Por onde andam os desenvolvimentistas?
Por Carlos Magno Lopes
Os
desenvolvimentistas representam a quase totalidade dos pensadores econômicos do
atual governo. A penúltima doutrina econômica produzida na América Latina é o
estruturalismo cepalino, cuja herança ajuda a explicar a enorme dificuldade
dessa região em superar o fantasma do atraso e do subdesenvolvimento. O
desenvolvimentismo, neste contexto, parece ser o estado da arte do pensamento
econômico contemporâneo latino americano, já consagrado no Brasil ou pelo menos
pelo governo brasileiro. Em outros rincões do mundo, principalmente nos países
desenvolvidos (os que deram certo), essa escola de pensamento ainda é pouco
conhecida. Isso talvez se deva ao egocentrismo intelectual norte-americano e
europeu. Com efeito, o dicionário Palgrave de economia sequer registra tal
doutrina. Isso talvez mereça um protesto.
Para tentar corrigir essa
injustiça histórica e, abusando da minha capacidade de síntese, anuncio os
postulados pétreos do desenvolvimentismo brasileiro (existem versões argentinas,
bolivianas, equatorianas e venezuelanas, mas o número de adeptos tende a
crescer):
I – O crescimento econômico é preferível à inflação baixa e
controlada, sempre. Quem discordar não tem sensibilidade social.
II – O
mercado é burro e não aprende nunca. Só o governo é inteligente, por isso faz
exatamente o contrário do que diz fazer, já que ninguém perceberá.
III – O
intervencionismo estatal não resulta em insegurança jurídica.
IV – O Banco
Central só pode aumentar a taxa de juros quando a inflação se generalizar.
Corolário: aumentar os juros é dar dinheiro aos banqueiros.
V – A inflação no
Brasil é sempre sazonal e ampliada pela ação dos especuladores. A Lei da Oferta
e da Demanda é um detalhe.
VI – A taxa de câmbio é flutuante, mas nem
tanto.
VII – Só é possível financiar o desenvolvimento através da tributação
e dos empréstimos do Tesouro.
VIII – Os investimentos são baixos porque os
empresários não sabem reconhecer boas oportunidades de negócios, quem sabe é o
governo.
IX – Em caso de dúvidas, cabe ao Ministro da Fazenda explicar o
insondável.
O décimo mandamento fica a critério do leitor não
desenvolvimentista, uma vez que os desenvolvimentistas desapareceram.
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