Todos os dias, somos desafiados a tomar decisões. Todos os dias, somos dotados de recursos e limitações. Todos os dias, decidimos como tomar a melhor decisão considerando a limitação que nos é imposta. Tais decisões não são necessariamente econômicas.
Você está em uma festa e conhece uma linda mulher, você gostou dela, mas seu amigo avisa que ela é difícil de ser conquistada. Sua decisão em tentar se aproximar levará em conta seu desejo pela mulher e pela sua capacidade de conquista. Se você sentir que sua capacidade de conquista é baixa, provavelmente optará por não prosseguir.
O que motivaria a escolha daquela mulher em especial? Por que aplicar um esforço em uma “mulher difícil”, quando possivelmente existem outras mulheres que se encantariam com suas características por um esforço menor?
Assim como em nosso exemplo, as pessoas tomam decisões considerando ainda o valor que algo possui. No caso da economia, a teoria do valor é muito mais do que uma complexa discussão teórica e presa aos livros didáticos e ao ambiente acadêmico.
A relação entre a teoria do valor e a ideologia política é bastante clara no marxismo, cuja base é a teoria do valor-trabalho. Segundo essa teoria, o valor de uma mercadoria depende da quantidade de trabalho necessária para produzir esse bem. Uma vez que esta premissa é adotada, o resto do edifício intelectual que promove o socialismo segue quase que automaticamente.
Não é por um mero detalhe que os primeiros grandes economistas debruçaram-se sobre este tema. Adam Smith afirmara que um bem teria valor apenas quando esse fosse produzido pelo trabalho humano e analisou a distinção do valor de uso (utilidade) e valor de troca (preço de mercado). David Ricardo buscou sintetizar o valor de um bem como a quantidade de trabalho necessária para produzi-lo. Nessa linha, seguimos com a definição de valor por Karl Marx, que defendeu, grosso modo, que o valor de um bem é definido pelo valor do trabalho socialmente necessário para produzi-lo.
Com o advento da teoria neoclássica, pensou-se em valor como algo subjetivo. O valor de algo, portanto, dependeria de uma análise particular de cada agente. Os teóricos marginalistas sofisticaram esse pensamento, considerando que os agentes sempre avaliam a satisfação que um bem proporciona através da unidade adicional. Preço e valor, nesse aspecto, não precisam ser distinguidos, pois fazem parte da mesma natureza.
O fundador da Escola Austríaca da Economia mostrou em sua obra prima que o valor econômico não está embutido no próprio bem. A origem do valor não é trabalho, mas o valor é o resultado do serviço que um bem é capaz de fornecer para o consumidor. Assim o valor não está dentro do bem, mas depende da ativa avaliação humana da utilidade do bem.
Vamos à prática novamente! Você está em uma praia, degustando um lanche e bebendo um refrescante suco natural. Mesmo que o lanche e o suco custem muito mais que a mesma refeição em outro local e ainda mais caro que o preço de seus ingredientes, porque você tomou esta decisão?
Se você bem lembrar, a curva de demanda é derivada das curvas de indiferença. Por sua vez, essas curvas são definidas a partir do conceito de utilidade, ou seja, da satisfação obtida pelo agente ao consumir um determinado bem. Desse modo, o preço do lanche na praia foi obtido através das forças de oferta e demanda. Se assim ocorreu, a satisfação em consumir um lanche na praia é superior ao consumo de lanche em outro lugar, ou ainda, à produzir o lanche em sua própria residência.
Ocorre que essas análises podem ser prejudicadas quando estamos diante de um mercado com a existência de uma intervenção estatal. Os livros de micro e macroeconomia estão repletos de exemplos das consequências das políticas de preços máximos e mínimos. Se o Estado estipula preços máximos, a consequência mais comum é a escassez de produtos. Vejam os exemplos históricos brasileiros (nos anos 80) e venezuelanos (atualmente).
Vamos imaginar agora que você seja um empresário. Sabemos que no mercado de trabalho, as famílias ofertam sua força de trabalho e as empresas demandam esse fator de produção. O resultado das forças de oferta e demanda de trabalho são expressas através dos salários. Em um mercado livre, quando a oferta de trabalho for maior que a sua demanda, os salários reduzem. Quando, porém, a oferta de trabalho for menor que a sua demanda, os salários aumentam.
Em uma economia com a existência de políticas de salário-mínimo, observamos a ineficiência do mercado do fator trabalho. Assim como há escassez de mercadoria quando há estabelecimento de preços máximos, há escassez de postos de trabalhos quando se estabelecem salário-mínimo.
Outro efeito importante causado pelo Estado é a tributação. Sabemos que os tributos quando incidem sobre os bens, seja sobre os consumidores ou empresas, causam efeitos em seus preços de equilíbrio e ineficiência de mercado, pois a economia produz menos a um preço mais elevado.
Vamos considerar, ainda, o efeito da tributação sobre a decisão dos agentes. Ainda supondo que você seja um empresário, você bem sabe que sobre os salários pagos aos seus funcionários incidem tributos. Não é incomum ouvir que o valor real de cada funcionário chega próximo ao dobro do valor do salário. O empresário precisa pagar além do salário, os diversos encargos que a lei brasileira exige. Por outro lado, o funcionário nunca recebe o valor do salário, pois possui descontos impostos pela lei.
Vamos imaginar que uma secretária atribua ao seu trabalho um valor de $ 800,00 e seja esse o valor do salário. Ao ser contratada ela ganha $ 720,00 líquidos e para seu patrão ela custa $ 1.200,00. Do ponto de vista da funcionária, ela está recebendo menos que o valor que considera correto pelo seu trabalho. Do ponto de vista do empresário, ele está pagando mais que o valor do trabalho da secretária. A empresa poderia contratar mais funcionários caso o valor pago de $ 800,00 fosse efetivamente o custo da funcionária.
Como falamos desde o início, os agentes atribuem valor aos bens e decidem se consomem ou não baseados no preço do referido bem. O empresário, ainda que o salário seja de $ 800,00, paga um custo efetivo de $ 1.200,00. Desse modo, quando demanda a força de trabalho da secretária, espera que ela tenha características de um trabalhador que vale $ 1.200,00 e não $ 800,00
A compreensão de princípios tão básicos como a teoria do valor é imprescindível para a compreensão de conclusões importantes sobre os fenômenos da economia. Evidentemente, que as encontradas no presente texto podem ser facilmente refutadas utilizando-se outros fundamentos.
Por: Daniel Simões Coelho
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