sábado, 21 de setembro de 2013

Política económica e política de emprego: o modelo dos anos 50-60

AUTOR:
Américo Ramos dos Santos, IN: Análise Social, vol. XV (59), 1979-3.º, 611-653.

I —INTRODUÇÃO
Durante duas décadas, os países industrializados capitalistas, designadamente os da Europa ocidental, registaram uma evolução económica sem precedentes e sem grandes possibilidades de repetição: elevados ritmos de crescimento do produto, acompanhados de baixas taxas de desemprego e inflação e sem grandes perturbações ao nível do equilíbrio externo.

Este texto pretende fixar as condições e os factores que permitiram tal evolução, como foi concebida a política económica durante os anos 50-60, quais os principais tipos de política utilizados e, finalmente, qual a concepção de política de emprego então dominante, suas relações com a política económica e instrumentos mais frequentemente manipulados.

Num outro texto, a divulgar noutra oportunidade, incluiremos a análise das condições de ruptura no modelo dos anos 50-60, evolução da situação económica europeia no post-crise, incidências na política económica e na política de emprego e, finalmente, as perspectivas que se abrem ao nível das estratégias para os anos 80.

Convirá sublinhar que a caracterização do modelo dos anos 50-60 se faz em termos globais, podendo, porventura, dar a ideia de que o modelo funcionou sem problemas. Houve perturbações, evidentemente, só que elas foram normalmente de natureza cíclica, de curta duração e de reduzido efeito. A sua repercussão fez-se sentir principalmente através de pequenas oscilações do ritmo de crescimento ou do nível de evolução dos preços.

A especulação sobre stocks quando da Guerra da Coreia, o boom do investimento em 1955-57, a recessão britânica de 1956-57, a perturbação alemã de 1964 a 1967 (inflação «intolerável» em 1964 e 1965, quando a taxa de inflação subiu a 3,5%! e depois o produto estagnou durante um ano), as pressões inflacionistas em Itália em 1963-64, as flutuações da economia francesa em 1952-58-63, foram sempre considerados simples acidentes de percurso, ultrapassáveis com o arsenal de instrumentos ao dispor da política económica. Não admirará, portanto, que a política económica se tivesse reduzido basicamente à política conjuntural.

A análise do comportamento das principais variáveis económicas entre o final da guerra e os meados da década de 60 permite, porém, chegar à conclusão de que o lado fraco do «triângulo de Sultan» se situava na articulação crescimento-inflação-equilíbrio externo. Fraqueza que no período 1965-73 se irá acentuando, para amadurecer, finalmente, em plena crise do petróleo.

No relatório McCracken podemos ler: «[...] a expansão económica que se seguiu à segunda guerra mundial está longe de ter sido um fenómeno passageiro.» Será?


MAIS AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário