Apesar
de a Polícia Federal (PF) estar investigando um rombo de R$ 400 milhões em
verbas públicas administradas pelo Ministério do Trabalho (MT), tendo ouvido em
depoimento coercitivo o ex-ministro interino e então secretário executivo, o
número dois do órgão, Paulo Roberto Pinto, o ministro Manoel Dias continua no
comando da pasta. Para tanto, logrou convencer a presidente Dilma Rousseff em
encontro de duas horas e derrotar correligionários que, em reunião da Executiva
do Partido Democrático Trabalhista (PDT), defenderam a entrega do cargo e o
rompimento imediato com o governo.
Para
ficar no emprego, ele contou com a ajuda providencial do presidente nacional do
partido, Carlos Lupi, que se relaciona com os pedetistas na base do “manda quem
pode, obedece quem tem juízo” e tem um argumento insuperável para não permitir
que a chefe de governo demita o auxiliar: o apoio da legenda ao projeto de
reeleição de Dilma na eleição do ano que vem. No momento, não seria inteligente
abrir mão desse apoio, pois a sucessão poderá não se dar em céu de brigadeiro –
e a presidente não gosta de turbulência. E ninguém no governo está disposto a
oferecer a cabeça do ministro aos adversários. Imaginar que qualquer um desses
possa abrir mão de sua adesão por motivos morais não é, de fato, prova de
sensatez.
Para
amenizar o desgaste que a Operação Esopo da PF poderá provocar no palanque
presidencial, o ministro tomou a providência habitual na atual administração
federal: montou uma comissão para fazer um “pente-fino” nos convênios da pasta
que estão sob suspeita. E encarregou o secretário de Políticas Públicas de
Emprego do MT, Sérgio Vidigal, de coordenar seus trabalhos. Ninguém pode acusar
o ministro Dias de ter nomeado uma pessoa sem experiência no assunto. Quando
era prefeito de Serra (ES), Vidigal assinou um convênio de R$ 4,6 milhões com o
Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), ONG com sede em Belo
Horizonte, apontada como principal beneficiária pelo desvio de dinheiro
público. Firmado em 2008, esse convênio ainda está em plena vigência. Um dos
principais assessores do secretário, Gleide Santos Costa, foi preso na semana
passada em São Paulo em outra operação da PF, a “Pronto Emprego”. Ele teria
favorecido o Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat), ONG denunciada pelo desvio
de aproximadamente R$ 18 milhões. O assessor e os dirigentes da ONG, ligados ao
PDT, teriam usado verbas do MT destinadas a qualificar mão de obra para
financiar a importação e venda de produtos chineses no comércio popular nos
arredores da Rua 25 de Março, em São Paulo.
Mas,
se Vidigal tem assessores no mínimo controvertidos, não se pode acusá-lo de
inabilidade no trato com gente que manda. O “mutirão” chefiado pelo ministro
Dias lembra a “faxina” a que Dilma recorreu em 2011 para afastar o dono da
sigla governista, Carlos Lupi, do mesmo Ministério por suspeita de recebimento
de propinas de ONGs. Lupi, nomeado originalmente pelo antecessor e padrinho de
Dilma, Lula, foi substituído por Brizola Neto, descendente do fundador da legenda,
Leonel Brizola, e que agora foi aconselhado a não meter o bedelho nas relações
entre o PDT e a reeleição de Dilma.
É
difícil de acreditar que alguém que participou da fraude seja a pessoa mais
indicada para acabar com ela e punir os fraudadores, à sombra de Lupi, que,
demitido do MT, é quem manda lá. Se tudo segue igual, por que a farsa e a
fraude teriam fim?
Publicado no Estadão deste sábado
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