caprinos e ovinos.
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