Editorial do ESTADÃO comenta
a recente elevação na taxa de juros para 9,5% e a previsão é que logo
chegue a 10%.
Uma nova alta de juros, desta vez para
10%, virá sem nenhuma surpresa, ainda este ano, se a inflação continuar com o
vigor observado nos últimos meses. O aumento para
9,5% anunciado na quarta-feira à noite pelo Banco Central (BC) foi um
complemento perfeito para a nova aceleração do índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), divulgada no começo da manhã. Em setembro, o indicador, tomado
como referência para as metas de política monetária, subiu 0,35%, continuando a
ascensão de agosto, quando saltou para 0,24%, depois da baixíssima taxa de
0,03% em julho.
A mágica dos índices controlados
politicamente perdeu o efeito. O governo federal tentou maquiar a
inflação forçando a redução de tarifas de eletricidade e de transporte público.
Esses truques complementaram outras medidas de ocasião, como as desonerações
fiscais adotadas como estímulo ao consumo nos últimos anos.
Com esses truques e com a acomodação
parcial das cotações de produtos básicos, a taxa mensal de inflação, medida
pelo IPCA, declinou de 0,86%, em janeiro - um ritmo desastroso para 0,03%, em
julho. Os indicadores perderam impulso por algum tempo, mas os fatores
inflacionários, a começar pelo gasto público federal, não foram
eliminados. O nível de emprego continuou elevado, em parte porque a indústria
evitou os custos de demissões e recontratações. Os salários reais permaneceram
elevados e a expansão do crédito ao consumidor foi mantida.
O sensível desajuste entre a demanda de
consumo e a oferta de bens industriais nunca diminuiu de forma significativa
nesse período. Parte da demanda excedente resultou em aumento das importações,
com a consequente erosão do saldo comercial, porque a indústria continuou
incapaz de competir com produtos estrangeiros, no exterior e no mercado
interno.
Além disso, a persistência da inflação
real foi sempre evidenciada pela evolução dos preços dos serviços. Nos 12 meses
terminados em setembro esses preços ainda subiram 8,7%, muito além dos 5,86%
do IPCA completo. Mesmo esses 5,86% são muito altos por qualquer
padrão razoável e muito distantes da meta oficial de 4,5%.
Outros indicadores também apontam para
um cenário desconfortável. O núcleo de inflação, calculado com o
expurgo de alguns itens normalmente mais instáveis, passou de 0,41% em agosto
para 0,46% em setembro e subiu para 6,1% em 12 meses, segundo pesquisa do
Goldman Sachs.
As projeções de mercado indicam escassa
confiança numa redução sensível dos aumentos de preços neste ano e no
próximo. A pesquisa Focus do BC indicou, na semana passada,
expectativas de 5,82% para 2013 e de 5,93% para 2014. Em relação a 2014
houve uma ligeira melhora, Na semana anterior, a taxa indicada foi de 5,97%.
O próprio BC projeta números bem acima
da meta por um longo período. As estimativas são de 5,8% para este ano, 5,7%
para 2014 e 5,5% para os 12 meses terminados no terceiro trimestre de 2015.
Dentro de dois anos, o aumento do IPCA continuará um ponto de porcentagem acima
do alvo oficial.
O Relatório de Inflação do BC contém, no
entanto, uma demonstração de otimismo: a política fiscal, até há pouco descrita
como expansionista, tende a tornar-se neutra em termos de impulso
inflacionário. A continuação da gastança torna difícil acompanhar essa aposta.
Além do mais, as projeções do BC indicam a permanência, por bom
tempo, da combinação de baixo crescimento com inflação elevada, A
expansão econômica de 2,5% estimada para este ano deve repetir-se nos 12 meses
até o segundo trimestre de 2014. As projeções para as contas
externas terminam em dezembro de 2013, com superávit comercial de apenas U8$ 2
bilhões, déficit em conta corrente de US$ 75 bilhões e investimento estrangeiro
direto suficiente para cobrir só uma parte do buraco. Mantidas essas estimativas, o
cenário de pesadelo ficaria quase completo, com inflação alta, crescimento
pífio e balanço de pagamentos desarrumado. Faltaria a taxa de desemprego,
ainda confortável.
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