AUTOR:
Américo Ramos dos Santos, IN: Análise Social, vol. XV (59),
1979-3.º, 611-653.
I —INTRODUÇÃO
Durante duas décadas, os países industrializados
capitalistas, designadamente os da Europa ocidental, registaram uma evolução
económica sem precedentes e sem grandes possibilidades de repetição: elevados
ritmos de crescimento do produto, acompanhados de baixas taxas de desemprego e inflação
e sem grandes perturbações ao nível do equilíbrio externo.
Este texto pretende fixar as condições e os factores que
permitiram tal evolução, como foi concebida a política económica durante os
anos 50-60, quais os principais tipos de política utilizados e, finalmente,
qual a concepção de política de emprego então dominante, suas relações com a
política económica e instrumentos mais frequentemente manipulados.
Num outro texto, a divulgar noutra oportunidade, incluiremos
a análise das condições de ruptura no modelo dos anos 50-60, evolução da
situação económica europeia no post-crise, incidências na política económica e
na política de emprego e, finalmente, as perspectivas que se abrem ao nível das
estratégias para os anos 80.
Convirá sublinhar que a caracterização do modelo dos anos
50-60 se faz em termos globais, podendo, porventura, dar a ideia de que o
modelo funcionou sem problemas. Houve perturbações, evidentemente, só que elas foram
normalmente de natureza cíclica, de curta duração e de reduzido efeito. A sua
repercussão fez-se sentir principalmente através de pequenas oscilações do
ritmo de crescimento ou do nível de evolução dos preços.
A especulação sobre stocks quando da Guerra da
Coreia, o boom do investimento em 1955-57, a recessão britânica de
1956-57, a perturbação alemã de 1964 a 1967 (inflação «intolerável» em 1964 e
1965, quando a taxa de inflação subiu a 3,5%! e depois o produto estagnou
durante um ano), as pressões inflacionistas em Itália em 1963-64, as flutuações
da economia francesa em 1952-58-63, foram sempre considerados simples acidentes
de percurso, ultrapassáveis com o arsenal de instrumentos ao dispor da política
económica. Não admirará, portanto, que a política
económica se tivesse reduzido basicamente à política conjuntural.
A análise do comportamento das principais variáveis
económicas entre o final da guerra e os meados da década de 60 permite, porém,
chegar à conclusão de que o lado fraco do «triângulo de Sultan» se situava na
articulação crescimento-inflação-equilíbrio externo. Fraqueza que no período 1965-73
se irá acentuando, para amadurecer, finalmente, em plena crise do petróleo.
No relatório McCracken podemos ler: «[...] a expansão
económica que se seguiu à segunda guerra mundial está longe de ter sido um
fenómeno passageiro.» Será?
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